Quem precisa de 140 caracteres quando se tem mais de 1000 palavras

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Ponto de vista

Quem precisa de 140 caracteres quando se tem mais de 1000 palavras


27 de abril de 2011 - 8h37

Se houvesse um Facebookólatras Anônimos eu ainda não estaria lá todo sábado a noite nas reuniões, no meio da roda me confessando. Mas que eu ia desacelerar o carro quando passasse na porta pra dar uma sapeada lá dentro, ah isso eu ia. É que eu estou naquele ponto onde nada de errado pode ser creditado ao meu vício. Mas a minha consciência já está com a mão amarela. 

Nunca fui muito de Twitter. Minha desculpa é que eu não queria seguidores na vida, queria amigos. Até que duas semanas atrás comecei a twittar e agora tô gostando, mesmo tendo apenas umas poucas dezenas de seguidores. Comecei a gostar de ser retwitado e o gostinho frenético do vício já começa a se insinuar no canto da boca. Sinto um pequeno tremor nos dedos digitadores.

Tendo seguido a carreira de redator e passado pela W/Brasil (onde fiz muitos anúncios all type do SBT, que o Boni chamava de ‘a TV mais bem escrita do Brasil’) o Twitter pra mim é um negócio irresistível. Depois de 16 anos fazendo títulos de anúncios profissionalmente, aqueles 140 caracteres são uma infinidade de espaço digitável. Ficar fazendo graça sem ter que vender sabonete não só é fácil, como alegra o pessoal. Adoro seguir os bons redatores. Tem muita frase de efeito de alta qualidade sendo atirada aos porcos ali. Mas vai vendo.

Se eu já tava sofrendo com a SDD (síndrome do dispositivo digital) que é como meu amigo Tintin designa a doença das pessoas que como eu são capazes de facebookar durante as refeições, semana passada eu arrumei mais uma sarna digital pra me coçar. O nome dela é Instagr.am. Se você não se cadastrou ainda segue o aviso: vicia.

Uma coisa boa é que se você não tem iPhone, está a salvo de mais esta coqueluche. O Instagr.am é um app que transforma fotos banais em incríveis imagens usando filtros e efeitos similares aos que já tinham popularizado o aplicativo Hipstamatic. Só que sendo uma plataforma relacional, você segue as fotos das pessoas e posta suas próprias. Não só é lindo de se ver como cria uma nova maneira de se comunicar.

O timeline do Twitter é uma série de notícias irrelevantes, interrompido por aforismos geniais, piadas de mau gosto e dicas valiosas. É o mais neurótico dos painéis relacionais.

No Facebook o tempo de redação, reflexão e contribuição é maior. A gente pensa mais antes de postar, afinal, são nossos amigos, não seguidores que vão ler. Isso acaba nos obrigando a ter mais respeito pelo que dizemos ali.

E o Instagr.am é o mais poético dos paredões relacionais. Você é obrigado a entender aquelas imagens com sentimentos mais complexos e ambíguos. Não são notícias. Não são dicas. Não são piadas. Não há nada de necessário sendo postado ali. E por isso mesmo ele cria um contraponto delicioso à neura do Facebook e do Twitter. É relaxante navegar pelo Instagr.am. Sério.

Eu sei. Esse papo tá parecendo daqueles caras que aceleram com uma droga depois tomam outra pra acalmar. Será que sou só eu que estou assim? Será que a SDD vai pegar você também?

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