A Diretora de Atendimento Dourada

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Ponto de vista

A Diretora de Atendimento Dourada


20 de maio de 2011 - 4h34

A Diretora de Atendimento estava vestida para matar. Vestidinho preto, salto alto, bolsinha a tiracolo.

Estava nervosa. Era sua primeira festa no Castelo Dourado.
Não conhecia ninguém. Grudou no braço da Criativa, sua acompanhante.
As duas caminhavam no meio dos convidados famosos, segurando um Cosmopolitan na mão. A Criativa ia cochichando no ouvido da Diretora de Atendimento igual àquela cena de “O Diabo Veste Prada”.

“Aquele baixinho é o David, especialista em ideias de impacto. Mas muitos acreditam que ele ainda precise se provar em contas grandes.”

“Aquele surfista barbudo é o Lee, dizem que nunca usou sapatos na vida.”

“Aquele hippie é o Jeff.”

O buchicho foi interrompido com o som de uma Corneta Dourada.

O Arauto Dourado, um negro alto, sarado, cheiroso, sem camisa, anunciou com uma voz sexy:

“Hello, Creatives. Look at your pencil, now back to me, now back to your pencil, now back to me…”

O salão inteiro riu menos a Diretora de Atendimento, que não entendeu a piada. A Criativa explicou.

A Diretora de Atendimento estava tensa. Se sentia fora de lugar. Aquele mundo Dourado não lhe pertencia.

Até que a Corneta Dourada tocou novamente e o Arauto Dourado chamou o nome da Diretora de Atendimento e da Criativa. As duas subiram ao palco e todo o salão parou para olhá-las.

O Arauto lhes entregou um Lápis Dourado.

Emocionada, a Diretora de Atendimento quase deixou o Lápis Dourado cair na frente de todos.

Ela não sabia que era tão pesado.

“Esse Lápis tem o peso de um pitch, de um rebriefing, de um call com Cingapura às 6 da manhã, de um deck de 154 páginas de powerpoint, de uma quanti, de uma reunião de faturamento, de um fim de semana longe do seu filho”, disse a Criativa.

“Mas por que está todo mundo olhando para o meu Lápis Dourado?”

“Porque todo mundo gostaria de ganhar um. Porque ele significa que, neste momento, você é uma das melhores do mundo na sua profissão. É porque ele é lindo.”

Naquele momento a Diretora de Atendimento percebeu que aquele Lápis Dourado também era dela e não só da Criativa.

Ela dançou valsa com o Lápis, fez poses comprometedoras com o Lápis, cantou Justin Bieber no karaokê usando o Lápis como microfone.

Na saída do Castelo Dourado, já descalça e segurando os sapatos na mão, disse para a Criativa Dourada:

“Toda Diretora de Atendimento devia um dia sentir o orgulho de ganhar um Lápis Dourado.” E perguntou: “Quando é a próxima Festa Dourada?”

Chegando em casa, a Diretora de Atendimento Dourada se registrou no Creativity Online e incluiu o Lápis Dourado no seu curriculum do LinkedIn.

*Baseado em fatos reais

Anselmo Ramos é vice-presidente nacional de criação da Ogilvy

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