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A política do “corte burro”

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Ponto de vista

A política do “corte burro”

Os barões da imprensa teimam em manter a mesma lógica informativa de 1950. Notícia, notícia e uma pitada de opinião


8 de maio de 2015 - 10h41

Os primeiros quatro meses de 2015 foram recheados de demissões pelas Redações do Brasil. Apertam as contas e imediatamente gestores pedem redução de custos. E esses custos, via de regra, estouram no staff da Redação.

Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Editora Abril, RBS, SBT, as notícias pipocaram pelo País. E a perspectiva para os próximos meses não é em nada melhor.

Só que aí há uma tremenda “pegadinha”:
Se o produto está definhando – menos leitores, menos espectadores, menos publicidade – como tentar reverter o quadro apenas cortando o que aparentemente é “gordura”? O máximo que se conseguirá obter é uma folha de pagamento um pouco mais leve – mas um produto piorado, desleixado, até pelo protesto inconsciente de quem fica.

A mensagem que a audiência está dando a todos esses meios de comunicação é muito clara: esse modelo de jornal, essa lógica de mídia eletrônica, não funciona mais. A “geração conectada” espera outro tipo de filtro, de seleção de qualidade, de inteligência por trás da notícia. A chave da mudança é mudar efetivamente o produto.

Folha e Estadão demitiram, juntos, cerca de 200 jornalistas. Na Barão de Limeira cortou-se páginas, jogou-se colunistas para as plataformas digitais, mas sem mexer na essência: o velho e surrado jornalão. As duas marcas tentam ludibriar o leitor fazendo inexplicavelmente o mesmo produto dos “anos dourados”. Com menor qualidade.

Há gordura na Redações? Claro que sim. E muita. Mas sem mudar a essência do produto, sem ter coragem de propor algo completamente diferente, nada feito. O leitor não é bobo.

O problema é que os barões da imprensa teimam em manter a mesma lógica informativa de 1950. Notícia, notícia e uma pitada de opinião. Com a metade dos jornalistas. A consequência é um grupo despreparado e estressado, que abdicou de sair às ruas para fazer jornalismo – viva o telefone. Se sair não consegue cobrir três pautas no dia, como exige o editor – outro dinossauro especializado em fechar páginas e não em abrir conteúdos.

Mas há penumbra no fim do túnel do jornalismo brasileiro. O Globo tem apresentado novidades interessantes em suas páginas – que curiosamente seguem entupidas de colunistas estacionados na era do cinema mudo. Selecionando bem é possível encontrar ilhas de inteligência jornalística escondidas em um oceano de conservadorismo.

Aí a pergunta é: vale a pena investir em um exemplar? O leitor paga por aquela informação velha e desinteressante?

Enquanto os gestores acharem que a solução para a crise é reduzir o custo – em vez de repensar o produto – a saída estará a cada dia mais longe. Mata-se o que sobrou da marca, do respeito, da confiança em nome da economia a curto prazo.

O medo de mudar ainda é o maior inimigo da indústria da comunicação no Brasil. E os jornalistas pagam a conta.

* Eduardo Tessler, 50 anos, gaúcho, é diretor para o Brasil da Innovation Media Consulting Group. Foi repórter, correspondente internacional, editor e diretor de redação de diversos veículos brasileiros, e edita hoje site de crítica de informação Mídia Mundo.

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