Meio & Mensagem
11 de julho de 2013 - 2h25
Há uma demanda feroz pelo tema da sucessão.Uma pauta que proporciona a vinda de alguns representantes pouco atuantes em outras discussões. É um tipo de polêmica onde seu colega de RH, financeiro e TI sentem-se confortáveis em opinar. Clientes e imprensa engrossam o caldo tentando trazer uma contribuição mais isenta que as generalizadas teorias de café ou área para fumantes – uma espécie piorada da mesa de bar nas agências de propaganda. Sucessão é um problema que vai além do nosso mercado de comunicação. Não faltam filmes, livros e até material acadêmico que diagnosticam o mal que assola funcionários e corporações. Mas há fatores específicos do nosso segmento que merecem mais atenção, por serem muito particulares ao nosso grupo.
Acredito que o cerne da questão passa pela figura (quase extinta) do "tutor". Pode soar saudoso, mas me causa espanto o fim da cultura do tutor. Vivi o final de um tempo em que estudantes e recém formados caminhavam nessa linha: cidadão antes de querer determinada vaga, em determinada agência com determinado salário queria mesmo era ter o privilégio de conviver com um profissional mais capacitado e reconhecido. A intenção de aprender com alguém que tivesse mais experiência que você era o norte profissional de alguém no começo de carreira, ainda que isso significasse se submeter a um trabalho eventualmente mais operacional que sua própria capacidade estabelecida. Amadurecer e aprender com esse "profissional ícone" era um exercício solitário que sempre exigiu empenho em observar passivamente e tentar absorver o máximo de referências e método. Não que aqueles jovens não fossem ambiciosos deslumbrados com determinada vaga em determinada agência com determinado salário – mas ficava evidente que o caminho mais oportuno era encontrar um tutor que possibilitasse que essa validação profissional fosse consequência da sua própria capacidade de se fazer relevante nesse ambiente tão competitivo.
Vale também lembrar que é preciso querer ser tutor. A valorização precoce da nossa mão de obra tem assustado muita gente confortável em seus cargos. Talvez eu tenha sido um dos últimos a viver essa postura professoral, atenciosa de receber instrução dedicada dos meus superiores. Hoje muitos membros do nosso mercado julgam algumas pedras brutas como ameaças iminentes aos seus postos, o que tem inibido esse esforço de formar mercado – algo inimaginável uma década atrás. Essa insegurança gera um desdobramento devastador: a falta de mão de obra qualificada para preencher quadros. Ou pior, a falta de perspectiva da força de trabalho júnior se tornar sênior a médio prazo.
O efeito colateral da diminuição progressiva dessa cadeia de tutor e aprendiz é o desmoronamento da fidelidade corporativa, (favor não confundir com apego e compromisso com seu posto de trabalho e empregador) me refiro a zelar pelo método de trabalho e a técnica herdados desse seu anfitrião de mercado – o legado de atuar defendendo as premissas de um estilo ou padrão de conduta na sua área. Com muita pretensão o que já almejamos chamar de cultura.
Vivemos uma escala diferente de valores, onde o novo dogma é a diversidade de "experiências", evidenciada com a multiplicidade de currículos de candidatos com menos de 25 anos com quase uma dezena de folhas. Desde quando "experiência" vem da quantidade de empregadores diferentes ? "Experiência" deveria vir do número de dias num mesmo lugar. Me parece óbvio o benefício de que quando se está num mesmo lugar torna-se mais fácil perceber, avaliar e entender as mudanças ao seu redor – alterações na postura de seus clientes, no comportamento dos consumidores, na hierarquia e organograma de seus colegas ao longo do tempo. Há mais experiência em assistir com consciência as mudanças em volta de si do que necessariamente ser o agente da mudança, principalmente quando esse suposto protagonismo sem repertório e maturidade soa uma armadilha perigosa. Claro que há saturação e é válido ter contato com culturas corporativas diferentes, mas para que isso signifique efetivamente "experiência" é preciso minimamente ter construído algo por onde se passou. Estar em algum lugar é muito diferente de atuar nesse lugar e isso não me parece claro para esse novo mercado que se constrói.
Não formamos os sucessores, e o pior, eles acham que sozinhos vão conseguir melhor capacitação. Nossos líderes, assustados com as novas tecnologias e com a ambição descabida e super valorizada dos novos entrantes também não ajudam. Ainda que reacionária, penso que a opção mais eficiente é tentarmos resgatar como éramos nas décadas anteriores. Como dizia meu avô: "pedra boa é pedra que cria limo".
Igor Puga é sócio e diretor executivo da ID\
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