Vamos nos preparar para 2115?
A longevidade e seu impacto para o mundo, a vida das pessoas e as marcas
A longevidade e seu impacto para o mundo, a vida das pessoas e as marcas
Rita Almeida
12 de maio de 2015 - 11h06
As últimas décadas têm representado mudanças importantes na pirâmide etária brasileira. Aqui no Brasil, o formato do triângulo de base larga dos anos 50, deu lugar a uma base arredondada em 2000 e a projeção para 2050 tende a um retângulo com o claro envelhecimento da população. O resultado será mais gente mais velha por mais tempo. Essa equação requer mudanças profundas no que se refere a nossa cultura (ou a forma de encarar o envelhecer), aos órgãos públicos, a sociedade e as marcas.
Aqui na CO.R escolhemos a longevidade como o tema de 2015 a ser estudado. Ao mergulharmos nesse universo, me apaixonei. Eu, com 55 anos, vi um horizonte que estava bloqueado por meus preconceitos em relação ao envelhecer. Também percebi como é urgente de entendimento a ampla revolução etária que se apresenta em tantos lugares do mundo e também aqui no Brasil. A possibilidade de muito mais gente viver mais de 100 anos. Não como exceção mas como uma realidade coletiva.
Nossa análise, inspirada pelo “The Future Lab”, de Londres, parte de três polos complementares: (1) O mundo integrado, (2) a otimização das pessoas e (3) as marcas em um novo contexto onde 30% da população poderá chegar aos 100 anos.
Embora nossa tendência seja a de pensar primeiro no SER, na gente mesmo, essa nova sociedade diz respeito ao coletivo. Fala-se em um mundo onde a tecnologia, a natureza e o pensamento estarão integrados para criar soluções que melhorem nosso futuro (“the whole system thinking). Ao contrário de hoje, quando enfrentamos a maioria dos nossos problemas de forma isolada, com o pensamento da cultura de curto prazo. Na ciência, por exemplo, vemos uma ampliação das paredes da Academia. Hoje os seres humanos normais começam a ser estimulados a conduzir suas próprias experiências científicas. Um exemplo é a Zooniverse, uma plataforma de biohackers que incentiva mais de um milhão de pessoas a participarem de experimentos novos ou em andamento.
Nas cidades, o movimento de integração natureza-tecnologia é evidente. O acelerado movimento de urbanização tem trazido a agricultura para as cidades. O paisagismo comestível é um belo exemplo disso. O lixo também tem seu papel no fenômeno de integração da natureza com a tecnologia. Os resíduos de lixo têm sido usados tanto para gerar energias alternativas como para o reaproveitamento dos alimentos. Chefs e restaurantes famosos vem sendo reconhecidos por apostarem nessas iniciativas.
Indo para o universo das pessoas, vemos uma importante mudança mental que se desenha para o futuro: em vez de buscar a perfeição estética, buscaremos a otimização, as versões mais eficazes, produtivas e eficientes de nós mesmos, independente da idade. E usaremos a tecnologia, a ciência e a biologia – juntas – para exercermos um novo tipo de controle da própria vida na saúde, bem estar, beleza, genética e produção própria de alimentos.
Por fim, pensamos nas marcas e seu papel nessa sociedade longeva. As marcas terão a chance de conviver mais tempo com as pessoas e a sociedade mas para isso vão ter que se transformar. O The Future Lab conduziu um estudo quanti onde contava para as pessoas um novo dado para entender suas reações. Frente a notícia de que mais de 70% das marcas que existem hoje não irão virar o século XXI, 2/3 dos entrevistados simplesmente não se importaram com isso.
O que ajudaria as marcas a serem mais relevantes, a fazer diferença dentro dessa nova realidade? A resposta para isso passa muito pela busca por ações para além do momento imediato. Essa postura já afeta cada vez mais os negócios. A forma como as empresas interagem com seus colaboradores, a cadeia de suprimentos e a sociedade diz tanto sobre elas quanto suas campanhas de propaganda. E aqui cabem duas perspectivas: De um lado, as intenções e atitudes históricas da marca, seu legado. De outro, seu olhar e contribuições para o futuro.
Whole Foods é um ótimo exemplo de legado: desde a década de 1960 a marca é verdadeira com sua missão de melhorar a alimentação das pessoas e todas as suas estratégias e ações estão voltadas para isso. Coerentemente, a marca participa das discussões sobre o futuro da alimentação, os novos alimentos e comportamentos. Dentro de seus valores, a cultura local é estimulada como parte da estratégia da marca. E com essa consistência, Whole Foods se tornou uma das marcas mais consideradas e queridas do mundo.
Outra marca que consegue pensar o presente e o futuro é a Ikea. O modelo de negócios da Ikea (praticamente um fast fashion de móveis de design) a leva para o imediatismo e a acelerada roda da inovação. Porém sem esquecer o longo prazo. Recentemente, a Ikea se juntou com a Ideo Design para refletir sobre o ambiente doméstico nas próximas décadas. Uma das descobertas diz respeito ao centro da casa: o projeto reflete que a mesa multifuncional será o novo centro dos lares, substituindo o sofá da sala em frente a TV. É o lar se inspirando em espaços de coworking, com móveis flexíveis e multiuso.
Vemos que alguns movimentos podem tirar as marcas do grupo das esquecidas e levá-las para um espaço de protagonismo nesse novo mundo. Marcas que consigam pensar no coletivo, de forma integrada, para responder aos desafios de curto prazo e trazer o pensamento de longo prazo para sua evolução e relação com as pessoas.
Nós humanos também teremos nosso papel. Nosso trabalho será no sentido de nos livrarmos dos preconceitos atuais relacionados ao envelhecer. Uma visão, onde ficar mais velho é só a consequência de uma jornada chamada vida. Não uma fase separada dela. Não começamos a envelhecer aos 60 anos. Isso acontece desde que nascemos. Envelhecer é um processo de todo mundo, pela vida toda. E, como tal, não deveria representar decadência mas sim um sentimento de vitória quando pensamos que envelhecer é caminhar conforme a idade. Envelhecer requer preparo de longo termo e apoio do Estado, da família e da sociedade. Viver e envelhecer são facetas da mesma história de vida. Porém, a sociedade ainda está bem longe desse entendimento. Vamos nos preparar para 2115?
Rita Almeida é sócia-fundadora da CO.R
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