Marisa Furtado
5 de maio de 2011 - 12h08
Tenho visto coisas bizarras, direto da internet: pegadinhas, cancelamento de reuniões, final de romance, de casamento, sexo, troca de sexo, a vida numa bolha, mentiras verdadeiras, etc. Mas morrer, por não estar conectado à internet, acho que é a primeira vez. Bin Laden foi ingênuo ao se desconectar da plataforma digital. Achou que assim estaria protegido. Ao contrário, ficou muito mais exposto. Sim, porque hoje você tem que constar, ser um número, ser um “ser” do mundo digital, rastreável pela CIA. Louco, né? Virou identificação que nem RG. Se você não está logado em alguma coisa, só pode estar morto, ou bem perto de ser morto.
Acho que este é um dos acontecimentos mais emblemáticos envolvendo a internet e sua importância no século XXI. E não é para menos. No Mundo, o número de usuários de computador vai dobrar até 2012, chegando a 2 bilhões. A cada dia, 500 mil pessoas entram pela primeira vez na Internet (1). A cada minuto são disponibilizadas 35 horas de vídeo no YouTube (2) e a cada segundo um novo blog é criado (3). 70% das pessoas consideram a Internet indispensável (4). Em 1982 havia 315 sites na Internet (5). Hoje existem 174 milhões (6). Somos o 5º país no mundo em número de conexões à internet (7). Hoje a existência de um individuo está validada pelo seu comportamento online. Bom para os negócios e para a comunicação dirigida que cresceu impressionantes 15% em receita no segmento de internet e e-commerce (8) só em 2009. Péssimo para o curso natural da vida. Se você não está “ON”, você é uma anomalia, uma mutação, uma aberração que tem que ser sumida do mapa real, mas no Google, Facebook, Twitter, Orkut, YouTube, você tem que ser encontrado e compartilhado.
A mansão de Bin Laden será eternizada e cobiçada por muito mais gente e tempo do que Graceland, de Elvis Presley. E vai ficar jogada as moscas. Ninguém mais precisa ir até lá, a não ser os vizinhos que estão “passados”. A caça ao fantasma vitimado no falecimento fantástico vai ser muito mais divertida, em alta definição, pistas vindas de todo o planeta, Google Earth etc. As milhões de conjecturas sobre Bin Laden estar morto ou não vão ocupar muito o cyberspace. Enganaram-se as autoridades americanas achando que, jogando o corpo de Bin Laden ao mar, não haveria chance de adoração ao número 1 do terror, não existiria um “mausoléu sagrado”. Obviamente isso logo será feito via internet. Sim, porque na plataforma digital tem maluco para tudo. Até para ficar fora dela e…morrer.
“Para melhorar”, na web as pessoas também ressuscitam e se tornam imortais. Infelizmente, tenho recebido e-mails e notícias nefastas de amigos e colegas de profissão que já se foram, graças a sistemas automatizados. Ou seja, antes era inferno, purgatório e céu. Agora tem a internet no meio. Se você não tiver uma alma santa para fazer seu “fim digital” vai ficar vagando por aí, como Bin Laden, que continuará nos aterrorizando via “cloud”. Assunto enterrado.
Referências: 1.Dell Computers; 2 Youtube; 3.Google Brasil; 4.Synovate; 5.Censo eletrônico americano – Universidade da Califórnia do Sul; 6.VeriSign; 7.Estudo Internet World Stats 2009 – Miniwatts Marketing Group- Consultoria Everis; 8. Indicadores ABEMD/Simonsen Associados – 2009
Marisa Furtado é sócia, vice-presidente e diretora de criação da Fábrica Comunicação Dirigida
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