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MWC

Transformação digital pode desacelerar com baixa adesão ao 5G

Previsão de negócios baseados nas redes de quinta geração ficou abaixo do esperado e cria dúvidas sobre avanço de áreas como metaverso e tecnologias imersivas


1 de março de 2023 - 14h14

O mundo tem mais de 1 bilhão de consumidores conectados ao 5G. Além da onda inicial do 5G, os recursos do 5G Advanced darão condições necessárias em inovação para atender ampla variedade de setores da indústria com diferentes ecossistemas. Da conectividade onipresente, segura e resiliente ao recurso de computação de borda (edge computing), a conectividade da infraestrutura móvel pode apoiar a jornada de transformação digital tanto para governos quanto para empresas. Seminário realizado em colaboração com os parceiros e membros do programa DXAF, que é o Fórum de Aceleração da Transformação Digital da GSMA debateu esses tópicos com a participação do partner & diretor do Boston Consulting Group (BCG), Heinz Bernold, o managing director da divisão X da BT, Marc Overton, o cofundador e COO da Dronig, Ralph Schepp, o chief executive director da Born2Global, Jongkap Kim, o head of global policy & advocacy, strategy and business development da Ericsson, Viktor Arvidsson, e o vice-presidente de gerenciamento de produtos da Microsoft, Shriraj Gaglani.

Para o partner & diretor do Boston Consulting Group (BCG), Heinz Bernold, se trata de saber como se pode escalar o nível de infraestrutura de construção do ecossistema para fornecer serviços mais diversificados. “A legislação sempre tem problemas e a regulamentação do governo sempre está um pouco atrasada em comparação com os novos serviços”, afirma. O managing director da divisão X da BT, Marc Overton, ressalta que as empresas de telecomunicações têm um negócio existente para administrar, com muitos clientes com plataformas legadas. “Sistemas legados que gerenciamos. Não podemos ser especialistas em verticais e soluções porque o fato é que fazemos conectividade e fazemos isso com segurança”, diz. Para o executivo, se trata mais de identificar os clientes que estão prontos para ir na jornada digital. “Vamos ter a mesma conversa ano que vem. Transformar a sociedade? É uma grande coisa, mas vai levar tempo e precisamos de paciência estratégica”, diz.

Sem sucesso estrondoso

A despeito dos debates e da necessidade de se envolver governos e empresas para impulsionar a jornada da transformação digital e, posteriormente, da economia digital, o fato é que o 5G não foi o sucesso estrondoso que se esperava há um ano. O 6G virou centro do debate na edição do MWC deste ano, mas o mundo está quase metade sem conexão, o que coloca em perspectiva como será o futuro da internet global. Embora a indústria tenha anunciado e comemorado o primeiro bilhão de conexões 5G, a prometida elevação econômica e as aplicações geniais ainda não se concretizaram. Não se encontrou o paralelo que o 4G fez ao criar a indústria inteira de aplicativos. “Você vai lutar para encontrar um mercado que tenha visto crescimento real e sustentável na receita média por usuário (ARPU) com base nos lançamentos de redes 5G”, aponta o diretor de modelagem e previsão da GSMA Intelligence Matthew Iji.

Mas a indústria, notadamente a de conectividade, não espera sentada e tem argumentado em todas as ocasiões possíveis nos seminários do WC que somente agora, com o o 5G Advanced, é que os benefícios dessa rede aparecerão. A implantação de novas redes e serviços levará o 5G “além dos mercados de vanguarda” na Europa, América do Norte e Ásia, afirmou, por exemplo, o chefe da GSMA Intelligence, Peter Jaric. “O desenvolvimento de novos casos de uso além da banda larga móvel mais rápida, que impulsionou o sucesso inicial do 5G, verá que o 5G chegará mais perto de realizar todo o seu potencial: pense mais em cloud, edge, slicing (fatiamento das redes) e talvez até mesmo no impulso de monetização das APIs.” Mesmo sob esse argumento, pesquisa da própria GSMA aponta que apenas 5% das operadoras definiram estratégia de metaverso empresarial. “A velocidade não é o que vai sustentar a receita”, aponta a GSMA nessa pesquisa, confirmando os humores dos players.

Tecnologias imersivas

Tecnologias imersivas como extended reality (XR) têm potencial para inaugurar uma nova era de experiências (imersivas) do consumidor que se beneficiam dos recursos avançados do 5G em áreas como velocidade, latência e capacidade. Mas, ainda, pesquisa da GSMA Intelligence Operators in Focus sugere que nem realidade aumentada, nem realidade virtual (AR/VR) são prioridades entre as operadoras. No entanto, o chefe da GSMA Intelligence tem grandes expectativas, já que haverá “enxurrada de desenvolvimentos de conteúdo metaverso/XR” ainda este ano, com jogos, vídeo e música na vanguarda.

A lacuna entre a promessa de mudança de jogo do 5G (e do 5 Advanced) e o atual contexto de pouco interesse mostrado por players e consumidores é motivo de preocupação, já que a indústria móvel terá que convencer investidores e governos a apostar no futuro 6G. O que pode bloquear a transformação digital pretendida. E ampliar a splinternet, ou internet fragmentada, que é um processo pelo qual a web estaria se dividindo continuamente em sub-redes, devido a fatores como tecnologia, comércio, política, nacionalismo, religião e interesses nacionais divergentes. Sob esse cenário, nem governos nem empresas terão qualquer vontade de fazer avançar as promessas de transformação e economia digital.

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