Elefante morre entalado com avestruz no rabo
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Rodrigo Leao
15 de abril de 2011 - 12h30
O Marcelo Camelo, que na minha opinião dá as melhores entrevistas da atualidade, mandou a seguinte pérola em recente entrevista à O Globo: “O portal tem a notícia do elefante que morreu entalado com um avestruz no rabo e procura o que no meu disco pode entrar ali do lado.”
Ao contrário do que pode parecer, o Camelo não está criticando a opção sexual do elefante. Ele está falando sobre como os novos meios estão afetando as nossas mensagens. Isso mesmo, a minha, a sua, a do elefante e a do camelo. Esta falando de como o fim do critério jornalístico (“All the news thats fit to print” dizia o NYT) está abrindo espaço para a pornonotícia: aquela que atiça nossos instintos primatas com pegadinhas sem sentido e que esvaziam nosso conhecimento dos fatos realmente relevantes para nossas vidas.
No mesmo dia que li essa pérola, ao abrir a capa do UOL me deparei com as primeiras duas opções que me eram oferecidas: assistir ao vídeo de crianças sendo chacinadas em Realengo ou saber mais sobre como uma onda levou os pertences de Luana Piovani (talvez um óculos, um protetor solar e um papel de seda Colomy).
Interessante que para defender um disco de amor singelo, o ex-Hermano tenha de ir tão longe. O repórter não entende como um cara que fez hits pop não se interessa pela dominação Global. O cantor tenta explicar que suas músicas são pra poucos, e que é isso mesmo que ele quer. Parece impossível para o repórter entender isso. Mas a gente pode tentar.
Camelo já está se comunicando em narrowcasting (a banda estreita do interesse profundo) e por isso seu disco se contrapõe ao último golpe do Broadcasting (os grandes portais que usam os click throughs pra medir as notícias mais populares e destacá-las na edição).
O namorado da Mallu tá tentando falar suave e profundamente com aquelas poucas pessoas que tem sensibilidade pra entender o que ele está dizendo.
O portal está tentando maximizar sua audiência pra vender banners cada vez mais caros. Por isso, qualquer portal que queira se manter no negócio terá de se vulgarizar cada vez mais (a mídia na Internet é feita de estatísticas, não de critério cultural) até o ponto de saturação onde só teremos notícias sobre mineiros presos em túneis, as desventuras do ursinho Knut, as transas da Luana e a espetacularização do crime.
No fundo, o Marcelo Camelo não quer viver num mundo onde o único animal que o público tenha capacidade para apreciar seja o Ratinho.
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