Como as plataformas estão investindo em IA e nuvem
Inteligência artificial foi mencionada mais de 200 vezes nos resultados do trimestre do Google e Microsoft; enquanto isso, segmento de cloud permanece em crescimento
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Thaís Monteiro
12 de maio de 2023 - 6h01
No fim de abril, Alphabet, Amazon, Meta e Microsoft, quatro importantes big techs divulgaram seus resultados do primeiro trimestre de 2023. Os reports são seguidos de uma ressaca da ultra-digitalização da pandemia, intensificação da crise econômica que aflige o mundo, aumento das taxas de juros, ameaça de uma recessão e um intenso corte de pessoal, que segue ocorrendo. Apesar de negativo em relação aos trimestres de anos anteriores, o divulgado surpreendeu positivamente os analistas, sobretudo nas áreas de cloud e inteligência artificial (IA).
A Alphabet teve receita de US$ 69,8 bilhões, um aumento de 3% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Seu lucro foi de US$ 15 bilhões, uma queda de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a receita de anúncios foi US$ 54, 5 bilhões, com queda de 1%.
A Amazon somou US$ 127,4 bilhões de receita, um aumento de 9% em relação ao Q1 de 2022. O lucro foi de US$ 3,2 bilhões — em 2022, a empresa perdeu US$ 3,8 bilhões. Já a receita de anúncios foi US$ 9,5 bilhões, um aumento de 21% em relação a 2022.
A Meta obteve receita de US$ 28,6 bilhões, um crescimento de 3% em relação ao primeiro trimestre de 2022. O lucro foi de US$ 5,7 bilhões, queda de 24% comparado ao mesmo período do ano anterior. No entanto, a receita de anúncios foi 4% maior, totalizando US$ 28,1 bilhões.
Por fim, a Microsoft obteve US$ 52,9 bilhões em receita, um aumento de 7% em relação ao Q1 de 2022. O lucro foi de US$18,3 bilhões, também um crescimento de 9%. A Microsoft divide sua receita em anúncio entre o LinkedIn, que aumentou 7%, e de buscas e notícias, que cresceu em 16%.
As receitas de todas as empresas superaram as projeções de analistas da Refinitiv. Porém, alguns investimentos se destacaram, como em inteligência artificial e serviços de nuvem.
Um levantamento da Bloomberg relatou que a abreviação “AI”, sigla para Inteligência Artificial em inglês, foi mencionada mais de 200 vezes na divulgação de resultados da Alphabet, Meta e Microsoft. “A Inteligência Artificial entrou no radar dos investidores, mesmo aqueles que pouco ou nada entendem da tecnologia. Então, passa a ser obrigatório que o tema apareça em divulgação de resultados e manifestações de executivos para o mercado financeiro, visando pelo menos demonstrar para os investidores que a empresa está se preparando para o explorar os possíveis negócios nesta área”, justifica Marcelo Coutinho, coordenador do mestrado de administração da FGV.
Na ocasião, o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, anunciou que, em breve, os usuários poderão interagir diretamente com modelos de linguagem no Google Search, no Gmail, Docs e de outras de maneiras “experimentais e inovadoras”, descreveu. Além disso, este ano, a companhia também anunciou o lançamento do Bard, seu sistema de inteligência artificial similar ao ChatGPT, e uniu o time do Bard ao de DeepMind para acelerar o progresso em IA.
Nesta quarta-feira, 10, no discurso de abertura do Google I/O 2023, conferência para programadores do Google, o CEO reforçou o intuito da empresa de tornar a IA mais útil.“Há algum tempo, aplicamos IA para tornar nossos produtos radicalmente mais úteis. Com IA generativa, estamos dando o próximo passo. Em uma abordagem ousada e responsável, estamos reinventando todos os nossos principais produtos, incluindo a Busca”, colocou Sundar Pichai.
De acordo com o portal The Verge, o Buscas, do Google, enfrenta competição do ChatGPT, da OpenAI, e da própria Microsoft, que incluiu a última versão do ChatGPT no Bing, seu buscador. Conforme Lucas Reis, CEO da Zygon Adtech, ainda não é nítido a forma como o ChatGPT afeta o modelo de negócio do Bing. “De qualquer forma, isso impacta o Google na medida que seu negócio de Buscas é altamente rentável e a empresa busca inovar”, diz.
Mesmo assim, o executivo acredita que a queda de receita publicitária do Buscas também se relaciona a um limite mercadológico. “O problema é quando você se torna todo o mercado. O mercado de buscas online é basicamente o Google. Assim, quando você tem um processo inflacionário e em que você não aumenta o custo, você tem queda de receita. Não é reflexo de uma mudança de hábito que cria estigação de buscas”, reflete.
Na ligação com investidores, o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, disse que quer apresentar a inteligência artificial para bilhões de pessoas através de todos os produtos da empresa, incluindo WhatsApp e Messenger. Além disso, a empresa relatou que grande parte dos investimentos da empresa está indo para infraestrutura em prol do desenvolvimento de IA.
