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O tigre não é de pelúcia

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Ponto de vista

O tigre não é de pelúcia

Se criatividade é a capacidade de olhar para uma coisa e imaginar outra, pode-se dizer que é necessário ver o mundo através dos olhos de Calvin.


10 de abril de 2014 - 2h07

Por André Kassu (*)

Por um instante, esqueça todos os princípios de marketing do Philip Kotler. Permita-se o descaso de não pensar em Al Ries e Jack Trout. Guarde todas aquelas biografias que contam trajetórias de sucesso (especialmente a do Eike). Trace um caminho menos óbvio, sinta-se livre de convenções. Mire no fundo da livraria. Lá está um menino de 6 anos e seu tigre. Acredite: esses dois personagens podem lhe ensinar mais sobre a essência de um bom trabalho do que você imagina.

Calvin e Haroldo são produtos da mente de Bill Watterson. A sinopse é simples como toda grande ideia deve ser. Um menino que tem como melhor amigo um sábio tigre. Acontece que, para o mundo ao redor, Haroldo é uma mera pelúcia. Para Calvin, Haroldo é o parceiro que ajuda a enfrentar as agruras da vida que incluem a escola, a convivência com as meninas e a maldita obrigação de ter que tomar banho. Se criatividade é a capacidade de olhar para uma coisa e imaginar outra, pode-se dizer que é necessário ver o mundo através dos olhos de Calvin. Pena que ao nos tornarmos cidadãos responsáveis deixamos essa habilidade para trás. Como filosofa o próprio Calvin: "Sei lá, parece que quando as pessoas crescem, elas não fazem ideia do que seja legal."

Penso no fenômeno da racionalização excessiva com os óculos do astronauta Spiff, uma das identidades secretas de Calvin. O que o consumidor sente quando vê essa imagem? O que ele pensa? Será que as mulheres A-B, com mais de 30, ficarão ofendidas? Com uma arma laser nas mãos, Spiff olharia desencantado para o universo adulto e diria apenas: “Nós estamos tão atarefados olhando o que está à nossa frente, que não temos tempo de aproveitar onde nós estamos." Gente grande complica demais. Não por acaso, sentimos saudades de quando a felicidade era tão simples quanto voar alto no balanço. Calvin não aceita os padrões sem antes questioná-los. E essa, de novo, é a base de todo trabalho que almeja ser criativo.

A façanha de Bill Watterson é jogar os seus questionamentos para um menino de 6 anos. E tirar um sorriso disso a cada tirinha. Calvin e Haroldo conseguem, em poucos quadros, debater muitos dos nossos problemas. Aqui, há um outro paralelo nas palavras de Bill: "A surpresa é a essência do humor e nada é mais surpreendente que a verdade.” Esse é o papel essencial de qualquer marca hoje. Achar o que pode ser dito de verdadeiro sobre ela. O problema é que olhar para si mesmo em tempos que retocamos fotos de profile não é das atividades mais fáceis. Nem para marcas, muito menos para pessoas.

Bill Watterson dedicou-se por 10 anos a Calvin e Haroldo. Um dia, decidiu parar. Por quê? Bill chegou a conclusão de que seu trabalho não estaria mais à altura da demanda que os quadrinhos exigiam. Em prol da qualidade preservada, o autor preferiu abdicar do personagem. Bill Watterson jamais permitiu o licenciamento de Calvin e Haroldo. É impossível imaginar a montanha de dinheiro que ele deixou de ganhar. Bill não vendeu a sua tira por diversos motivos que podem soar risíveis em uma visão capitalista. Nesse momento, o autor revela-se ainda mais Calvin. Uma visão purista que pode ser explicada em suas próprias palavras: “Quem iria acreditar na inocência de um garotinho e seu tigre se eles se aproveitassem da sua popularidade para venderem badulaques de que ninguém precisa a preço exagerado?”.

