Geraldo Leite
23 de janeiro de 2012 - 9h56
Essa terceira semana de janeiro valeu como uma excelente pós graduação das novas práticas em vigor na comunicação.
Semana de tragédias e paródias internacionais, nacionais, locais, pessoais e até de costumes.
Nesses sete dias falamos das chuvas e incompetências no País, dum naufrágio na Itália, de um hit do Michel “Ai seu eu te pego” Teló, de um suposto estupro no BBB, até do simples lançamento de um imóvel na Paraíba que chamou a atenção de “quase todos”.
Em comum entre eles, um engajamento que supera a simples exibição natural da mídia – uma rédea que foge ao controle, sentimentos que brotam e transbordam de múltiplas formas – do indivíduo, ao coletivo.
Sempre tivemos chuvas no verão, uma tragédia ou outra nesse começo do ano, um buxixo do BBB, algo esdrúxulo do Brasil e muito mais ainda, lançamentos imobiliários.
Mas agora esses fatos todos são partilhados, dissecados, comentados, ironizados, de forma simultânea aqui e em qualquer lugar do mundo. Fica mais difícil esconder no armário, desligar os refletores, apagar os registros ou fingir que não existiram.
Pelas redes sociais e pela repercussão que propiciam, cada fato, até os falsos, ganha o seu destaque e vira mídia principal.
Como numa espécie de “corredor polonês”, cada um dá o seu pitaco, solta a sua verve ou neurose e toda farinha vira bolo.
E não é só uma questão de Internet, é de sintonia, conexão, velocidade, vontade de interferir e mostrar a sua voz. Hoje dá pra fazer isso, as pessoas (a audiência) também produzem, interferem, criam, copiam; e também manipulam.
No caso das chuvas, vale a pena ver no Youtube o recado indignado ao vivo da âncora do jornal do almoço do SBT em Brasília, jornalista Neila Medeiros, sobre a situação. E vejam, a sintonia foi pela TV Aberta.
Peguem o caso do naufrágio do navio. Em pouco tempo todos no mundo souberam do capitão trapalhão, do comandante herói e até a ordem dele virou um bordão, uma camiseta, um banner…
O Michel Teló virou celebridade internacional com sua única canção tocando e sendo parodiada ou dançada em todo o canto, em todo evento, até pelos soldados israelenses.
O BBB, que é sempre repercussão pura, também teve que se defender de acusações que, verdadeiras ou falsas, maculam a imagem dos envolvidos. Como responder a isso? Como estar preparado para possíveis repercussões? Como não dar munição aos combatentes de sempre?
Pra completar a semana, numa mistura de clima do samba do crioulo doido, com uma pitada de “gente diferenciada”, ocorre um lançamento imobiliário na TV com um colunista social de João Pessoa.
O que era para ficar restrito à Paraíba e talvez à algumas dezenas de pessoas, ganhou o país, em incríveis versões bem humoradas na mídia, em eventos, em shows, nos escritórios,…
Foi uma bela semana pra quem gosta de tentar entender como funciona a mídia.
Todo o mundo teve uma grande lição, “menos a Luíza que ainda estava no Canadá”.
* Geraldo Leite é sócio-diretor da Singular, Arquitetura de Mídia
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