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Nem Cartão, Nem Dinheiro. Aceita Moeda Eletrônica?
Não é de hoje que os bancos entraram na corrida pela digitalização, movimento que temos visto se intensificar recentemente em uma batalha de bits
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9 de maio de 2016 - 10h13
Em 1995, quando a Internet era ainda um bebezinho, o Unibanco lançou o Banco1.net, uma das iniciativas pioneiras de criação de uma instituição financeira totalmente virtual. Durante nove anos em que esteve on-line, o banco chegou a atender mais de 70 mil clientes, mas talvez a precocidade tenha levado ao fim das suas operações, algo totalmente compreensível em uma época não muito distante na qual o consumidor ainda tinha receio de acessar e movimentar a conta corrente pelo computador.
Vinte anos depois do Unibanco criar seu filhote digital e com o ingresso no mercado financeiro de uma geração que nasceu após a invenção da Web, acompanhada da explosão do uso dos smartphones, estamos assistindo a uma transformação que, não tenham dúvidas, levará ao fim do dinheiro e dos bancos como conhecemos.
Não é de hoje que os bancos entraram na corrida pela digitalização, movimento que temos visto se intensificar recentemente em uma batalha de bits e apps por um cliente conectado, antenado, que não lembra a última vez que entrou em uma agência bancária; talvez nunca tenha entrado na vida.
Mas a principal ruptura do sistema financeiro e do mercado de meios de pagamento não será apenas a digitalização dos serviços bancários e o lançamento de aplicativos mobile, e sim a transição do tradicional modelo, envolvendo cinco participantes (portador, estabelecimento, adquirente, bandeira e emissor), para a disseminação da moeda eletrônica, que já está transformando instituições não financeiras em emissores de moedas digitais.
Não entendeu? É simples. Por não ser uma moeda com lastro, qualquer entidade pode assumir a função de Banco Central e passar a emitir dinheiro eletrônico, que pode ser utilizado para transações on-line ou mesmo para compras de bens e serviços. Para quem acha que esta é ainda uma realidade distante, recentemente o australiano Craig Wright, que se escondia atrás do pseudônimo japonês Satoshi Sakamoto, revelou ser o criador do Bitcoin, moeda eletrônica que foi colocada no mercado em 2009.
Mesmo com tantas polêmicas e com seu criador tendo ficado no anonimato por tanto tempo, atualmente o Bitcoin já tem por volta de 15,5 milhões de unidades em circulação, cada uma com valor equivalente a cerca de US$ 449, uma prova de que não é preciso ser o Banco Central para que o emissor tenha a confiança da sociedade.
Por aqui, duas empresas de telefonia celular já lançaram cartões pré-pago e passaram a oferecer serviços antes reservados aos bancos. O TIM Money é uma parceria com a Caixa Econômica Federal e a Mastercard que oferece aos clientes da operadora e do banco um sistema de pagamento móvel pelo celular. Já a Vivo criou o Zuum, que possibilita ao cliente realizar diversas transações pelo telefone, como transferências, pagamentos de contas, recarga do bilhete único e até mesmo saques na rede conveniada.
Na África, a gigante Vodafone já oferece desde 2007 o M-Pesa, hoje massivamente utilizado em países como Quênia e Tanzânia. A carteira móvel da operadora, que transformou o celular em um cartão de banco, incluiu no sistema financeiro milhões de cidadãos que tinham poucas opções de serviços bancários e de cartões de crédito.
Mas é seguro?
Nesta revolução digital do sistema monetário, os bancos, claro, não querem ficar para trás e foram agraciados há poucas semanas com uma nova norma do Banco Central que autoriza os clientes a abrir contas pela Internet sem precisar se deslocar até uma agência bancária, trazendo mais agilidade e segurança na medida em que levará à adoção de novas tecnologias para checar dados e, assim, evitar fraudes e lavagem de dinheiro, como localização do cliente por GPS, reconhecimento facial ou de voz e a exigência de certificação digital.
