Dez fatos para esquecer de 2015

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Comunicação

Dez fatos para esquecer de 2015

Entre muitas notícias ruins, a redação de Meio & Mensagem escolheu dez que abalaram negativamente a indústria de comunicação, marketing e mídia durante o ano


22 de dezembro de 2015 - 10h04

Crime e castigo

Três mulheres negras da Rede Globo — as atrizes Taís Araújo e Cris Vianna e a apresentadora do tempo do Jornal Nacional Maria Júlia Coutinho, a Maju — foram alvos de comentários racistas nas redes sociais. Os crimes de ódio são passíveis de condenação e os autores podem ser punidos pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Os casos motivaram reações como #SomosTodosMaju e #SomosTodosTaísAraújo, ambos trending topics do Twitter. O ataque a Maju aconteceu em 3 de julho, Dia Nacional de Combate à Discriminação Racional, quando quatro criminosos publicaram mensagens contra a apresentadora na fanpage do JN. A ONG Criola, que atua na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras, lançou a campanha “Racismo virtual, as consequências são reais”, criada pela W3Haus. O projeto mapeou os comentários, localizou a origem (Americana/SP, Feira de Santana/BA, Porto Alegre/RS e Vila Velha/ES) e instalou outdoors nas principais ruas e avenidas dessas cidades com as ofensas. O objetivo foi impactar a população e conscientizar sobre os efeitos do discurso de ódio na internet. 

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Sobre as diferenças

Uma peça de 2013 da Leo Burnett Tailor Made causou problemas para a agência em outubro deste ano. “The Shemale Calendar”, criado para a Meritor, foi publicado no Facebook do 39º Anuário do Clube de Criação, por ter sido incluído no shortlist da área de design gráfico do prêmio. O público se revoltou com a ação, que tinha como conceito “Se não é original, mais cedo ou mais tarde você sente a diferença”, estrelada por “lindas travestis”. A mensagem subentendida do calendário, de que mulheres transexuais seriam “falsificadas”, foi acusada de transfobia. Para piorar, uma das modelos disse que não sabia qual era o objetivo do photoshoot e que as fotos dos RGs fictícios que aparecem no calendário foram masculinizadas pelo computador. Marcelo Reis, copresidente da LBTM, disse que foi inscrita no festival “por engano” e que o trabalho não está “alinhado com nosso modo de pensar e agir”. A imagem foi apagada, mas o caso teve alta repercussão negativa. Na direção contrária, a Mutato criou para a Avon vídeo protagonizado por Candy Mel, vocalista da Banda Uó e transexual. A campanha teve como foco a promoção do Outubro Rosa, movimento para conscientização sobre o câncer de mama. Sem nenhum investimento em mídia no Facebook, o vídeo tem quase 900 mil visualizações. 

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Redes derrubam campanhas preconceituosas

Com outdoors com as mensagens “Esqueci o não em casa” e “Topo antes de saber a pergunta”, a Skol deu início a um ano repleto de campanhas que desencadearam reações negativas pelo conteúdo preconceituoso. Veiculada às vésperas do Carnaval, a campanha “Viva RedONdo”, criada pela F/Nazca S&S e baseada no conceito de “perda de controle”, foi alterada depois que duas mulheres acrescentaram “e trouxe o nunca” às peças como forma de protesto e ganharam apoio no Facebook. Depois, um comercial protagonizado por Preta Gil para o analgésico Novalfem, do laboratório Sanofi, desagradou o público-alvo, as mulheres, por classificar as dores da cólica como “mimimi”. Criada pela Publicis, a ação foi retirada do ar. No segundo semestre, a Leo Burnett Tailor Made foi responsável por duas campanhas polêmicas. Após uma enxurrada de comentários negativos, foi retirado do ar o vídeo promocional da Schin para a Oktoberfest 2015. O filme, que classifica as mulheres catarinenses como “belas loiras”, termina com o trocadilho “toca pra mim”. Já a campanha “The Shemale Calendar” (leia nota anterior) é de 2013, mas voltou aos holofotes depois de ter sido postada na fanpage do 39º Anuário do Clube de Criação.

