Meio & Mensagem
9 de outubro de 2013 - 4h31
Os noticiários da tevê já começaram a veicular as matérias sobre o dia das crianças (12 de outubro). São orientações a respeito da compra dos presentes, que devem ser “brinquedos que obedeçam as normas de segurança do Inmetro” (com o devido cuidado de serem adequados às determinações de cada idade); são descrições do que fazer no dia dedicado aos pequenos; ou mesmo a relação deles com a tecnologia e a vontade de posse dos aparelhos mais modernos (os quais são facilmente desvendados pelas crianças da atualidade).
Ou seja, as abordagens são muitas, mas convergem para uma ênfase espacial no mundo infantil e nas suas temáticas de interesse.
Ligado ao universo das pesquisas e em pleno desenvolvimento de um estudo (o EGM Kids) com uma ancoragem específica, crianças de 0 a 5 anos (babies) e de 6 a 12 anos (kids), não posso me furtar de refletir sobre elas a partir de uma abordagem que tomei conhecimento nos últimos tempos: a “pediocularidade”.
O nome pode realmente soar estranho e permitir associações com coisas bem diferentes do sentido proposto, mas vale a pena entender o conceito – principalmente nos dias de hoje, nos quais as lentes para a observação dos fenômenos da nossa sociedade são múltiplas e infinitamente variadas.
Com a “pediocularidade” aprendi que é possível “ver o mundo através do olhar da criança” (Daniel Cook – The Commodification of Childhood: the Children`s clothing industry and the rise of the child consumer, 2004), mesmo com os entrelaçamentos e percepções que só são possíveis ao olhar do adulto. Na realidade trata-se do investimento em um novo olhar, estabelecido a partir de uma mudança de perspectiva que resulta, “em um novo construto social para a infância”.
Assim, muito mais do que uma mera mudança de foco, pelo empreendimento de novos “olhares adultos” para a criança, a “pediocularidade” plena nos convoca à proposição de uma nova ordem que privilegia o ponto de vista infantil. Trata-se, portanto, da exposição da criança na sociedade, normalmente bem distante da que estamos acostumados a empreender.
Assim, para os “babies” e os “kids”, os nossos olhares devem ser outros, não apenas para refletir sobre as crianças como alvos do nosso dilatado mercado de consumo, mas principalmente para compreender que o olhar sobre a infância, com todos seus imbricamentos, é um fenômeno que se modifica em função da temporalidade e dos contextos sociais com os quais se relaciona.
Por fim, indo além dos brinquedos “ideais” e das opções de lazer para os pequenos (veiculadas exaustivamente nos programas de tevê por conta da proximidade do dia 12 de outubro), é preciso compreender que a “pediocularidade” também solicita dos adultos (que empreendem nessa jornada) um diálogo preciso, mas amplo o suficiente, para a compreensão de um contexto social e cultural que é, irremediavelmente, marcado pela lógica de funcionamento dos mercados sim, entretanto que se constitui de crianças, com necessidades, desejos e perspectivas totalmente ligadas à sua inserção no mundo.
Diego Oliveira é diretor de contas do Ipsos Brasil
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