O esporte nos tempos da Lava Jato
Patrocinadores devem assumir uma responsabilidade maior, impondo seu maior poder na relação para exigir contrapartidas de melhores práticas de gestão, que tragam transparência e controle dos recursos
Patrocinadores devem assumir uma responsabilidade maior, impondo seu maior poder na relação para exigir contrapartidas de melhores práticas de gestão, que tragam transparência e controle dos recursos
Na esteira do deslumbramento dos torcedores durante a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em nossas terras, criou-se uma expectativa de que o esporte finalmente alcançaria um novo patamar em termos de negócios, com a rentabilização do investimento das marcas já associadas, bem como a entrada de novas marcas. Os equipamentos esportivos de ponta e de custos estratosféricos aqui instalados passariam a sediar os maiores eventos esportivos e de entretenimento do mundo, saciando assim a nossa demanda reprimida.
O que explica, então, que tenha acontecido exatamente o contrário: uma debandada de vários patrocinadores associados a propriedades de grande apelo, tanto lá fora — Copa do Mundo da Fifa — como principalmente por aqui — clubes de futebol, Comitê Olímpico do Brasil (COB), confederações e atletas? O que dizer, então, do abandono dos equipamentos esportivos pagos por toda a sociedade por conta das exigências descabidas dos organizadores?
Alguns fatores como a estratégia imediatista e focada em visibilidade de algumas marcas, e a baixa qualidade das “entregas” por parte dos patrocinados têm certamente seu peso, mas me parece claro que o principal fator é a baixa credibilidade do esporte, produto da histórica má gestão de seus dirigentes e do ambiente que permite que eles se perpetuem no poder e não sejam responsabilizados devidamente por seus atos.
Os casos parecem se multiplicar, com dirigentes do futebol e de desportos aquáticos presos, e modalidades como basquete, handebol, taekwondo e tênis enfrentando denúncias de irregularidades, principalmente de desvio de recursos.
Parece familiar? Pois é, o esporte, como qualquer outro ramo de atividade que movimenta recursos financeiros expressivos, é apenas mais uma face da cultura da corrupção tão arraigada em nosso País. Como temos visto diariamente na mídia, são apenas as “regras do jogo”, o que banaliza ainda mais a conduta errada.
Temos um longo caminho no combate a esse mal, mas me parece que o lado positivo é que o nível de indignação atual é tão grande que essas regras do jogo terão que ser mudadas de alguma forma.
Para tanto, me parece fundamental que os patrocinadores assumam uma responsabilidade maior nessa relação, deixando de ser apenas o financiador para ser um agente de transformação, impondo seu maior poder na relação para exigir contrapartidas de melhores práticas de gestão, que tragam transparência e controle dos recursos.
Temos visto algumas iniciativas ainda tímidas nesse sentido, tais como a manifestação de alguns dos principais patrocinadores da Fifa pela saída imediata do ex-presidente da entidade, Joseph Blatter, ou a criação em 2015 do “Pacto pelo Esporte”, documento assinado por 20 patrocinadores do esporte brasileiro que estabelece regras de gestão e governança para que as empresas signatárias façam patrocínios a entidades esportivas. Recentemente, os Correios condicionaram a manutenção de seu apoio à Confederação de Desportos Aquáticos (CBDA) à apresentação de um plano de gestão e transparência dos seus controles internos.
Devemos acompanhar o desenrolar dessas iniciativas para que não fiquem apenas nas boas intenções, mas que efetivamente sirvam de regra para a transformação da relação dos patrocinadores com os patrocinados. Não tenho dúvida de que essa é a única maneira de realizarmos o potencial do esporte como negócio no País e que não há timing melhor do que esse.
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