Silicon Valley e a destruição de padrões
Uma reflexão de como o varejo pode aprender com a implacável cultura de inovação que permeia o Vale do Silício
Uma reflexão de como o varejo pode aprender com a implacável cultura de inovação que permeia o Vale do Silício
24 de fevereiro de 2017 - 9h00
Tenho me desafiado a estudar novos caminhos que quebrem os paradigmas do varejo. Encontrar modelos que consigam me inspirar a traçar nova rotas com melhores resultados, tem sido minha busca constante. Foi com este pensamento que embarquei para a incrível experiência de fazer um Kes Trek de inovação no Vale do Silício. Sem saber direito o que iria encontrar, me doei profundamente a esta imersão e posso afirmar: estou inquieta para fazer acontecer um pouco do que vivi por lá.
Começo afirmando que devemos esquecer a forma que o varejo atua no ambiente físico hoje. O consumo mudou e certamente este formato repetitivo que se perpetua desde a época do mercantilismo (hello século XV!) não funcionará num curto espaço de tempo.
Alberto Savoia, professor em Stanford e “innovator agitator” do Google bem colocou em seu discurso: “Para os que hoje são pais, devem se lembrar que quando éramos filhos fomos ensinados a não falar com estranhos, a não pegar carona com estranhos, etc (…) Hoje seu filho se locomove no carro de uma pessoa que ele nunca viu (Uber), dorme na casa de alguém que ele não conhece (Airbnb) e isso é só o começo. É tudo normal!”
Inovação é de fato a palavra do momento. Está presente em boa parte das discussões empresariais. Nenhum formato de negócio e nenhuma industria está seguro quando o assunto é inovação, pois este é um campo que se movimenta de forma cada vez mais rápida, com crescimento exponencial e ação (muitas vezes) devastadora.
Nesta reflexão, vou compartilhar um pouco das minhas inquietudes e dos meus desejos voltados ao varejo físico brasileiro que, sem sombra de dúvida, precisa inovar.
1. No copy and paste
Não existem fórmulas. No novo varejo não teremos tempo de copiar boas ações/atitudes dos concorrentes. Crie seu caminho. Estimule sua equipe para pensar em formatos com os quais seu consumidor não esteja acostumado. Que tal dedicar 20% do seu tempo para pensar em novos projetos? Ouvi um caso de um vice-presidente de uma grande agência de publicidade do Vale do Silício que trabalha como motorista Uber alguns dias no mês para simplesmente escutar e trocar com pessoas que trabalham na região. Isto é incrível! Quantas vezes saímos do nosso escritório e vamos para as ruas ouvir demandas, observar comportamentos? Ou mais, com qual freqüência vamos às nossas lojas ouvir o que de fato nossos consumidores querem? Estamos no momento onde alinhar nossas entregas de varejo com as vontades do consumidor será o fator decisivo de sucesso. O consumidor é o centro.
2. Diversity
“Como diria Steve Jobs: pense diferente. Como se faz isso? Com gente diferente”, disse Keane Yangnane, um dos fundadores da disruptiva School42. Temos que ser cada vez mais inclusivos. Ter equipes compostas por perfis diversos é um excelente começo para conseguir caminhos mais inovadores. Trabalhamos com gente e através de gente. Não são números, não são produtos, são pessoas atrás de tudo isso que vendemos no varejo. Muitas marcas encontraram na “diversidade” uma forma de catapultar sua imagem em redes sociais. Esta certo isso? A inclusão não deveria ser uma bandeira focada em quotas alcançadas, mas sim um grande passo para uma nova cultura nas corporações. Será que não estamos rotulando pessoas (LGBT, negros, mulheres, idosos) para encaixa-los em um box? Esqueça os rótulos e busque um caminho mais colaborativo entre equipes e parceiros diversos.
3. Sale is the new black
Valorize o papel do vendedor. No Vale do Silício, tão importante quanto criar uma nova idéia é saber vender este produto para um público que tenha possibilidade de provocar uma demanda exponencial. Logo no primeiro dia de vivência no Vale, me perguntei: Quando ser vendedor deixou de ser algo valorizado no Brasil? Até pouco tempo atrás, muita gente sonhava em seguir carreira no varejo. Hoje, principalmente para a nova geração, o varejo é um ritual de passagem. Um trabalho temporário. Fato é que perdemos nossa capacidade de contratar e reter talentos (hello Recursos Humanos!) e sem bons vendedores meu caro, não há negócio que prospere.
4. Believe
Precisamos acreditar. Somos agentes transformadores da nossa própria realidade. A crença num objetivo é o nosso direcionamento para um trabalho assertivo. Qual é a essência da marca? Qual é o seu propósito? Uma marca precisa de uma rota a seguir. Uma rota clara e simples. Nossa rota é nossa estratégia e quanto mais claro for este caminho mais consistente será a entrega do resultado. Muitos varejistas brasileiros não tem um propósito claro. Talvez seja este o momento de revisita-lo. Rever seu propósito pode fazer com que seu formato de negócio seja reinventado. Tenha coragem de mudar, seu negócio precisará disto no futuro!
5. Experience
Crie uma cultura que inclua testes e experiências reais dentro de sua empresa, mais precisamente dentro de sua loja. Para termos experiência precisamos vivenciar. Ao vivenciar vamos acertar algumas vezes mas, com certeza, falharemos outras tantas! Não porque queremos ou porque somos ruins no que fazemos mas simplesmente porque a falha faz parte do processo de inovação. Engaje sua equipe para inovar e aceite falhas. Vivenciei, de maneira muito clara, que para prosperar precisamos ter uma cultura que permita o erro. Para os que atuam com varejo, a experiência tem que ser vivida no front, no “chão de loja”. Apenas com a barriga no balcão poderemos realmente testar a real entrega da marca em relação a novos produtos e serviços. Não dá pra inovar apenas sentado na cadeira do escritório!
Voltei dizendo que levei um tapa na cara. O mindset inovador do Vale do Silício conseguiu bagunçar alguns padrões que norteavam meu dia-a-dia. Fiquei anestesiada, acordei e agora estou louca para sair da minha zona de conforto e de me aventurar para caminhos menos lineares dos que o que eu estava acostumada. Só me resta começar!
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