Eduardo Axelrud
13 de maio de 2011 - 9h56
No meu post anterior falei sobre a publicidade colocada dentro de livros didáticos para crianças no Chile, e de como isso jamais aconteceria aqui no Brasil.
Seguindo um pouco na mesma vertente de examinar as veias abertas da libertinagem publicitária latino-americana, gostaria de compartilhar com os leitores do blog a embalagem de um chiclete Trident que comprei no México no mês passado.
A primeira vista parece muito com as nossas daqui, certo?
Só que uma análise um pouco mais detalhada (feita dentro do carro enquanto o semáforo não abria) me fez atentar para um lettering no canto superior esquerdo.
A embalagem manda tomar 2 pastilhas 3 vezes ao dia.
Como se fosse um remédio. Mostrei a embalagem ao meu filho de dez anos, e perguntei o que ele entendia dessa frase.
Ele me disse, sem pestanejar: “Que eu tenho que mascar 2 pastilhas, 3 vezes ao dia.”
Vejam bem o verbo que ele usou: “tenho”. No sentido de “preciso”. Tipo “o doutor mandou”.
Essa falsa sensação que a embalagem cria fica ainda pior se a gente levar em conta que vem 14 chicletes dentro de cada uma.
Ou seja, para ter seus dentes protegidos, a pessoa teria que consumir uma embalagem dessas a cada 2 dias. 15 por mês.
Não preciso nem olhar a embalagem do Trident aqui no Brasil para saber que essa informação não consta nela.
Nem na americana. Essa aliás, eu achei no Tio Google:
Mesmo assim, nos Estados Unidos existe um processo correndo contra o Trident em função da frase na embalagem que fala que o chiclete “reconstrói os dentes”.
Porque dá a sensação de que mascando o chiclete, a pessoa não precisa mais ir ao dentista.
Não quero entrar no mérito do que o Trident faz ou não faz pelos nossos dentes, aqui, nos Estados Unidos ou no México.
E vou continuar fã dos chicletes que eles fazem (principalmente aquele da embalagem preta).
Só me chama a atenção sobre as diferentes maneiras de comunicar na embalagem.
Todo esse assunto me faz me sentir bem a respeito da seriedade e compromisso com que o Brasil e a nossa publicidade enfoca as questões do que pode e o que não pode ser tratado na comunicação dos produtos.
Eduardo Axelrud é diretor nacional de criação da Escala
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