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A notícia sem graça do Charlie Hebdo

A sede da revista satírica francesa foi alvo de ataque em janeiro, em Paris. Atiradores invadiram a redação e dispararam contra jornalistas e funcionários. Morreram 12 pessoas e 11 ficaram feridas. Na ocasião, o presidente François Hollande classificou o ataque como terrorista. Não foi a primeira vez que o Charlie foi alvo de ataques. Três anos antes, a sede chegou a ser incendiada. O jornal é conhecido por charges alusivas ao profeta Maomé e outros líderes islâmicos. Em fevereiro, a revista voltou às bancas em uma edição especial com 2,5 milhões de exemplares. Recentemente, na ocasião dos ataques terroristas a Paris, em 13 de novembro, assumidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico, o Charlie Hebdo saiu com uma capa que, com tom provocativo, um fundo vermelho traz um homem com perfurações no corpo de onde sai champanhe. Na tradução literal, diz: “Eles possuem armas. Eles que se danem. Nós temos champanhe”.

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O truque da Vokswagen

A montadora alemã se viu em um escândalo de proporções globais ao ser denunciada pela Agência de Proteção Ambiental norte-americana por ter embarcado nos modelos a diesel um software que fraudava os níveis de emissão de poluentes. Inicialmente, foram citados 482 mil veículos das marcas Jetta, Beetle, Golf, Passat e Audi A3, fabricados entre 2009 e 2015. A crise levou à renúncia do CEO Martin Winterkorn, substituído por Matthias Müller, vindo da Porsche (marca do mesmo grupo). A Volkswagen admitiu que 11 milhões de veículos no mundo estavam equipados com o dispositivo que burlava os testes de emissão. Para solucionar o problema e arcar com as multas que terá de enfrentar pela fraude, a Vokswagen reservou 6,5 bilhões de euros (aproximadamente R$ 29 bilhões), metade do lucro global previsto para 2015.  

Asas e eixos do Brasil?

Este foi o ano em que a cidade de Brasília, que deveria ser o centro da organização política do País, serviu como palco de brigas políticas que se refletiram negativamente sobre a democracia e paralisaram a economia, levando a nação à retração do Produto Interno Bruto (PIB). As denúncias da operação Lava Jato, iniciadas em 2014, envolvendo esquema de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro da Petrobras e de empreiteiras como Odebrecht e Andrade Gutierrez, envolveram empresários e nomes da política. O maior deles foi o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acusado de receber propina na Petrobras e de ter contas no exterior. Cunha contra-atacou e acolheu, em 2 de dezembro, pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Recaem sobre a chefe máxima do Executivo acusações de ter aceito que o Tesouro Nacional atrasasse propositalmente o repasse de dinheiro para bancos públicos e privados e autarquias, como o INSS, para camuflar a situação real das contas federais. A prática foi apelidada de “pedaladas fiscais” e estaria acontecendo desde 2013. 

Fifa entra na mira da Justiça

A Fifa se tornou protagonista de um dos maiores episódios de corrupção da história. Em maio, a Justiça dos Estados Unidos e autoridades policiais da Suíça prenderam sete executivos do alto escalão como José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que permanece preso nos EUA. A investigação do FBI acusa os dirigentes de corrupção generalizada, especialmente sobre a escolha das sedes da Copa do Mundo de 2018 (Rússia) e 2022 (Catar) e a assinatura de contratos de patrocínio. José Hawilla, dono da Traffic, é réu confesso e foi condenado nos EUA em dezembro de 2014 por lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça. O escândalo levou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, a renunciar menos de uma semana após sua reeleição. Nova eleição será realizada no começo de 2016. Em novembro, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, também ex-presidentes da CBF, entraram na lista de investigados. Até agora, 12 dirigentes e duas empresas de marketing esportivo foram condenados e US$ 100 milhões foram recuperados. Responsável por cerca de 30% dos US$ 5 bilhões faturados pela Fifa na Copa de 2014, os patrocinadores exigem mudanças. Adidas, Anheuser-Busch InBev, Coca-Cola, McDonald’s e Visa pedem fiscalização externa para a atuação da Fifa. No Brasil, a Procter & Gamble rescindiu o patrocínio com a CBF. 

