Rodrigo Leao
7 de abril de 2012 - 3h27
Eu ando muito satisfeito com a entrada de Ronaldo Nazário, o Fenômeno ou o Fofômeno, conforme seja sua opinião, no mundo da propaganda. Onde quer que eu vá — festas, bares ou cafés — e encontre amigos do ramo da publicidade, invariavelmente a conversa acaba resvalando numa nova estrepolia ou fanfarronice aprontada por este grande brasileiro, que depois de exuberar nos campos de futebol, entidades esportivas, filantrópicas e motéis empresta agora seu brilho incomum ao casmurro cenário da propaganda brasileira.
Não vou contar aqui as aventuras picarescas e peripécias que me são repassadas. Você deve ter ouvido algumas. Se não ouviu, não deve ser do ramo. Mas o que importa é que este magnífico atleta está devolvendo ao nosso métier o elemento rock n’roll que tanto fazia falta desde que o meu mentor e ídolo Washington Olivetto parou de usar jardineira jeans e cabelo comprido. Trazendo pra vida real os elementos que só sobreviveram na série de TV americana Mad Men: a coragem etílica, a sexualidade indômita do poder e a ousadia dos predestinados à glória.
Me pergunto, de certa forma, se é o Ronaldo que tem talento de sobra pra fanfarronice ou se nós publicitários é que ficamos yuppies demais. Enquanto o gênio empresarial Nizan Guanaes emagrece, o Ronaldo pede mais um número dois no delivery do McDonald’s. Enquanto o gênio criativo Marcello Serpa surfa ondas gigantes na Indonésia, o Ronaldo abraça a Narcisa Tamborindeguy de fogo num camarote no carnaval. Enquanto eu fico aqui falando dele em vez de trabalhar, ele já conquistou mais uma conta milionária.
Não é injusto? Enquanto você fica aí pensando em convergência de mídia online e off-line ele tá lá, convergindo com a galera. Enquanto você quebra pedras pra fazer seu cliente acontecer no Facebook ele pede mais um uísque on the rocks e fecha mais um contrato milionário de patrocínio de camisa de clube de futebol. Enquanto você inventa mais caraminholas pra preencher um key positioning chart ele veste mais um abadá e faz mais sete novas amigas que são modelos em eventos de automóvel. Ops, ele acaba de ganhar mais uma conta.
Não, acho que não é injusto. Acho que é legal demais. O Fenômeno traz de volta um espírito que só acontece quando mentes muito criativas tomam conta de vastos recursos com apenas um fim: celebrar a vida. Gente triste, embora mereça respeito, não cria trabalho feliz. E propaganda infeliz não funciona. O craque está apenas mostrando que se levar a sério demais não é bom nem no futebol nem na propaganda.
Será então que não é chegada a hora de largarmos as canetas Wacom e pegarmos no gargalo do Johnny Walker? De pararmos de seguir os ditames de Ogilvy, Hegarty ou Bogusky e começarmos a nos comportar mais como Vinícius, Jobim ou Tião Macalé? Queimarmos nossos móveis de design, cortarmos nossos cabelos de argentino, apagarmos nossos bookmarks de referência e começarmos a tratar o mundo com a mesma falta de seriedade com que ele nos trata?
Não sei se a propaganda seria melhor. Mas que a gente seria muito mais feliz, ah, isso é certeza. Agora deixa eu voltar pro trabalho se não ele vem aqui pegar as minhas contas.
Rodrigo Leão é sócio e diretor de criação da Casa Darwin
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