As Marcas De Nossas Marcas

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Ponto de vista

As Marcas De Nossas Marcas


17 de abril de 2011 - 11h13

Roma, Itália.
Encontro das quinze Ogilvys mais criativas do mundo numa sala de reunião que parecia um banho romano.
“Podem começar a desenhar, vocês têm quinze minutos”, disse um inglês barbudo.
A modelo tirou o pano que mal cobria seu corpo (nota 6,5) e fez uma pose.
Peguei um pedaço de carvão e comecei a desenhar.
Deve ser como desenhar peras ou uvas, pensei. Só que, nesse caso, melões.
Enfim.
Quinze minutos depois terminei o desenho.
Dei o máximo, caprichei, pensei em cada linha, em cada curva.
Sem nenhuma instrução do professor, todos automaticamente tentaram desenhar a modelo da maneira mais realista possível.
Afinal, estávamos na terra de Michelangelo e Rafael.
Mas o resultado geral foi apenas médio. Decepcionante.
 

“Agora vamos parar tudo e jogar Pictionary”, disse o professor.
Pictionary é aquele jogo onde duas pessoas desenham algo para seus times e ganha o time que conseguir adivinhar o que é primeiro.
Quinze minutos de muita gritaria depois, paramos para analisar os desenhos.
Traços rápidos, simples, lindos, únicos.
O Mickey são três círculos.
A Torre Eiffel são dois traços.
O David Ogilvy é um cachimbo.
Com a pressão do tempo, não dá para pensar.
Você reage e coloca no papel só as marcas necessárias para comunicar uma ideia.
Você desenha com a emoção e não com a mente.
“Vamos desenhar de novo”, disse o professor, “Só que agora vocês tem quinze segundos.”
A modelo fez outra pose. Olhares desesperados. Será que vai dar tempo?
“14… 13… 12…”
Outra pose.
“Agora com a mão esquerda. 14… 13… 12…”
Outra pose.
“Agora com apenas 7 traços. 14… 13… 12…”
Outra pose. (Quantas poses essa mulher sabe fazer?)
“Agora com os olhos fechados. 14… 13… 12…”
Quanto mais difícil o desafio, mais bonito ficava o traço.
Eram simplesmente marcas no papel que comunicavam o corpo de uma mulher. 

wraps

 

Marcas rápidas, simples, lindas, únicas.
Duas horas depois estava todo sujo de carvão e nunca tinha visto uma mulher nua em tantas poses diferentes.
Todos mostraram com orgulho desenhos muito mais bonitos do que a primeira tentativa.
 

wraps

 

A lição é clara: “Don’t overthink. Let it go.”
Um desenho são apenas marcas que deixamos numa folha.
Essas marcas comunicam nosso estado de espírito, nossa alma, nossas emoções.
Nossos ancestrais deixaram marcas nas paredes das cavernas.
Picasso deixou marcas em telas.
Banksy deixa marcas em muros.
E nós deixamos marcas numa página de revista, num comercial de TV, num site, num cartaz de ponto de venda e, principalmente, na cabeça dos consumidores.
E quais são as marcas que nossas marcas estão deixando?
Marcas desenhadas com ferramentas estratégicas, com keynotes de 200 slides, com quali e quanti.
Marcas que buscam uma perfeição que não existe.
Está na hora de parar tudo e jogar Pictionary.
E depois desenhar um briefing com sete traços.
Criar em 15 segundos.
Produzir com a mão esquerda.
Aprovar de olhos fechados.
No fundo, as agências, os clientes e os consumidores querem a mesma coisa: melhores marcas.

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