O correntista da geração millenium não quer mais saber de dinheiro, cheque ou cartões de plástico. Não quer receber correspondências em papel, falar com a central de atendimento ou ter que ir a um ATM para sacar moedas, que, de tão ultrapassadas, remetem à Idade Antiga, quando substituíram o sal como meio de pagamento no Império Romano e eram cunhadas em metais com a efígie do Imperador.
A inevitável digitalização das funções e serviços bancários e do papel moeda abrirá fronteiras para o surgimento de novos players no mercado financeiro. As fintechs estão aí, com a faca nos dentes para criar modelos disruptivos, capazes de colocar em risco toda uma cadeia de serviços estruturados no velho e ultrapassado jeito de transacionar moedas e pagar as contas.
Quem vai sobreviver a estas mudanças é uma novela daquelas que não vale a pena perder um capítulo sequer. Mais que isso, com empreendedores digitais cheios de coragem e boas doses de inovação, deverá revelar novos atores dispostos a brigar pelo papel principal.
Onde estarão as melhores oportunidades para empreender?
E o que não deve mudar?
Fim do plástico – Em alguns setores, como o de meios de pagamento, a revolução está em pleno curso. Com a carteira repleta de cartões, o consumidor carrega cada vez menos dinheiro e o talão de cheques há tempos não sai da gaveta.
Mas, além da inconveniência de carregar dezenas de cartões, a tecnologia das maquininhas para passar os plásticos é complexa e cara, obrigando o comerciante a investir pesado em infraestrutura técnica.
Empresas que desenvolverem soluções para simplificar o sistema de consolidação das transações devem ganhar terreno e a tendência é a migração para os apps de pagamento.
Fim dos ATMs e do POS – Fabricantes de hardwares como leitores de cartão e ‘caixas eletrônicos’ estão entre os mais vulneráveis às mudanças. A tendência é que a captura das transações passe dos POS para os apps, onde serão lidas e concluídas através de novos sistemas instalados nos próprios smartphones dos comerciantes, mais baratos e de fácil implementação, que irão aposentar o repetitivo mantra “não precisa imprimir minha via”. Afinal, o comprovante chega pelo app.
Com cada vez menos dinheiro em circulação, os ATMs e POS deverão ter o mesmo destino das fichas telefônicas e dos orelhões da Telesp (quem se lembra deles?).
Novos players – Empresas como PayU, PayPal, PagSeguro e Mercado Pago continuarão a avançar na medida em que seguirem desenvolvendo soluções tanto para o mundo online quanto off-line.
Não será surpresa se assistirmos um movimento de fusões e aquisições destas empresas com companhias de processamento da velha geração para aproveitar da força competitiva de sua rede de relacionamento já estruturada com os varejistas e bancos.
No segmento bancário e de crédito, negócios 100% digitais irão ganhar market share com produtos e serviços que dispensam investimentos com agências e funcionários. Sugiro acompanhar os próximos passos de fintechs e instituições como Banco Intermedium, Nubank e Banco Original.
Bandeiras – Empresas como Visa, Mastercard, Diners e Elo continuarão sendo vitais para o sistema e não devem ser afetadas porque não são as responsáveis por processar as transações, mas fornecem a rede que conecta consumidores com os varejistas e as instituições financeiras.
Para as bandeiras, o surgimento de novos modelos e players criará novas janelas para aquecer ainda mais a adoção de meios eletrônicos de pagamento, seja no formato de plástico, em tendência de queda, nos smartphones ou em tecnologias vestíveis, como relógios ou pulseiras. Mas elas precisam abrir-se a moedas digitais rapidamente e desenvolver APIs para as fintechs conectarem-se nas suas plataformas de forma rápida e confiável. Quando anunciarem este suporte a transações de moedas digitais (como Bitcoin e similares) e publicarem suas APIs como empresas de Internet o fazem, a ruptura virá na velocidade da luz.
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