Cannabis: qual é o potencial de negócios para marcas e empresas?
Parceria da Eurofarma com VedMed amplia as possibilidades de exploração da planta pelo setor farmacêutico e por outros segmentos de negócios
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Renan Honorato
23 de novembro de 2023 - 6h01
Há alguns dias, a farmacêutica Eurofarma oficializou a parceria com a VerdeMed para comercialização de medicamentos à base de cannabis no Brasil. Desde 2021, o Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que o Estado brasileiro deveria fornecer remédios e tratamentos à base de canabidiol, mesmo sem registros nas agências reguladoras.
O canabidiol, ou CBD, é uma das mais de 700 substâncias, extraídas das plantas do gênero Cannabis. Diferentemente do tetrahidrocanabinol (THC), que é o principal agente psicoativo da Cannabis, o CBD isolado não apresenta nenhum efeito psicoativo ou inebriante, não sendo objeto de consumo com foco recreativo.
A Eurofarma recebeu autorização da Anvisa para produção de medicamento à base de canabidiol, e a produção dos medicamentos acontecerá em parceria com a empresa Verdemed. O processo ainda está em desenvolvimento com lançamentos do medicamento previsto para 2024.
Para os sócios da Simple Cannabis, na medida que os mercados e os estudos sobre os benefícios dos componentes das plantas amadurecem, farmacêuticas querem expandir os negócios na medicina canábica.
Ao todo, já são mais de 30 produtos autorizados pela Anvisa que podem ser comercializados à pronta entrega em território nacional. Nos Estados Unidos, esses produtos não são considerados medicamentos, mas suplementos alimentares.
“Não temos a quantidade desses produtos disponíveis que temos de Tylenol, por exemplo, o que dificulta muito o acesso, para além de encarecer o custo”, explica Andre Bocchi, advogado e co-fundador da Simples Cannabis.
A empresa é uma união entre clínica de bem-estar com aconselhamento jurídico para pessoas que tenham interesse em começar tratamentos com cannabis. Por questões de legislativas, a Simple Cannabis buscou contornar os entraves de marketing com um espaço físico em frente Hcor, na Avenida Cidade Jardim, em São Paulo.
Para Ricardo Bonatelli, fundador da Pub – agência de publicidade da Simple Cannabis –, a maior barreira na comunicação nesse setor está nas plataformas de anúncios. Especialmente em Google e Meta, as divulgações são censurados por entrarem em conflito as discussões sobre uso medicinal e recreativo. Além do uso da própria terminologia, havendo um embate entre “maconha” – como algo relacionado à criminalidade.
“Uma coisa não tem rigorosamente nada a ver com a outra, mas sofre o mesmo tipo de censura. Estamos falando de saúde, de benefícios, de acompanhamento médico”, opina.
Além de concordar com Bonatelli, o CCO da 11:11, Wilson Mateos, acredita que a legislação cerceia um pouco o trabalho das agências. Assim como a indústria farmacêutica não pode fazer propaganda do Viagra, cita ele, a promoção de produtos à base de cannabis não pode ser frontal e direta.
“O que podemos fazer é compartilhar informação, as evidências científicas no tratamento com cannabis para diferentes doenças”, diz. A 11:11 tem estreitado os laços com a pauta canábica desde 2020, quando reestruturou o branding da Productora Uruguaya de Cannabis Medicinal (PUCMED). Desde então, além de agência societária da empresa uruguaia, a 11:11 também se associou à ANNA, empresa especializada no segmento de cannabis medicinal e biotecnologia.
Contudo, apesar dessas parcerias de negócios, o maior problema no Brasil envolve a produção da matéria-prima. Em 2021, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei favorável à legalização do cultivo de cannabis para fins medicinais no Brasil por associações ou pacientes regulamentados. Apesar disso, o plantio industrial ainda é proibido, sendo, portanto, necessário que as empresas importem a matéria-prima.
Por consequência, isso aumenta o valor dos produtos nas gôndolas. “Em termos de custo de produção, os medicamentos disponíveis não deveriam ter o custo atual”, explica Leon Maas, biólogo e co-fundador da Simple Cannabis.
As discussões sobre o uso adulto da cannabis não se restringem à criação de medicamentos. Porém, perpassam temas como sustentabilidade, indústria têxtil, de acessórios, de suplementos alimentares e outros. Para o diretor de marketing e fundador da Bem Bolado, Fabricio Penafiel, este é o momento ideal para ampliar as discussões sobre a pauta da legalização.
Com a legalização da cannabis de forma irrestrita, por exemplo, os setores de alimentação e bebidas poderiam começar a produzir doces com CBD, componente não letárgico da cannabis.
Além de trabalhar como diretor de arte, Penafiel criou, na virada do século a Gota Comunicação, agência focada em endomarketing. Porém, o ativismo canábico já perpassava despertava o interesse do fundador da marca de sedas desde há um bom tempo.
Atualmente, o grupo Bem Bolado abrange quatro empresas: a marca de tabaco Original; a Bem Bolado; a recém adquirida GTI, produtora de isqueiros, e a marca de vestuário Weed Wear. Para comemorar os 50 anos de cantor Sabotagem, por exemplo, a Bem Bolado lançou um kit temático de sedas para os fãs.
Enquanto as três primeiras empresas do grupo são diretamente ligados ao consumo, a Weed Wear tem o papel secundário de amplificar os temas correlacionados, como o uso de cânhamo – subproduto da cannabis. “Eu vendo lifestyle, não vendo papel”, diz.
Para ele, a moda é um elo de comunidade, atuando de forma discreta no subtexto das interações do dia a dia. “Hoje em dia a gente tem os ‘ganjas friendlys’, que é o público que não faz uso da maconha, mas é simpatizante. A roupa todo mundo pode usar, o lifestyle é democrático”, explica.
Todavia, com quase 500 mil seguidores no Instagram e com uma taxa de engajamento mensal de oito milhões de pessoas, a Bem Bolado foi uma das marcas pioneiras à criar uma comunidade atrelada ao tema. Para Penafiel, a marca hoje tem o papel de compartilhar espaços com ativistas e especialistas no assunto que possam contribuir para discussão. Há cerca de seis anos, a Bem Bolado está presente no Uruguai, Estados Unidos, Canadá.
A expectativa de ampliação dos negócios também é compartilhada por outras empresas do mercado. Para os próximos anos, a 11:11 planeja abrir uma vertical focada no ‘cannabusiness’ e nas marcas que surgirão ou pretendem se relacionar com o lifestyle do tema.
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