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Al Gore convoca: “occupy democracy”

SXSW: do Google Village a Dean Kamen, um resumo dos destaques da segunda-feira do evento, que acontece nos EUA


13 de abril de 2012 - 2h19

*Douglas Mello e Angela Bassichetti

Se colecionamos algumas decepções durante o fim de semana no SXSW, a segunda-feira 13 em Austin foi uma compensação desproporcional. E não só por causa do dia ensolarado. Hoje pude ter a sensação genuína de estar em meio às pessoas que estão fazendo a história (ou parte dela) acontecer.

A manhã começou com uma conversa sobre jornalismo tradicional e o citizen journalism, filho da era digital, e que ganhou força com a Primavera Árabe e o movimento Ocuppy Wall Street.

Muita gente boa e uma discussão de altíssimo nível. Fiquei impressionado com a sinergia que já existe entre essas duas formas de jornalismo. Mas a questão que coloquei foi que essa colaboração ainda não é percebida pelo público. O desafio é fazer com que as pessoas entendam que os dois tipos de mídia são complementares, e que um não pode viver sem o outro.

Aplausos de pé
Talvez Dean Kamen seja mais conhecido por ser o inventor do Segway, mas isso é diminuir absurdamente sua relevância. Uma espécie de Thomas Edison moderno, Kamen inventou próteses para braços altamente sofisticadas, uma cadeira de rodas que sobe escadas e uma máquina para purificar água em países da África, entre outras coisas.

Mas ele só contou essas histórias incríveis para nos chamar a atenção para a sua causa mais importante: fazer com que a ciência seja algo atraente para os jovens, e não um assunto de nerds.

Porque o mundo precisa de mais cientistas, engenheiros, tecnólogos, enfim, pessoas como Kamem, que vão ajudar a superar os tremendos desafios do presente e do futuro. Até o momento, foi a única palestra que eu aplaudi de pé.

Contrastando com o estilo calmo e introspectivo de Kamen, Kevin Smith descarregou uma metralhadora verbal de quase uma hora contando a história de sua vida, que ele entende ser impossível de desassociar dos suas empreitadas como diretor, ator, escritor, produtor e etc. Foram momentos divertidíssimos e inspiradores. Escutamos um homem que parece ter feito tudo, absolutamente tudo, com seu coração, o que deu certo na maioria das vezes.

Singularity. Estamos cada vez mais perto
Sobre o keynote de Ray Kurzwell não tenho muito o que falar. Se você sabe o que significa singularity (um assunto que me interessa muito), sabe também que ele é talvez o principal especialista. Foi uma palestra bastante densa, mas que pode ser resumida no principal conselho do cientista: quem conseguir se manter vivo por mais algumas décadas, provavelmente vai se tornar imortal.

Billy Corgan foi entrevistado por Brian Solis sobre o futuro (e o presente) do negócio da música. E o líder do Smashing Pumpkins colocou sua visão da maneira mais contundente possível. Em sua entrevista – isso se aquilo foi uma entrevista, tamanho foi o domínio do músico sobre a conversa e a atenção da audiência –, Corgan colocou o dedo em uma série de feridas. Para mim, o argumento central é um que também defendo: os fãs (leia-se nós) têm responsabilidade em apoiar os músicos (sim, isso é sobre dinheiro) e permitirem que eles sobrevivam para continuar produzindo. Poderia ter terminado por aqui. Mas não.

Al Gore: 70% de posse de bola
Um dos painéis mais esperados do dia foi o Sean Parker Presentation. Sean foi co-fundador da empresa Napster, em 1999, aos 19 anos. Dois anos depois criou a Plaxo e em 2004 se juntou a Mark Zuckerberg para desenvolver o Facebook. Belo currículo, não? E o mediador do painel, em seu canto direito, pensando algumas toneladas a mais: Al Gore, ex-vice presidente dos EUA.

O painel começou equilibrado, mas Gore deteve 70% da posse de bola durante todo o jogo. A discussão sobre a internet e seu papel político foi o tema central da conversa. E o poder das redes sociais em engajar pessoas em processos políticos ficou claro quando perguntaram à platéia quem participava de alguma causa. Mais de 80% das pessoas levantaram as mãos. A resposta seria totalmente diferente nos anos 80. Hoje, basta clicar em algum botão em Causes no Facebook e você já é um ativista político.

“Climate Reality hoje é a causa com maior engajamento” disse Al Gore. Ao ouvir isso, dá vontade de ir até o microfone e dizer: “Well done Mr Ex Vice President!”

Discutiram a relação da internet com a democracia, a necessidade de novas ferramentas para maior participação pública, mas, segundo eles, pequenas ações digitais não são suficientes. É preciso mudar o sistema politico não-democrático que vivemos hoje. É preciso criar um sistema mais transparente, integro e colaborativo, onde grandes decisões sejam feitas coletivamente, e não por representantes eleitos.

Num speech fervoroso, Al Gore toma a voz do painel e convoca a platéia: “Occupy Democracy!”

Clap, clap, clap.
wraps
Not Found
O Google Village é um dos lugares mais divertidos pra ir durante o SxSw. Um bairro, com várias casas coloridas de madeira, igual à casa onde Sook Steackhouse mora. Lá você pode entrar na Maps House, Discovery House, Developers House e Android House. Ah! Havia também uma BlackBerry House.

Em cada casa, você poderia experimentar ferramentas Google, assistir a painéis, falar sobre códigos e assistir uma corrida de robôs de Lego controlados por Android. Vic Gundotra apareceu para falar de redes sociais com Guy Kawaski. A partir das 17h, todas as casas abrem seus bares e bandas tocam nos quintais. Uma maneira muito divertida de levar pessoas até sua marca e apresentar seus produtos. Pena que a Google Village só funciona sábado e domingo.

Quem foi na segunda-feira até lá encontrou um grande “Not Found”.

*Angela Bassichetti, diretora de criação da JWT e Douglas Mello, diretor de estratégia da JWT, estão em Austin e enviarão posts sobre o que de melhor – e mais inusitado – acontecer no SXSW deste ano. Acompanhe.

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