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O fim do sonho da Naked

A experiência da Naked brasileira terminou de forma traumática, com 60 funcionários demitidos e sem receber os direitos trabalhistas e divergências judiciais entre os sócios. Com dívidas de cerca de R$ 5 milhões, a Naked Lá na Vila teve o fim motivado por briga entre o sócio Rodrigo Pedreira e a publicitária Fernanda Romano. Por ser o único sócio da agência no contrato, Pedreira ficou com a incumbência de equacionar o pagamento da dívida. Na ocasião, tentou provar que Fernanda e as executivas Tatiana Shibuya e Renata Canto Porto também eram sócias. Pedro Assumpção, que ajudou a trazer a marca Naked ao Brasil, chegou a ser sócio de Pedreira, mas deixou a condição em 2013. Fernanda acusou Pedreira de ter encerrado as operações da Naked sem concluir a transição de contas e pessoas para outras agências. Fato negado pelo advogado de Pedreira. As contas de Kingston e Aramis, que faziam parte da Naked, foram para a We. A Naked chegou ao Brasil em março de 2012, incorporando a Player Comunicação Digital. A agência global, afastada da operação brasileira desde o ano passado, foi fundada em 2000, em Londres.  

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A queda do suposto gigante

Ele atraía todos os holofotes e chegou a ser o queridinho de anunciantes e agências. Mesmo depois de perder o título mundial, a imagem de Anderson Silva, o Spider, era de bom moço até ser acusado de doping em luta contra Nick Diaz. Flagrado pelo uso de sustâncias anabolizantes e ansiolíticos, o lutador foi julgado e, após uma série de explicações consideradas constrangedoras, saiu do tribunal da Comissão Atlética de Nevada condenado. Com isso, ficará um ano longe do octógono, foi multado em US$ 180 mil e teve que devolver o prêmio de US$ 200 mil conquistado após vencer a luta em questão. Para voltar a lutar, Spider terá de se submeter a um novo teste. Mas, mesmo em meio ao processo por doping, Silva entrou na disputa por vaga entre os atletas brasileiros que disputarão tae kwon do na Olimpíada Rio 2016, ainda que não seja seu esporte de origem. Esse gesto pesou ainda mais negativamente sobre a acusação do uso de substâncias ilícitas para levar vantagem em luta do UFC. Se chegou a ser a estrela de marcas como Budweiser e Wizard, além de muitas outras, parece que para os holofotes da publicidade Spider não deverá voltar.  

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O mar de lama em Mariana

A lama que destruiu o vilarejo de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), só não é pior que o lamaceiro moral em que se encontraram, depois do rompimento da Barragem do Fundão, a Samarco, as controladoras Vale e a BHP Billiton e os órgãos que deveriam fiscalizar a segurança das barragens. Além de responder pelas consequências na Justiça, a Vale terá de enfrentar a justiça americana porque acionistas se sentiram prejudicados pela queda de 27% no valor das ações desde o ocorrido. Foram confirmadas, até agora, as mortes de 17 pessoas que moravam em Bento Rodrigues ou trabalhavam na Barragem e outros três funcionários da Samarco continuam desaparecidos. Há quem tenha decretado também a morte do Rio Doce, que circunda a região. 

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Por Bárbara Sacchitiello, Fernando Murad, Isabella Lessa, Luiz Gustavo Pacete, Odhara Caroline Rodrigues, Roseani Rocha, Sérgio Damasceno e Teresa Levin

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