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O Uber dos bancos tradicionais está próximo
Com a digitalização crescente das transações monetárias, o fim do dinheiro em papel moeda é quase inevitável
Com a digitalização crescente das transações monetárias, o fim do dinheiro em papel moeda é quase inevitável
Sergio Damasceno Silva
10 de maio de 2016 - 17h45
O dinheiro, como o conhecemos, apareceu na Suécia por volta de 1660. Coincidentemente, o primeiro país do mundo no qual as cédulas devem ser extintas. É claro que houve outras moedas em civilizações mais antigas, como a China, romanos, gregos e fenícios. Mas, formalmente, o papel-moeda tornou-se aceito a partir da Suécia. Portanto, as cédulas com a qual os mais de 200 países do mundo fazem transações têm, pelo menos, 350 anos. Com a digitalização dos meios de pagamento, no entanto, é uma questão de tempo para que cédulas, moedas e o sistema financeiro tradicional passem por um processo de “uberização”, ou seja, tal e qual tem acontecido com a ruptura do modelo tradicional de táxis no mundo, surja um (alguns) Uber para romper também com o setor.
E esse foi o tema do debate da palestra “O fim do dinheiro”, sobre qual será o futuro do papel-moeda num mundo em que tudo é negociado por meios eletrônicos e na forma de dados. O debate aconteceu no segundo e último dia do ProXXIma 2016, que é realizado em São Paulo (SP) e teve a participação do economista e cientista social da USP, Gilson Schwartz, do presidente da Cubo e Bitinvest, Flávio Pripas, e do diretor de inovação do Banco Original, Guga Stocco, mediados pelo diretor da Bites, Manoel Fernandes.
Segundo os palestrantes, com a digitalização, o papel-moeda perde sentido. Apenas a China, onde esse movimento é bem intenso, as transações peer-to-peer (a grosso modo, transações de computador a computador), chegaram a US$ 66,9 bilhões sem que um só banco tradicional participasse do processo. Schwartz, da USP, afirma que o impacto sobre as receitas dos bancos convencionais deve passar dos US$ 850 bilhões em 2015 para US$ 1,2 trilhão em 2023, com a migração em massa dos recursos financeiros sendo geridos por meios eletrônicos ao invés de passarem pelas portas de conglomerados financeiros atualmente estabelecidos. “Os bancos vão penar”, afirma Schwartz.
No Reino Unido, que é considerado o centro financeiro mundial por excelência, mais de 2 milhões de pessoas não têm contas bancárias. Por outro lado, cerca de 90% dessas pessoas têm smartphones, pelos quais é possível fazer qualquer transação financeira sem bancos que intermedeiem o processo. E são vários os setores envolvidos – os consumidores, o varejo, os fornecedores de celulares, os criadores de apps, os desenvolvedores de softwares, os próprios bancos tradicionais e os fornecedores de tecnologia. Quando se fecha o círculo com esses fornecedores numa cadeia que inclui o e-commerce e o pagamento sem transações bancárias, definitivamente, é o fim do dinheiro. O e-commerce movimenta US$ 1,6 trilhão e opera mais de 12 milhões de lojas em todo o mundo.
Para Pripas, da Cubo, as transações se misturarão com mídia nos próximos anos. Schwartz diz que a moeda virtual é mídia. O surgimento do Banco Original, 100% digital, é exemplo desse desaparecimento dinheiro físico. “Antes, os bancos migraram para a web; depois, para o celular. Mas, apenas como cópias das agências bancárias. Agora, é necessário efetivar o banco digital e fazer transações como se fosse um post no Facebook ou uma busca no Google”, exemplifica Stocco, do Original.
Desencadeadas por esse movimento com a moeda virtual, as fintechs (financial technologies) já se mostram viáveis para que apareça, efetivamente, o Uber dos bancos: em 2010, foram investidos US$ 1, 8 bilhão em startups fintechs. No ano passado, esse volume saltou para US$ 19 bilhões. No Brasil, o processo está atrasado. Enquanto no mundo, com a Suécia à frente, reduz o número de agências bancárias (nos nórdicos, – 32%), a América Latina continua a investir no modelo da instalação física de banco, com expansão de 26% nas agências. No Brasil, foram mais 16% agências inauguradas no ano passado. Com as questões prementes de segurança, que envolvem o rastreamento de operações e combate à corrupção, no entanto, esse cenário deve mudar. E, daí, os bancos tradicionais terão que brigar tanto quanto os taxistas têm lutado contra o Uber.
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