O departamento de marketing do Deputado Bolsonaro
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Rodrigo Leao
12 de maio de 2011 - 12h14
Foi publicada nos principais portais do País a seguinte notícia: O Deputado Jair Bolsonaro está distribuindo 50 mil cópias de um panfleto contra o plano nacional de defesa dos direitos dos gays em residências e escolas do Rio de Janeiro.
Ora, como todo e qualquer político, o Deputado Bolsonaro está sempre se movimentando para estar presente aos olhos da sua base eleitoral. Independente da qualidade das suas ideias, ele recebeu votos que o tornam representante de um determinado segmento. E seja qual for o segmento – ruralista, industrial, sindical – todo deputado tem de tentar aparecer para a sua base para assim continuar a angariar votos para a próxima eleição.
A maneira mais barata de se fazer isso é o factóide. Uma notícia irrelevante de conteúdo apelativo que os meios de comunicação, que cada vez mais vendem entretenimento mascarado como jornalismo, multiplicam. Eu por exemplo não sabia que havia um plano nacional de defesa dos direitos dos gays, uma causa que eu pessoalmente apoio. Essa boa notícia, é claro, foi pouco ou mal noticiada. Em compensação, já sei tudo sobre o Bolsonaro e suas trapalhadas e polêmicas irrelevantes.
Imagine se o panfleto do Bolsonaro fosse contra os direitos das mulheres com pouca bunda, dos carecas ou dos narigudos. Ninguém publicaria a notícia porque a superlativa idiotice dela cancelaria a necessidade de publicação. Ser ou não ser gay é uma questão biológica. E mesmo que não fosse, que fosse fruto de uma decisão psicológica, alguém daria atenção a um panfleto condenando aqueles que ouvem jazz, dançam lambada ou gostam de ler livros de auto-ajuda?
O fato é que os eleitores do Deputado têm uma opinião divergente das pessoas de maior escolaridade. É um direito deles. A burrice não é crime. É direito dos menos abençoados intelectualmente manifestar suas crenças e exercer sua ignorância em suas vidas limitadas desde que isso respeite os limites da lei e do direito alheio. Democracia é uma coisa linda de longe e fedorenta de perto. Mas é o melhor que temos por enquanto.
Marcas espertas já usam seu aparato de marketing pra criar fatos culturais relevantes e assim ocupar espaço editorial grátis. Pelo visto, Deputados espertos também. Só que as marcas espertas pagam caro pra ter os craques da publicidade trabalhando duro pra gerar sua relevância. Já o deputado conta com a distorção dos critérios editoriais pra deixar que os jornalistas façam a sua campanha de graça.
Não podemos acusar os eleitores do Deputado Bolsonaro de ter o hábito da leitura. Mas nós que o temos, podemos acusar os meios de comunicação de desmotivar esse hábito com notícias irrelevantes sobre o Deputado Bolsonaro.
Rodrigo Leão é sócio e diretor de criação da Casa Darwin
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