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Opinião: Desconectar para reconectar

Vemos tudo e não enxergamos nada. Temos acesso a todas as informações do planeta e não fazemos (quase) nada de útil com elas. Estamos conectados a todas as pessoas do mundo e não temos conexão verdadeira com quase ninguém


17 de junho de 2014 - 10h07

Por Paula Nader (*)

Voltei das férias anteontem.
Metade do tempo passei viajando, a outra metade eu passei em São Paulo, indo à ginástica, às três da tarde, e à exposição da Yayoi Kusama, às 11 da manhã de uma terça-feira. Uma delícia.

Mas estou falando disso para dizer que não consigo pensar em nada, absolutamente nenhum tema para o artigo deste mês.

No meio do branco total, várias coisas rolam: e-mails pipocando na caixa do trabalho e, por falar em pipoca, uma pipoqueira com um preço incrivelmente baixo aparece no meu e-mail pessoal e fico pensando por que diabos alguém acha que eu quero comprar uma pipoqueira, enquanto planos para o fim de semana acontecem no WhatsApp; matérias sobre assuntos diversos surgem na emissora de notícias onde a TV está sintonizada; fotos interessantes aparecem no Instagram; várias músicas tocam no rádio de um dos meus colegas de trabalho e acabamos de postar um vídeo muito bom no YouTube, que tenho de lembrar de comentar com meu marido quando eu chegar em casa.

Por falar em chegar em casa, chove lá fora e ainda são cinco e meia da tarde, mas já está totalmente escuro e o trânsito está um caos. Então, tenho de cancelar minha aula das sete e meia porque não vai dar tempo de chegar. Mas, que bom, assim vou ter um tempo extra para me dedicar ao artigo.

Tudo isso aconteceu e não se passaram nem cinco minutos.

Constato que esse cenário se repete em boa parte do meu dia, quando estou tentando prestar atenção no que alguém está falando, ou quando tento analisar os resultados dos primeiros cinco meses do ano para revisar os planos para os próximos sete, ou quando, no final de semana, leio as primeiras dez páginas de seis livros diferentes até decidir que não quero seguir com nenhum deles.

Começo a pensar no desafio de produzir comunicação relevante para as pessoas no meio desse caos quando uma questão muito mais básica (e grave) aparece na minha frente: um layout de anúncio com um erro grosseiro de ortografia, acompanhado por um bilhete cuja ausência de pontuação não me permite entender a mensagem.

Aí alguém me diz: “ah, hoje em dia, o que vale mesmo é a velocidade e, no final, sempre tem um revisor”.

Espera um pouco, por favor. Eu trabalho com comunicação, o autor do bilhete também e o texto do anúncio foi escrito por um redator profissional.

Nunca se escreveu tanto e, paradoxalmente, nunca se escreveu tão errado. E cada um de nós, quando aceita a ideia de que “a vida é assim”, alimenta um futuro negro não só para nosso ofício, mas para uma das atividades mais básicas do ser humano: ser capaz de se comunicar com seus semelhantes.

A tal conexão da vida em rede virou desconexão total na vida real.

Escrevemos de um jeito incompreensível. Vemos tudo e não enxergamos nada. Temos acesso a todas as informações do planeta e não fazemos (quase) nada de útil com elas. Estamos conectados a todas as pessoas do mundo e não temos conexão verdadeira com quase ninguém.

Sinal verde para as clínicas que estão ganhando dinheiro aos montes vendendo programas de desintoxicação digital, que consistem em te obrigar a passar alguns dias sem internet.

Eu, que vivi os prazeres da desconexão por mais de dois terços da minha vida, prefiro tentar de graça: tirar o som do meu celular durante o dia e, à noite, colocá-lo para recarregar em um cômodo bem distante daquele onde estou e, assim, encontrar tempo para ler; prestar atenção numa conversa com pessoas queridas; comer aproveitando cada garfada; contemplar o que acontece na rua, na praia, no céu, na árvore do outro lado da rua, para tentar entender o que está acontecendo do outro lado do mundo.

É difícil, mas não impossível.

¿Que te parece?

 

* Paula Nader é diretora de marketing do Santander e colaboradora do Meio & Mensagem. Este texto foi publicado na edição 1614, do dia 16 de junho de 2014 

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