A paciência nipônica leva a Schin
Eles eram sabidamente interessados na Schincariol. Todo o mercado sabia que eles andavam por aí. Mas ninguém apostava neles. O fato é que, com paciência nipônica, a Kirin comprou 50,45% da Schincariol. Ainda é muito cedo para saber o que isso significa de fato. Mas alguns detalhes podem ser interessantes.
A Kirin é uma empresa forte, estruturada e com gestão segura. Não é uma cervejaria. É uma empresa de bebidas que tem cerveja e atua em segmentos diversificados. Ela sabe trabalhar com mix de produtos, incluindo vinhos, destilados, água, chás, sucos e outros.
Esta pode ter sido a pedra angular para a decisão da empresa. Ela entra investindo no mercado através da Schincariol, mas já tinha um pé aqui, com a Tozan, que atua no mercado de saquês, alimentos e inclusive alguns acessórios da culinária japonesa. Agora tem a chance de construir um negócio mais amplo em um mercado crescente e buscar espaço para um mix maior. Claro que isso é uma visão de médio prazo. Mas não podemos duvidar de uma empresa como a Kirin.
A capacidade de gestão e de mercado serão colocadas à prova. Existem desafios que a empresa terá de enfrentar. Talvez o maior seja compreender o mercado brasileiro além dos números com sua diversidade cultural e de hábitos. O Brasil continental tem desafios logísticos, concorrentes vários e fortes em regiões diversas, além de alta variedade de embalagens.
Neste aspecto é bom lembrar a passagem da Molson pelo Brasil, os próprios desafios da Femsa e, mais recentemente, da Heineken. O mercado brasileiro exige uma gestão competente nos detalhes.
O Brasil também é um mercado com forte concentração e investimentos elevados em marketing. Marca e preço exigem gerenciamento atencioso. O relacionamento com os canais também tem características diversas que vão desde a segmentação, os tipos de ponto de dose e a migração de poder de compra para a periferia dos grandes centros e para polos de crescimento além das capitais do Sudeste.
Claro que muito disso a empresa tem com a manutenção de grande parte da estrutura atual da empresa. Também carregará, pelo bem e pelo mal, as qualidades e dificuldades atuais, e os desafios de recuperar o espaço perdido em São Paulo, Rio de Janeiro e outras regiões.
A entrada da Kirin é salutar nesta disputa. É um fato novo, e um novo grupo para fazer parte do jogo. Será uma peça na forte disputa estabelecida pela Ambev com a Schincariol no Nordeste, local onde a empresa tem sua maior participação de mercado. A diversidade de produtos pode ser uma oportunidade ou um risco, pois o foco, sabemos, tem valor competitivo.
Vamos ficar atentos aos acontecimentos dos próximos dias e meses. Observar os movimentos e cada um dos minuciosos gestos que serão dados pelos novos players.
E aproveitar para lembrá-los de que Buda está nos detalhes. Mas isso, historicamente, eles já sabem.
* Adalberto Viviani é presidente da Concept