Talvez a grande importância de Calvin e Haroldo seja a permissão para ver o mundo como uma criança. Esse é o olhar que deveríamos trazer para as reuniões. Ao invés de checar ponto a ponto, deixar-se levar pela imaginação. Ao contrário de procurar pelo correto, escorregar pelo corrimão. Deveríamos abrir a porta da sala como quem entra no pátio do recreio. E sair de lá suados e felizes. Bill Watterson diz que, através de Calvin, ele saía pelo jardim em busca de esquisitice. É isso, então. Corra para o gramado. Tenha a mesma atitude mental de uma criança ao se deparar com uma bolha de sabão. Não pense. Você nunca saberá a razão de estourar a bolha, mas é irresistivelmente divertido. Ploc!

Frases de Bill Watterson:

“Os melhores quadrinhos expõem a natureza humana e nos ajudam a rir da nossa própria estupidez e hipocrisia. Eles se permitem exagero e absurdos, ajudando-nos a ver com outros olhos o mundo e recordando-nos de como é importante brincar e ser ridículo.”

“Quanto mais eu trabalhei, mais eu usei a tira para explorar questões pessoais.”

“Tentar agradar as pessoas encoraja o cálculo, e a tira é valiosa para mim apenas enquanto for honesta e sincera.”

“O truque em escrever uma tira de quadrinhos é cultivar uma atitude brincalhona mental – uma curiosidade natural e interesse por aprender. Como Calvin, eu apenas saio no jardim em busca de esquisitice e, com a atitude certa, eu faço descobertas.”

“Colocar-me na cabeça de um garoto fictício de seis anos e um tigre me encoraja a ser mais alerta e inquiridor do que eu seria normalmente.”

Frases de Calvin:

“A infância é curta e a maturidade é eterna.”

“A vida fica bem mais fácil se você mantiver as expectativas de todo mundo baixas.”

“Se todas as coisas boas durassem para sempre, você saberia como são importantes?”

“Não há nenhum problema tão terrível ao qual você não pode adicionar um pouco de culpa e fazê-lo ficar pior.”

“Quando se é sério a respeito de se divertir, nunca é muito divertido.”

“Faça o que tem que fazer e deixe os outros discutirem se é certo ou não.”

“O segredo é quebrar os problemas em pequenos pedaços administráveis. Se você lidar com eles, termina antes de saber disso.”

“Um pouco de grossura e desrespeito pode elevar uma interação sem sentido para uma batalha de desejos e adicionar drama a um dia de tédio.”

“Se você se preocupa, você só se desaponta o tempo todo. Se você não se preocupa, nada importa, então você nunca se perturba.”

“Se nós não pudéssemos rir das coisas que não fazem sentido, nós não poderíamos reagir a muitas coisas da vida.”

“Para estragar o prazer, nada como descobrir que foi educativo.”

“Eu não faço questão de ser aceito, se eu for só ignorado pra mim já está bom.”

“É muito mais divertido culpar as coisas em vez de arrumá-las.”

“Eu sei que a vida é uma jornada, mas eu estou cansado de perder tempo no trânsito.”

“Eu perdi apenas um jogo idiota, meu espírito continua invencível.”

“O problema com o futuro é que ele continua se transformando no presente.”

“A vida é como topografia, Haroldo. Há picos de felicidades e sucessos… pequenos campos da chata rotina… e vales de frustrações e fracassos…”

“Você não chega a ser mãe se não puder resolver tudo.”

“Se você faz o trabalho ruim o bastante, às vezes não lhe pedem para fazê-lo novamente.”

“A força para mudar o que eu posso, a inabilidade para aceitar o que eu não posso e a incapacidade para perceber a diferença.”

“A vida é cheia de surpresas …então por que o ônibus da escola não explode no caminho antes de chegar aqui?”

Calvin: “Não se pode abrir a criatividade como uma torneira, você tem que estar no pique certo.”
Haroldo: “E que pique é esse?”
Calvin: “Pânico do último minuto.”

“Acho que os adultos só fingem que sabem tudo!”

Fonte de pesquisa: http://depositodocalvin.blogspot.com.br/

* André Kassu é sócio e CCO da CP+B Brasil
 

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