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Opinião

MWC discute o “Direct to Device”, a conectividade do satélite direto para o seu smartphone

Estamos no que chamamos de banda estreita e com ela você faz pouco uso além de enviar um texto ou uma foto, mas em um ou dois anos pode apostar que as operadoras não terrestres, em conjunto com as terrestres e a tecnologia D2D, alcançarão os 2 Mbps


1 de março de 2024 - 15h44

Enquanto a inteligência artificial generativa tomou espaço de muitos dos estandes durante a Mobile World Congress (MWC), uma pequena revolução na comunicação entre pessoas e dispositivos está acontecendo em paralelo. Ela envolve o crescimento e amadurecimento de um cenário onde as pessoas não ficam mais sem conexão, mesmo quando a última torre de telefonia passou pela janela do carro, ônibus ou navio faz bastante tempo.

Na segunda metade do século 20 o mundo conseguiu se livrar dos fios para conversar com amigos, parentes ou até mesmo fechar negócios. A primeira ligação telefônica sem depender de cabos aconteceu em 3 de abril de 1973, inaugurando uma nova era das conexões. Seja ela uma conversa por voz, envio de fotos, documentos, jogos com centenas de outros jogadores simultâneos ou mesmo matar a saudade de quem está longe, por meio de uma chamada de vídeo.

Trocando em miúdos, a comunicação com aparelhos móveis depende de fios que estão conectados em antenas e elas têm alcance limitado para funcionar de forma eficiente. Se você sai desta área, qualquer chance de falar com o outro lado acaba. Pois bem, este cenário está começando a mudar para o grande público.

O desafio dessa limitação é superado pelos satélites, e embora já existam algumas conexões diretas para os dispositivos dos usuários, a ênfase na MWC é tornar essa tecnologia acessível não apenas por meio daqueles aparelhos volumosos, destinados a socorristas ou empresários, mas também para qualquer pessoa, incluindo eu e você.

Satélite e operadoras tradicionais trabalhando juntas

Chamamos este tipo de conexão direta do satélite ao dispositivo de Direct to Device, ou D2D. Traduzindo, entenda que a ideia é entregar a conectividade do satélite direto para o smartphone na sua mão, mas não só isso. Redes não terrestres, ou NTN (Non Terrestrial Networks), podem trabalhar em conjunto com operadoras tradicionais para aumentar o alcance das torres.

Com este tipo de rede, o usuário pode utilizar o celular mesmo quando está em um ambiente completamente remoto. Alguns exemplos que já aconteceram podem ser aplicados por aqui, quando a conectividade via satélite de um iPhone 14 enviou um pedido de socorro durante o incêndio que aconteceu em 2023, na ilha de Maui, no Havaí.
Naquele momento, o fogo deixou uma família isolada fisicamente e com torres de celular inoperantes, mesmo assim o satélite conseguiu salvar todos ao enviar socorristas para o local correto.

Existem mais exemplos de pessoas sendo resgatadas com ajuda da conectividade direta ao satélite, como dois turistas perdidos em uma escalada da cordilheira dos Apeninos, na Itália. Olhando o mundo para além de humanos em perigo e longe de uma antena de operadora, posso listar rastreamento de cargas, monitoramento preciso de regiões inteiras, conectividade para medidores inteligentes de energia, água e tantos outros.

Com o crescimento das redes NTN em parceria com as operadoras tradicionais, este tipo de ajuda não depende mais de um modelo específico de celular. A própria indústria de smartphones vai acompanhar o aumento do interesse para este tipo de conectividade e vai aumentar a oferta de dispositivos compatíveis, reduzindo o custo de compra.

Associação procura padronizar o uso do D2D

Um assunto debatido recentemente e reforçado agora na MWC é a criação da Mobile Satellite Association (MSSA). Ela é uma associação com objetivo de criar um padrão para que todas as operadoras associadas trabalhem com interoperabilidade, permitindo que o usuário trafegue entre uma ou outra da mesma forma como hoje o celular é compatível com 4G ou 5G de praticamente qualquer operadora do Brasil e do mundo. Você não precisa de um aparelho diferente quando viaja para outra cidade, estado, ou para Argentina, Chile, Estados Unidos, Japão ou qualquer outro país.

A MSSA conta atualmente com cinco empresas envolvidas e todas utilizam o mesmo D2D que falei no começo deste artigo. Elas oferecem as bandas L (entre 1 e 2 GHz) e S (de 2 até 4 GHz) e conversam diretamente com operadoras tradicionais, fabricantes de celulares e dispositivos conectados de todos os tamanhos (desde um pequeno sensor de chuva, até um grande veículo para o agro) e fornecedores de chips.

Um padrão aberto beneficia não somente o usuário que pode viajar tranquilo para o interior ou ter garantia de conexão até mesmo quando navega nos oceanos da Terra, mas também para a indústria como um todo. Ao olhar para as conversas durante a MWC, posso garantir que este é um momento de inflexão sobre a tecnologia D2D.
Ainda na MWC, a GSMA, associação internacional que representa mais de 750 operadores de telefonia móvel em 220 países, celebrou com a Agência Espacial Europeia (ESA) acordos para viabilizar esta padronização de conexão entre redes terrestres e satélites. Não estamos falando apenas de papéis assinados e aperto de mãos, mas um incentivo de 15 milhões de euros (mais de R$ 81 milhões) para a ESA encontrar meios para estimular inovação e criação de projetos neste sentido. Seria algo como um 5G ou 6G com trabalho conjunto com quem opera os satélites.

Claro que toda conectividade precisa passar por um crivo bastante criterioso de regulação de todo o planeta. Se por um lado estamos em clara discussão para o futuro próximo onde as pessoas, carros, indústrias e sensores de internet das coisas poderão ser conectados diretamente aos satélites, o lado regulatório deverá ser aprofundado já nos próximos meses.

Hoje a conectividade D2D é limitada, mas em 24 meses você assistirá até vídeos

Para fechar, a atual situação deste tipo de conexão ainda é limitada. Estamos no que chamamos de banda estreita e com ela você faz pouco uso além de enviar um texto ou uma foto, mas em um ou dois anos pode apostar que as operadoras não terrestres, em conjunto com as terrestres e a tecnologia D2D, alcançarão os 2 Mbps.

Para ajudar na tradução destes números, saiba que oficialmente o YouTube diz que uma conexão de 1,1 Mbps é suficiente para assistir um vídeo em resolução de 480p, a mesma dos DVDs. Imagine que, em dois anos, você pode ter mais do que o suficiente para assistir qualquer conteúdo do YouTube com boa qualidade, mesmo quando estiver longe de qualquer torre de celular. Ou então já terá uma chamada de voz pelo WhatsApp sem perda de qualidade, como se ela estivesse no Wi-Fi de casa.

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