Meio & Mensagem
13 de fevereiro de 2014 - 11h20
A maioria dos brasileiros apresenta algum grau de dificuldade ao lidar com a linguagem escrita. Por isso, ao se comunicar com esse público, é preciso tomar vários cuidados. Num post publicado aqui meses atrás, abordei alguns deles. Relembrando os principais:
REPITA IDEIAS E PALAVRAS sempre que necessário, sem temer a redundância.
USE FRASES CURTAS, com, no máximo, 22 palavras, apresentando uma ideia por frase.
USE METÁFORAS DO COTIDIANO para simplificar ideias abstratas ou difíceis.
TOME CUIDADO COM ALUSÕES a filmes, músicas e outras referências culturais que podem não ser do conhecimento desse público.
A lista, claro, não para por aí. A seguir, outros três cuidados muito importantes ao escrever para a hoje chamada “nova classe média”.
VÁRIOS TÍTULOS POR PÁGINA
Você vai falar, por exemplo, sobre as qualidades de um novo aparelho celular numa matéria de revista. O aparelho tem várias inovações, portanto, rapidamente seu texto ultrapassa os 2.500 caracteres. Na hora de diagramar, você escolhe o esquema clássico: título, olho, foto e texto.
Pode estar perfeito para falar com os iniciados, mas, se a revista quer atingir também os menos habituados com a leitura, não serve. Você precisa apresentar mais “entradas de leitura”, como são chamados os elementos que convidam para entrar no texto. Volta lá e divide o texto em pelo menos três blocos, dando título a cada um deles. E não um título burocrático, só para cumprir tabela, mas algo que realmente chame a atenção.
Para dividir um textão em três e dar títulos chamativos, você vai precisar reduzir o que escreveu para 2.000 caracteres, mas acredite: cortar é uma bênção! Você acaba jogando fora o que era perfeitamente dispensável. E, com três novas entradas de leitura, sua matéria terá o dobro do ibope.
ESCREVA COMO SE FALA
Tem gente que floreia o texto para desfilar seu vocabulário ou parecer erudito. Claro que, se o seu público é erudito, isso pode até pegar bem. Mostrar que você domina esse tipo de escrita inspira confiança. Mas é óbvio que esse estilo afasta a maioria. O curioso é que muita gente que quer se comunicar com o grande público muitas vezes acaba sendo engolida pela armadilha do escrever difícil. Cansei de ver repórter voltando da rua e explicando a apuração da matéria de uma forma absolutamente clara, mas que, na hora de colocar no papel, complicava tudo.
O jeito mais simples de evitar ou corrigir isso é ler o que você escreveu e se perguntar: eu falaria assim? Usaria essas palavras e essa sintaxe para contar aquela história para a minha avó? Se a resposta for não, simplifique o texto.
Em São Paulo, há alguns anos, um legislador bem intencionado obrigou todos os prédios a colocar uma placa na porta dos elevadores com os dizeres: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
Alguém fala assim?
NÃO SUBESTIME A INTELIGÊNCIA DESSE PÚBLICO
Com a melhor das intenções, o cuidado exagerado em simplificar o discurso pode descambar para o erro de subestimar a inteligência do leitor. Aí, você peca por confundir dificuldade de leitura com limitação intelectual. Quem age assim geralmente se coloca acima do público e assume um constante tom professoral. Explica até o que não precisa ser explicado.
Como fez um grande banco em uma cartilha sobre como se livrar das dívidas, voltada para a classe C. Em dado momento, está lá a explicação de que “juros é aquele valor a mais que os bancos e as lojas cobram quando emprestam dinheiro ou vendem a prazo para o cliente”.
Menos, né? Quem recorre a uma cartilha dessas sabe muito bem o que são juros. O que precisa é de ajuda para fugir deles!
* Demetrius Paparounis é jornalista e consultor de comunicação para a nova classe média.
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