Ad Junior: “Não dá mais para ser isento em relação ao racismo”

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Ad Junior: “Não dá mais para ser isento em relação ao racismo”

Influenciador e head de marketing da Trace Brasil, canal focado em cultura afrourbana, fala sobre a resposta das empresas ao debate sobre o tema


22 de junho de 2020 - 10h00

Ad Junior. (crédito: divulgação)

O debate sobre o racismo estrutural ganhou escala nas últimas semanas com a onda de protestos globais contra a violência policial, após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, no final de maio.  A discussão que começou em torno da brutalidade policial direcionada à população negra foi ganhando novos componentes, com questionamentos sobre as atitudes de pessoas brancas no dia a dia e o papel das empresas em romper hábitos racistas.

Para o pesquisador e influenciador Ad Junior, o movimento é histórico, inclusive no Brasil, porque, pela primeira vez, gerou mobilização generalizada entre pessoas brancas e empresas. “De forma geral, sempre tivemos um povo meio isento em relação ao assunto, e pela primeira vez temos adesão em massa ao tema”, analisa.

Formado em Cross Media Production and Publishing e Literatura Inglesa, ele é influenciador sobre a luta antirracista e head de marketing da Trace Brasil, braço brasileiro da empresa de mídia francesa Trace, focada em cultura afrourbana, que desembarcou no ano passado no País com um canal linear pago e programa na TV aberta.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, Ad compartilha sua visão sobre a abordagem das marcas em relação às discussões sobre o racismo e sua postura em relação a influenciadores e veículos protagonizados por negros.

M&M – Qual é a sua percepção sobre as discussões e protestos sobre o racismo no último mês? 

Acho que vivemos um momento histórico. Historicamente, quando temos um movimento mundial como o que estamos vendo, é muito difícil voltar atrás. Não é só um movimento localizado nos Estados Unidos. Pela primeira vez temos adesão em massa dos brancos brasileiros, que vêm sendo confrontados com pautas tão eminentes. De forma geral, sempre tivemos um povo meio isento em relação ao assunto, e agora não tem mais como ser isentão.

Como vê  a tentativa das marcas em se posicionar sobre o tema?

Há uma mudança grande em curso porque as pessoas que se posicionam sobre o racismo sempre foram vistas como militantes, e as empresas, quando confrontadas, sempre agiram com um tom de “deixa disso”. Agora a expectativa é de que as marcas passem a se pautar pela representatividade, e uma representatividade real com cara de Brasil, com produtos com a cara da população e trazendo pessoas negras em todos os setores dentro das empresas.  

Se por um lado marcas são cobradas para se posicionar, por outro vêm sendo questionadas pelo descompasso entre as mensagens que postam e as políticas internas que aplicam. Qual deve ser a postura das empresas diante do cenário?

Não é momento de sair se posicionando sem estudar. É o momento de as marcas observarem, mais do que querer determinar a pauta. É hora de fazer um trabalho de educação e conceituação muito grande, e observações profundas para projetar como vão agir daqui para frente. O grande problema é quando se posicionam sem ter pessoas negras em posições de destaque dentro da organização. Não dá para sair postando qualquer coisa para acalmar os ânimos. Empresas precisam entender sua estrutura e como são pensados seus produtos e serviços. Se tiverem que repensar tudo do zero, essa é a hora, para repensar as relações, contratar novos profissionais e trazer mais diversidade para os times e boards. 

A Trace Media chegou ao Brasil há pouco mais de 6 meses com o objetivo de valorizar a cultura afro-urbana. Como foi a receptividade de marcas e agências ao canal?

De certa forma, os últimos acontecimentos legitimaram a nossa proposta. Lá atrás, quando apresentamos a Trace para o mercado, confesso que muitas empresas não entenderam. A maioria ficou só no “vamos conversar”, mas agora chegamos em um momento em que ficou evidente como nosso trabalho é importante. Infelizmente foi preciso um acontecimento nos Estados Unidos para a conversa sobre racismo e representatividade acontecer de fato no Brasil, mesmo que várias tragédias aconteçam no Brasil todos os dias. 

Nesse momento, percebo que as empresa estão mais abertas para a Trace justamente porque estamos no meio dessa revolução e precisamos dar mais visibilidade para novas vozes e plataformas. Não somos monotemáticos, falamos de vários assuntos que interessam ao público afrobrasileiro. Queremos que nossos rostos sejam vistos e normalizados, mostrando a cultura que o nosso país têm.

 Além do trabalho com a Trace, você também tem um canal no YouTube. Como vê o desafio de expandir o alcance de  veículos e plataformas protagonizada por criadores de conteúdo negros?

É muito comum que as relações sejam colocadas de forma racializada. Muita gente quer classificar produtores de conteúdo por cor, o que faz parte de uma lógica de classificar pessoas dentro da estrutura racial. Geralmente não se olha para produtores de conteúdo negros da mesma forma que brancos e como se tivessem a mesma relevância. É importante olhar para produtores de conteúdo negros como pessoas que falam com todo mundo. E se falarem só com o público negro, qual é o problema?  Na minha experiência como influenciador e com base no contato que tenho com outros criadores, vejo que as marcas continuam no mesmo lugar em relação à influenciadores negros. Um outro fator é que youtubers brancos se apoiam uns nos outros, mas não apoiam criadores negros. Agora é que estamos vendo um movimento de pessoas brancas famosas abrindo suas contas para dar visibilidade a criadores negros. Outro desafio nesse mercado é de fato empoderar esses criadores, porque é muito comum pedirem que façamos palestras de graça, por exemplo, e a maioria não têm produtoras e agências por trás. 

 

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