Amir Somoggi
18 de junho de 2012 - 7h32
O imbróglio envolvendo a atual diretoria do Flamengo e o jogador Ronaldinho Gaúcho merece uma análise objetiva e isenta. Para muitos que não atuam diretamente no futebol chamou a atenção a briga entre as partes.
De um lado, o jogador cobra o clube pelo não pagamento de salários. Do outro, a diretoria do clube ataca a postura do jogador e sua falta de profissionalismo. No meio de tudo isso, há um processo trabalhista movido pelo jogador que cobra inacreditáveis R$ 40 milhões do clube
Para entender o caso é importante voltar no tempo, na época da contratação do jogador. Como noticiado pela imprensa, quem ficou responsável em pagar a maior parte dos salários do atleta foi a Traffic, empresa de marketing esportivo, que para viabilizar o investimento ficaria responsável por alavancar novas receitas de marketing do clube, através de ações atreladas a marca Ronaldinho Gaúcho.
No momento da contratação o Flamengo divulgou para mídia que a contratação do jogador pelo clube de maior torcida do Brasil seria um marco no marketing esportivo brasileiro, e faria com que o clube faturasse milhões de reais com a iniciativa.
Essa realidade de empresas colocarem jogadores nos clubes virou uma prática recorrente no mercado. Em geral os dirigentes dos clubes dizem que não têm recursos em caixa para trazer nomes de peso para seus times, e por isso recorrem a ajuda de terceiros para viabilizar essas contratações.
O que impressiona é que não houve retorno mercadológico para o clube e nem para a Traffic. Como é possível que um clube do tamanho do Flamengo, uma marca como Ronaldinho Gaúcho e uma empresa como a Traffic não conseguirem viabilizar esses projetos de marketing?
Até agora a única explicação que consigo ter é que faltou um alinhamento do clube com seu parceiro na exploração comercial do projeto.
A princípio usar terceiros para contratar jogadores parece uma estratégia interessante, já que sem grandes custos o clube traz um grande nome do futebol. Mas dependendo do resultado do processo trabalhista em curso, o clube pode ter um prejuízo milionário. Literalmente, o “barato saiu caro”.
E ainda pode abrir um precedente para que outros atletas no futuro entrem na justiça contra os clubes, mesmo que a contratação seja viabilizada por parceiros.
Sou da opinião que os clubes precisam ser geridos de forma muito mais profissional que atualmente. Os clubes aumentam suas despesas de forma absurda, sem que haja um controle de seus orçamentos. Para equilibrar esse descontrole financeiro, contraem empréstimos e gastam fortunas em juros bancários. O Flamengo em 2011, por exemplo, apresentou despesas financeiras de R$ 32,6 milhões, para um faturamento de R$ 185 milhões.
Isso resulta em clubes faturando cada vez mais, mas devendo ainda mais. E essas dívidas em geral são para a manutenção de despesas correntes.
O atual momento de evolução de receitas dos clubes brasileiros seria o ponto de partida para uma mudança no descontrole orçamentário de nossos clubes, já que, com mais dinheiro em caixa e um mínimo de equilíbrio administrativo, os clubes em poucos anos estariam em uma situação financeira muito melhor que atualmente.
Entretanto, se nada for alterado, ao que parece o futuro do nosso futebol será de clubes cada vez faturando mais alto e devendo cada vez mais. Isso significa os clubes cada vez mais dependentes de terceiros desde a contratação de atletas, construção de estádios, ações de marketing, etc.
Seguramente esse não é o caminho ideal para a gestão do nosso futebol.
* Amir Somoggi é diretor da área de consultoria esportiva da BDO
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