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É hora de renascer!

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Opinião

É hora de renascer!

Precisamos continuamente fazer mais com menos e isso acontece não somente como decorrência da crise


10 de maio de 2016 - 8h00

Estamos enfrentando dias desafiadores. É verdade que nestes tempos me sinto indecisa, e tenho a necessidade de me aprofundar mais nas diversas possibilidades existentes antes de tomar decisões. Mas a realidade do momento, ao contrário, nos exige definições rápidas, para que não percamos oportunidades. É preciso garantir que toda a empresa esteja em sintonia, fazendo mais com menos, realizando mais. É sobre isso que gostaria de refletir. Tenho a impressão de que precisamos continuamente fazer mais com menos. E isso acontece não somente como decorrência da crise, mas como parte da cultura dos negócios, capaz de tornar as empresas melhores e mais competitivas. Sobre esta perspectiva, temos na Blue Tree um conceito baseado no Mais com Menos, cultura que aprendi com o povo japonês – que sempre teve que se ajustar à pouca riqueza e aos desastres da natureza que os obriga a, de tempos em tempos, recomeçar do nada. Capacidade de sobreviver é pauta comum no Japão há milênios.

 

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Momento exige pensamento aprofundado, mas decisões rápidas

Já comentei no passado sobre Mottainai, mas gostaria de pontuar alguns aspectos. Nos anos 1700, quando o mundo ocidental atracou em Tóquio, os desbravadores, principalmente portugueses, ingleses e holandeses, ficaram tão surpresos com a limpeza da cidade (e os japoneses com o tamanho dos ocidentais!) que fizeram estudos, para entender o motivo de tamanha limpeza. A conclusão da análise, que consta nos registros da época, revelou simplesmente que: não tinha lixo porque não havia desperdício. Por exemplo, o quimono, vestuário tradicional dos japoneses, era feito de tecido sem recortes, só pano reto, cortado em tamanhos específicos, o que facilitava o ajuste. Assim, um quimono era “eternizado”, usado por diversas gerações de uma mesma família e, quando necessário, ajustado para vários filhos. Mas o consumo consciente não terminava aí. Quanto mais gasto e amaciado, o tecido dos quimonos era usado como fraldas. Depois, quando em farrapos, era ainda usado como enchimento para acolchoados, ou cortado em tiras, das quais eram feitos os calçados da época, similares às “havaianas”. A mesma lógica contra o desperdício era utilizada em tudo: não tinha gravetos ou resíduos nas ruas porque as pessoas os pegavam para fazer comida ou se aquecerem no frio. As espinhas dos peixes eram guardadas, secas ao sol e temperadas para se transformarem em “furikake”, cálcio, servido até hoje nas refeições, devorado pelas crianças, adultos e idosos. Assim, foi se formando entre os japoneses, a cultura de reciclar, reaproveitar, transformar e maximizar a vida útil das coisas. Para esses orientais, reaproveitar ou cortar custos não é sinônimo de avareza e sim de competência. Ao longo dos séculos, e passando por tempos de prosperidade, esta cultura foi perdendo o foco, mas ressuscitou ao longo dos anos de estagnação da economia japonesa. E acredito que, ainda mais agora, devemos valorizar cada centavo e oferendas da natureza.

Mas fazer mais com menos é somente uma parte da receita: é preciso inovar, reinventar, exercitar com velocidade da luz a capacidade de antecipar o futuro e construir rapidamente o que poderá ser uma necessidade para o mercado. É fazer a tradicional pergunta “O que podemos fazer hoje para criar o desejo e prever o amanhã?”.

No Blue Tree Valinhos que abrimos recentemente, por exemplo, trouxemos o conceito já conhecido do hotel ser “sua casa” longe de casa. Para tanto, pensamos em como poderíamos recriar as boas tradições nos quais a família era autossuficiente e produzia alimentos para o seu próprio consumo. Pesquisamos e identificamos produtos locais frescos, trazidos diretamente do produtor, como queijo fresco, tomate, hortaliças, figos deliciosos, entre outros, para serem incorporados ao cardápio do hotel. Desta forma, valorizamos a parceria com a cidade que nos acolheu, obtemos ótimos produtos a preços melhores e fortalecemos a imagem da cidade junto aos nossos hóspedes. Penso em estender este tipo de parceria local aos nossos hotéis, colaborando com a produção regional. Sempre tem espaço para produtos competitivos, que têm como conceito básico o melhor da qualidade.

Assim, é hora de puxar ao máximo o potencial do nosso “computador interno”, juntá-lo aos nossos sonhos e atuar com entusiasmo, tal como a fênix que faz tudo até o seu limite para entrar em combustão e, então, renascer, para novos voos.

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