Férias! Não, isso não é um aviso automático

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Férias! Não, isso não é um aviso automático

Moro em Estocolmo há praticamente um ano, trabalhando para uma multinacional sueca, mas minha vida até aqui foi no Brasil. E uma das diferenças que mais me chamou atenção foram as férias


14 de abril de 2022 - 0h59

(Crédito: Doublecrookedpencils/Shuttersotck)

Um dos temas sugeridos para esta coluna foi a perspectiva sobre o mercado de trabalho estando na Europa. Eu moro em Estocolmo há praticamente um ano, trabalhando para uma multinacional sueca, mas minha vida até aqui foi no Brasil. Maior parte no Rio, alguns anos morando em São Paulo, e alguns outros morando na ponte aérea. E uma das diferenças que mais me chamou atenção foram as férias. Talvez mais que isso: a quantidade de horas trabalhadas, a preservação da qualidade de vida, a licença-maternidade/paternidade e a produtividade. Mas vamos começar pelas férias.

Oficialmente são 25 dias úteis. No Brasil, são 30, o que dá 20 dias úteis. À primeira vista não parece tão diferente. Mas é. Quando você pode organizar os dias como quiser, pode fazer as férias renderem mais. Ou esticar o final de semana para uma viagem, ou mesmo tirar um dia de férias no meio da semana para resolver algum assunto com calma ou pra curtir o dia — por que não?

Mas a diferença é muito maior quando se observa algo bastante comum por aqui: dias de férias adicionais são benefícios concedidos pelas empresas. Aí, claro, cada empresa tem sua política. Eu desconheço, porém, casos de uso de dias off como benefício no Brasil. Licença-maternidade e paternidade estendidas, além do obrigatório por lei, sim. Férias estendidas? Não conheço.

Vou falar aqui sobre o meu pacote. Não encarem como ostentação, mas como inspiração, talvez. Os cargos que não têm que bater ponto, e que, portanto, podem requerer trabalhar até mais tarde um dia ou outro, ou uma viagem no final de semana, têm mais 5 dias úteis, totalizando então 30 dias úteis de férias. Além disso, temos os squeeze days. Qual é a regra? Aqui, oficialmente, nunca se emenda um feriado. Se você quiser emendar, você pode usar os squeeze days. A diferença dos squeeze days para as férias é que você pode tirá-los por horas, se quiser. Então se você quiser emendar, por exemplo, apenas a tarde antes do feriado, pode. São 10 dias adicionais que podem ser usados como preferir, inclusive em sequência. Ou seja, estamos falando, na prática, de 40 dias úteis de férias.

Não acabou. Ainda tive, aqui, as vacations in advance: 20 dias de férias que podem ser gozados antes de se completar um ano.

Outro ponto relacionado às férias, mas já muito conhecido dentre os que trabalham com empresas europeias, é que todo mundo sai de férias ao mesmo tempo. Não, não são férias coletivas obrigatórias. Nada é obrigatório. Mas é muito comum tirar férias longas no verão e uma mais curta no inverno, ali perto do Natal. Pouca gente trabalha nestas épocas, o que é compreensível. Em um país que tem por volta de 7 horas de luz diárias entre outubro e fevereiro, ninguém quer desperdiçar o verão trabalhando. E, os que podem, dão também uma escapadinha para ver o sol no inverno.

O interessante é notar a diferença nas culturas de trabalho. Nós, de certa forma, estamos acostumados a “cobrir” a ausência do outro. Programamos as férias justamente para sair um de cada vez, para não deixar a equipe desfalcada. Mas o quanto de fato isso acontece? O quanto é verdadeiramente possível absorver o trabalho do outro, além do seu próprio? Enquanto aqui todo mundo saindo em julho, fica mais fácil planejar uma pausa no projeto. É mais transparente.

Melhor? Não sei ainda. Sei que neste primeiro ano resolvi não seguir a regra e me arrependi. Se, por um lado, foi ótimo trabalhar sem tantas reuniões, por outro, pouca coisa andou quando tantos estavam fora. E a sensação é que muita coisa andou quando eu estava fora. Conclusão: já tenho férias marcadas para julho deste ano.

A reflexão aqui fica no quanto e no como. Inúmeros estudos falam da relação entre o estar descansado e feliz e a produtividade. Minha observação pessoal é que há uma relação direta. E não apenas o maior número de dias de descanso, quanto uma maior flexibilidade no seu uso, impactam positivamente no humor, na qualidade de vida e na relação com o trabalho.

Estou muito curiosa com relação aos experimentos com semanas laborais de quatro dias e redução de jornadas diárias, como na Bélgica e Islândia. Vamos voltar ao tema numa próxima coluna?

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