O protagonismo das drag queens brasileiras nas telas do streaming
Com o sucesso de RuPaul’s Drag Race, plataformas criam atrações protagonizadas por drags e apresentadoras comemoram aumento da representatividade nas telas
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Caio Fulgêncio
28 de junho de 2023 - 14h13
Expressões artísticas que “brincam” com os limites do gênero, drag queens são personagens que subvertem as lógicas do padrão cisgênero heteronormativo. A arte drag – apesar de, normalmente, estar associada ao feminino – contempla também drag kings, figuras que transitam no espectro do que a sociedade lê como masculino. No entanto, do glamuroso ao cômico, a variedade de tipos e estilos cresce a cada dia, extrapolando qualquer tipo de binarismo.
Pelo simples fato de existirem, ao desafiarem normas e estereótipos, essas manifestações ganharam papel relevante na luta por direitos LGBTQIAP+. Nas telas, a arte conquistou fãs no mundo todo, sobretudo após o sucesso de Rupaul’s Drag Race, reality norte-americano criado por RuPaul Charles, no ar desde 2009. O programa ganhou spin-offs e se tornou uma franquia mundial, sendo exportado para vários países.
Em respostas à audiência local, a versão brasileira da corrida das drags já foi confirmada. Paramount+ e MTV, responsáveis pela atração, divulgaram o primeiro teaser da produção no dia 11, durante a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Data de estreia, participantes, apresentadores e jurados, porém, não foram anunciados.
Com o interesse do público, os streamings começaram a investir em produção brasileira. Em 2020, Netflix lançou o Nasce uma Rainha, com apresentação de Alexia Twister e Glória Groove. Em 2022, Luísa Sonza e Pabllo Vittar comandaram o reality musical Queen Stars, da HBO Max. O mais recente foi o Caravana das Drags, de Amazon Prime, apresentado Xuxa e Ikaro Kadoshi, que terminou em maio. Nenhum streaming confirmou uma possível segunda temporada dos respectivos realities.
A jornada de Ikaro Kadoshi na televisão começou em 2016, em um tempo em que havia pouco – ou nenhum – espaço para drags na mídia. Naquele ano, apresentou o programa “Drag me as a Queen, no canal E!. Além disso, em 2021, foi a primeira drag queen a apresentar o Miss Universo, bem como conduzir os aquecimentos do Emmy e Oscar.
“Cada conquista representou um passo adiante na luta pela representatividade e pela quebra de barreiras. Estou comprometido em abrir caminhos para que mais drags possam brilhar em diferentes áreas e mostrar ao mundo o nosso talento e versatilidade. Podemos inspirar e transformar vidas com vivências que só uma drag queen possui”, comenta.
Para o Caravana, inicialmente, Ikaro foi contratado como consultor, mas, no meio do processo, foi convidado para fazer um teste e como apresentador. Em relação ao formato do reality, que viajou oito cidades brasileiras, a drag comemora o papel importante que o programa desempenhou com as comunidades do País.
“Em Diamantina, por exemplo, percebemos a importância de levar representatividade. Ao conversar com as pessoas, entendemos os desafios de ser LGBTQIAPN+ ali, sendo uma realidade dura, ao ponto dessas pessoas não andarem sozinhas por medo da violência e preconceito”, lembra.
A influência de 23 anos de trabalho na arte drag brasileira também rendeu frutos no relacionamento com as marcas. Além de apresentador, Ikaro é jornalista, palestrante, mestre de cerimônias e criador de conteúdo digital. Atualmente, possui parceria com a Nike Brasil e atua, principalmente, como speaker da marca sobre lgbtfobia nos esportes.
“Muitas marcas olham para nós somente no mês do orgulho, mas somos capazes de muito mais do que sermos enquadradas em cotas. Portanto, embora tenha havido progresso na visibilidade das drags na mídia, ainda há um caminho a ser construído e conquistado para alcançar uma representação equitativa e inclusiva”, comenta.
Ikaro acredita que o crescimento dos streamings no Brasil tem ajudado a aumentar a representatividade. Ainda assim, existe um longo caminho para o setor percorrer. No entanto, o artista é otimista. “Felizmente, com o avanço da conscientização, há uma crescente demanda por conteúdos diversos e inclusivos. Em outras palavras, o público está ávido por narrativas autênticas e genuínas”, acrescenta.
Alexia Twister, apresentadora do Nasceu Uma Rainha, concorda que as possibilidades são infinitas. De acordo com ela, a importância de RuPaul’s Drag Race para cultura drag inspira a criação de novos espaços e programas voltados para o tema.
“A partir do programa, com o tempo, outros programas surgirão em outros formatos, configurações, ampliando cada vez mais a nossa presença. Esse movimento é benéfico também para a cultura LGBT+, já que a drag acaba sendo uma espécie de linha de frente, uma porta-voz”, fala.
A carreira de Alexia como drag começou em 1996. Com o reality da Netflix, ela comenta que foi possível ampliar o campo de trabalho e usar os anos de experiência em prol de outros artistas. Na dinâmica do programa, os participantes recebiam conselhos para desenvolverem as próprias drags e ganharem confiança nos palcos. “Desse modo, foi a arte drag como um instrumento de transformação na vida de outras pessoas”, comenta.
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