Férias digitais

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Ponto de vista

Férias digitais

Durante 10 dias, as marcas que me relacionei foram Havaianas, Tuborg, Corona, Coleman, Rochinha e Cia das Letras


7 de janeiro de 2016 - 8h57

Tive a oportunidade de descansar por duas semanas na praia pois a empresa na qual trabalho esteve em férias coletivas. O ano de 2015 foi cansativo e cheio de adversidades como todos sabem. Nada melhor do que recarregar as baterias para outro ano auspicioso, para não usar outro termo com viés negativo.

Pois bem, decidi desligar o meu telefone celular na tarde do dia 25 de dezembro e só retornar a ligá-lo no dia 5 de janeiro, quando retornaria das minhas férias. Dez dias off-line. Desconexão total, alienação, distanciamento foram frases que eu ouvi em relação ao meu comportamento, mas eu preferi chamar o período de férias digitais!

Após os 10 dias cheguei ao número de 1641 desconexões ou 1641 alienações – já explico. Quando religuei o celular, resolvi fazer uma análise do tamanho da minha desconexão, aí vai: 375 e-mails corporativos (lembrando que a empresa toda estava de férias coletivas), 93 e-mails pessoais (99% spam).

Meu último post no Facebook tinha 231 likes e 29 comentários. Tinha ainda 12 solicitações de amizade e mais 10 mensagens via Messenger. 25 Grupos do WhatsApp estavam ativos ( o mais ativo com 375 e menos ativo com 1 mensagem). No total existiam 718 mensagens via WhatsApp, mais 126 imagens enviadas. Minha ultima publicação no Instagram tinha 28 curtidas com 10 comentários. Ainda havia nove solicitações de pessoas querendo me seguir.

Pronto, 1641 interações digitais que não respondi, li ou qualquer outro verbo que defina a nossa vida online nestes dias. Pura alienação digital! Mas não fui sectário somente com as mídias sociais pois deixei de ler os três jornais diários que assino, não li nenhuma revista mensal ou semanal, não acessei nenhum portal ou qualquer outra fonte de informação. Durante 10 dias, as marcas que me relacionei foram Havaianas, Tuborg, Corona, Coleman, Rochinha e Cia das Letras.

Já ouvi falar de hotéis que possuem o NO-FI, escritórios que não permitem uso de celular ou mídias sociais no local. Em algumas cias aéreas ainda existe uma singela desconexão, mas este ato é muito mais uma ação de contenção de custos do que uma estratégia para otimizar a experiência dos clientes.

Será essa uma tendência? Será que no futuro as pessoas se sentirão livres quando estiverem completamente off-line? Hoje as grandes empresas podem gerenciar através do big data qualquer usuário ou relação. Ainda não estamos na fase dos insights individuais através do Big data, mas estamos quase lá, não é mesmo? Seremos mais felizes quando estivermos todos conectados dentro de uma verdadeira aldeia global digital? Ou os três bilhões de pessoas que vivem com menos de U$ 2 por dia são realmente os órfãos digitais eternos? Se tivessem U$ 4 por dia comprariam um smartphone e teriam uma página na web para chamar de sua?

O porquê as pessoas se conectam digitalmente ainda esta em fase de estudos, mas em algumas gerações teremos uma análise mais profunda dos impactos deste tipo de comportamento. Outro dia o telefone fixo da minha casa tocou (sim, ainda existem linhas fixas) e todos na sala já sabiam quem estava ligando. Clarividência? Não, era minha sogra querendo conversar com os netos. Quem nunca viu um casal sentado em uma mesa de restaurante e os dois imersos em seus respectivos mundos digitais? Quem nunca viu atire o primeiro smartphone.

Paulo Octavio P. de Almeida é vice-presidente da Reed Exhibitions

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