Cresce investimento em narrativas interativas
Depois da Netflix lançar seu quarto longa interativo, YouTube cria área dedicada a produções que colocam o usuário no centro das decisões
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Thaís Monteiro
18 de abril de 2019 - 16h10
No início de abril, Ben Relles, antigo chefe de programação não-roteirizada do YouTube Originals, foi designado para o cargo de chefe de inovação da empresa, área que até então não existia. Suas principais funções são supervisionar produção de conteúdo interativo e especiais ao vivo. O time comandado por ele, de acordo com a Variety, irá focar em integrar ferramentas interativas na plataforma para criar maneiras do usuário interagir e participar do conteúdo.
O anúncio mostra o primeiro passo da plataforma no investimento em narrativas interativas depois do sucesso do episódio Bandersnatch, da série Black Mirror, disponibilizado na Netflix no final de 2018. Mais recentemente, o streaming estreou o filme Você Radical, também interativo. A empresa ainda tem duas produções infantis com a mesma tecnologia.
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O mergulho da interatividade também reflete uma mudança cultural na audiência que segue em busca de controle, diz Fernando Palacios, especialista em storytelling transmídia e fundador da Storytellers Brand ‘n’ Fiction. Com a multiplicação dos canais na TV paga, o usuário passou a ter cada vez mais escolhas sobre sua programação e, portanto, maior controle sobre o conteúdo. “Se formos analisar a história das narrativas, elas eram muito lineares e a audiência em si não opinava muito, ficava passiva. É óbvio que tivemos alguns experimentos como o Você Decide na Globo e em livros. Mas a grande linha narrativa interativa é o videogame, o RPG, em que, dependendo da sua performance e escolha, você tem um desfecho diferente. O consumidor é o protagonista daquilo que ele paga para consumir”, explica Fernando.
Terceira força
Para Fernando, o terceira grande player a investir no formato depois de YouTube e Netflix será a Amazon, já que a empresa investe bastante em tecnologia e é um serviço pago, o que pressupõe maior capital para a produção. Um roteiro de cinema, por exemplo, tem cerca de 115 páginas. Já um roteiro de videogame, que tem natureza interativa, tem cerca de duas a três mil páginas para a criação de uma história ramificada. Para Marcio Canosa, a quantidade de produções interativas nessas plataformas ainda não é significante para gerar concorrência e o crescimento vai depender da equação entre investimento e consumo.
A publicidade também pode liderar caminhos nesse formato. “A narrativa interativa é uma possibilidade muito grande para fazer um anúncio interessante, como branded content. Como produções interativas demandam mais força de trabalho, tempo de produção e de roteiro e dinheiro, haverá mais demanda do que oferta de conteúdo nesse sentido. A publicidade tem mais dinheiro do que o entretenimento e as marcas tem como produzir mais rápido”, argumenta Fernando.
O grande investimento é um dos impeditivos de uma possível expansão da interatividade na indústria audiovisual, mas o comportamento do consumidor também pode ser um obstáculo. O público brasileiro, por exemplo, costuma consumir entretenimento mais pelo aspecto social do que o conteúdo propriamente dito, segundo Fernando. É como se uma série ou um filme fossem principalmente uma desculpa para começar ou participar de um bate-papo ao vivo ou nas redes sociais.
Ainda assim, o especialista crê que há uma demanda latente pelo conteúdo que irá acolher as narrativas interativas conforme elas forem sendo desenvolvidas, principalmente pelo aspecto emocional de estar envolvido nas decisões e na construção da história. “Nós aprendemos a flertar e negociar assistindo filmes, seriados, livros, porque aprendemos a partir da experiência do outro. E o interativo alça isso de patamar, porque não é um personagem, é você. O efeito é de catarse mesmo. Essa é a grande vantagem do interativo”, defende.**Crédito da imagem no topo: Divulgação/Netflix
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