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Cota de paciência

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Ponto de vista

Cota de paciência


14 de agosto de 2012 - 3h06

Tenho informações oficiais que o Governo brasileiro pretende criar a cota de paciência, inspirada na cota de negros, na cota de tela para filmes nacionais, na cota de produção nacional para operadoras de TV a cabo e, mais recentemente, na cota de egressos da escola pública nas universidades federais.

A medida tem como objetivo democratizar o limite da paciência nacional substituindo a expressão “minha paciência tem limite” pela “nossa paciência tem limite”, muito mais democrática e solidária.

A cota de paciência minimizará os efeitos danosos da preparação para a Copa do Mundo de futebol em 2014 e das Olimpíadas em 2016, ambos eventos capazes de esgotar a paciência do brasileiro. Mas também serve para nos preparar para situações limites, as quais estamos vivenciando, tais como o julgamento do mensalão, a greve dos servidores públicos federais, a medalha de prata do futebol em Londres, a discussão entre apresentadores de televisão, o horário gratuito para partidos políticos no rádio e televisão e até a instituição de novas cotas. Acontecimentos capazes de desafiar a paciência nacional.

A cota de paciência atinge todos indiscriminadamente e isso a faz o exemplo de medida de um governo popular e democrático. Paciência não tem cor, raça ou credo, é um estado de espírito que desafia a produtividade do Brasil e, portanto, deve ser determinada pelo governo nacional.

Não há prazo de validade para a cota de paciência. Depois de aprovada na Câmara e Senado, não sem antes ser muito discutida (haja paciência), ela será incorporada aos usos e costumes brasileiros e será cantada em verso e prosa pelas escolas de samba e do escolas do ensino médio, respectivamente.

Reconheço que no começo será um pouco difícil, principalmente diante do fenômeno crescente do brasileiro que, descuidadamente, perde a paciência com muita facilidade. E não se enganem. Foi isso que fez o governo tomar a providencial medida. Como governar descentemente com tanta paciência perdida.

É hora de reencontrarmos nossas paciências. A cota de paciência veio para ficar e deve ser respeitada assim como a lei seca ou a inspeção veicular em São Paulo, medidas que de início parecem impopulares, mas convenhamos, melhoraram muito a sua, a minha, as nossas vidas.

Sobre a coincidência de instituir a cota de paciência em um ano eleitoral, o governo rebate dizendo que medidas necessárias não podem esperar e estão acima dos debates partidários, são ações do governo. E pronto.

Enfim foi feita justiça a uma das mais admiráveis e menos badaladas característica nacional e assim como a disputa das cidades para serem sedes da Copa do Mundo de 2014 (juro que eu gostaria de saber qual a importância de receber um jogo entre Camarões e Costa Rica), as capitais se preparam para disputarem a sede do Santuário da Paciência Nacional, visto que, não é de hoje, o brasileiro demonstra sua fervorosa devoção à Santa Paciência.

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