Hip-hop, rap e marcas: como se relacionam?
Executivos explicam como a relação entre os gêneros de músicas urbanas e as marcas vem se construindo
Executivos explicam como a relação entre os gêneros de músicas urbanas e as marcas vem se construindo
Carolina Huertas
20 de setembro de 2022 - 6h00
Conectados ao público jovem e chamando cada vez mais a atenção das marcas, o trap, rap e hip-hop são gêneros musicais vinculados a cultura urbana que estão em constante crescimento. O Spotify registrou um aumento de streams de trap brasileiro de 22% em 2021 e 11% de janeiro a maio de 2022. Também na plataforma, a playlist editorial Creme, que reúne faixas de funk, trap, rap e hip-hop, acumula mais de 930 mil seguidores.
Criado em 2019 e retomado neste ano, o festival Cena 2k22 reuniu mais de 100 artistas dos gêneros e lotou o Sambódromo Anhembi, em São Paulo nos dias 17, 18 e 19 de junho. Seja pela movimentação no digital ou nos eventos culturais, os ritmos possuem uma forte conexão com o público. Diante disso, como as marcas podem se envolver nessa relação de forma genuína, agregadora e segura?
“Nosso cuidado deve ser sempre sobre não se apropriar de nenhum movimento cultural. Nosso objetivo é nos aproximarmos e unirmos forças para criarmos juntos. Então falar em “pautar cultura” parece uma tentativa de colonizar movimentos, e nossa missão é justamente o contrário”, comenta Ludmila Kaminskas, gerente de cultura e branded content da Budweiser.
Para Júlia Reis, CEO da Brasamag e coordenadora de conteúdo e comunidade da Hypebeast Brasil, principalmente depois da pandemia houve uma tendência das marcas buscarem presença em âmbitos culturais, muito também por necessidade do usuário. Ela aponta que, ao analisar a ascensão do gênero em relação ao público e a questão da identidade, cruzando com o fato de que a identidade hoje ser uma das prioridades pra uma marca, faz muito sentido.
“Talvez o hip-hop seja uma representação figurativa de tudo que as marcas buscam hoje ou que elas querem acreditar que estão buscando, como representatividade, identidade, conhecimento cultural e também um público jovem na renovação dos consumos”, afirma a especialista.
Segundo ela, para se envolver em projetos relacionados aos gêneros musicais, as empresas precisam ter humildade para entender e aprender sobre os movimentos e autenticidade. Além de realizar pesquisas para entender o público e um trabalho de recursos humanos para olhar para dentro e desenvolver a diversidade interna da empresa.
Ludmila afirma que a música, de maneira geral, é uma das principais plataformas de Budweiser, tanto global como nacionalmente, o que faz com que a marca seja parceria tanto de artistas quanto de grandes festivais. Além disso, a executiva explica que a empresa tem identificação com algumas pautas de valorização da cultura popular negra e de relacionamento com diversas comunidades e, sendo assim, quase todos os projetos da marca com música têm ligação com o universo rap, hip hop, trap e funk, além de outros gêneros.
“O fato de termos na música uma de nossas plataformas acabou tornando natural a criação de iniciativas com o movimento que ainda é invisibilizado e até marginalizado, mas que fala e transmite a verdade da realidade de muitas pessoas. A questão é entender o porquê e por quem esses movimentos foram invisibilizados e ser uma marca que se interessa e se aproxima de verdade de seu consumidor, além de uma bolha tradicional no marketing. Portanto, temos realizado um trabalho de fomento à cultura que tem sido construído ao longo dos últimos anos”, revela a profissional.
No começo de 2022, a marca criou o reality Sobe Junto em parceria com Endemol Shine Brasil e agência Africa. O projeto procurou valorizar novos talentos e abrir os palcos para artistas locais. “O Sobe Junto foi a materialização de tudo o que a marca pretende construir, ao mostrar as histórias e o talento de novos artistas, desde o processo criativo, passando pela produção até chegar nas apresentações”, conta. Na parte de patrocínios, a marca esteve presente no Festival Cena 2k22, o Lollapalooza e, segundo a executiva, ainda terão mais projetos ainda este ano ligados ao gênero.
Gildean Silva “Panikinho”, rapper, ativista e pesquisador da cultura hip-hop, é da 3ª geração do movimento no Brasil e conta que na década de 1990 a procura das marcas era um pouco menor, muitas vezes pelo hip-hop ser associado como público não consumidor e pelo discurso politizado. “Apesar do interesse, existia um receio um pouco maior. Questão que veio mudando com a chegada da nova geração que traz a profissionalização e comercialização da arte em uma estratégia diferente e o maior interesse nas pautas de diversidade”, conta.
O artista comenta que as redes sociais também contribuíram nesse sentido, pois possibilitaram muitas mudanças significativas e transformaram o formato do jogo. Ele aponta que nos anos 80 e 90, um artista tinha que passar por um crivo que, na época era uma gravadora, um selo ou um veículo de comunicação que determinava quem passaria no “funil” de destaque e sucesso. Hoje, Panikinho comenta que as redes sociais e os streamings se mostram como esse caminho.
Além disso, Júlia conta que as redes sociais e os streamings também deixam um pouco mais claro o que que o usuário quer ver, junto a ferramentas de dados que que ajudam a entender qual é o tipo de público de cada marca. Esses mesmos elementos também traz mais voz e liberdade para o público. “Qualquer um hoje tem uma voz relevante e consegue causar uma crise que se inicie com um comentário nas redes”, reflete. E tudo isso impacta no desejo e interesse das empresas de se envolver com o gênero musical.
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