Já nesta quinta-feira, 11, a Meta anunciou sua IA, um Modelo de Segmentação Universal que identifica objetos, dados e anotações em imagens e vídeos. Por sua vez, o metaverso, que antes era o próximo grande produto da empresa, deixou de ser protagonista para dar lugar à nova tecnologia.
“Ele gastou muito capital político para mudar o nome para Meta e focar em imersão. Não deu resultado em tempo rápido. Então ele viu que a bola da vez é IA. Mesmo assim, a Meta já tem entrega primorosa em inteligência artificial no seu algoritmo e publicidade”, avalia Reis.
A Microsoft não detalhou muito os planos relativos ao uso de inteligência artificial, mas afirmou que está comprometida em liderar a onda da IA que está em voga no momento. No entanto, a empresa já havia anunciado que a IA Copilot será inserida nos aplicativos do Microsoft 365. A Microsoft ainda é investidora da OpenIA.
Segundo Leandro Maraccini Claro, líder em social media e performance da Ogilvy, a IA permite que as empresas de tecnologia aprimorem sua capacidade de segmentação de público-alvo e personalização de campanhas publicitárias, o que pode levar a um maior retorno do investimento para os anunciantes, além de possibilitar melhor experiência ao usuário, o que aumenta a eficácia e a eficiência da publicidade. No entanto, ele alerta que a tecnologia ainda não é um diferencial. “A IA pode ser uma vantagem competitiva, mas não é a única consideração na tomada de decisões de investimento publicitário”, avalia.
Além do foco para a inteligência artificial, os resultados deste trimestre indicaram resultados positivos para os serviços de armazenamento em nuvem. A unidade de Cloud do Google apresentou receita de US$ 7,4 bilhões e lucro de US$ 191 milhões. Foi a primeira vez que a área apresentou lucro. No primeiro trimestre de 2022, a receita foi US$ 5,8 bilhões e apresentou prejuízo de US$ 706 milhões.
Cloud, metaverso e o futuro dos games
A Microsoft também demonstrou resultados positivos nesse segmento, como um crescimento de 24% na receita da sua área de Cloud, resultando em US$ 25,7 bilhões em receita. O presidente e CEO da Microsoft, Satya Nadella disse que a empresa busca inovar sua área de nuvem com adição de sistemas de inteligência artificial.
A AWS (Amazon Web Services), plataforma de nuvem da Amazon, apresentou aumento de 16% nas vendas, tornando a receita US$ 21,4 bilhões e o lucro, de US$ 5,1 bilhões apresentou queda em relação ao ano anterior (US$ 6,5 bilhões). Segundo o CEO, Andy Jassy, as empresas estão sendo mais cautelosas em relação aos seus gastos, mas que a empresa segue priorizar a construção de relacionamentos de longo prazo com os clientes, ajudando-os a economizar dinheiro e permitindo que eles aproveitem as tecnologias com mais facilidade, disse durante a conferência.
Segundo o CEO da Zygon Adtech, Lucas Reis, o resultado é a consolidação de uma tendência antiga. Com a necessidade de corte de custos, as empresas decidiram reduzir o investimento em infraestrutura de armazenamento interno e migrar para os sistemas de armazenamento em nuvem. “No caso da Amazon, isso pode virar maior do que o varejo, então é um negócio mais estabelecido. No caso do Google, é uma diversificação saudável. A Microsoft conseguiu mudar seu negócio de venda de licenças para serviços de tecnologia e nuvem. É a realização da tendência”, avalia.
Apesar de resultados positivos, a receita de anúncios da Alphabet (1% maior que 2022) viu um crescimento bem menor em relação ao aumento de 24% de 2021 para 2022. Ainda que superando expectativas, o YouTube, por sua vez, teve queda em 2,6% nessa frente — terceira queda consecutiva –, de US$ 6,87 bilhões para US$ 6,69 bilhões. O lucro da empresa, por sua vez, está em sua quinta queda consecutiva.
A receita mais lenta ou lucro baixo fazem parte da própria “dor de ser maduro e gigante”, conforme afirmou Reis. Já o caso do YouTube é visto como reflexo de novos players no cenário de vídeo, principalmente de vídeo vertical e curto, como é o caso da popularização do TikTok e do Reels, do Instagram, e vídeos ao vivo, como a Twich. Segundo Claro, da Ogilvy, são plataformas que estão conquistando o tempo de uso e produção de conteúdo entre os usuários mais jovens.
Assim, parte dos anunciantes podem estar em processo de revisão de seu orçamento publicitário pensando em realocar parte dele do YouTube para o TikTok. “A queda na receita publicitária não significa que a plataforma esteja sofrendo um impacto, mas destaca a importância da inovação contínua e da adaptação”, explica.
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