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Novas lições empresariais (e de vida) em uma banquinha de limonada

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Novas lições empresariais (e de vida) em uma banquinha de limonada

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12 de julho de 2021 - 6h00

(Crédito: Kongphop Petwichai/istock)

Há alguns meses escrevemos sobre uma experiência empreendedora muito legal dos nossos filhos, que montaram uma barraquinha de limonada: cinco crianças, entre 8 e 12 anos, dentre o nosso total de 7. Enquanto os dois mais velhos (19 e 16 anos) já estão levando esses conceitos para suas vidas reais, os pequenos seguem experimentando e nos divertindo com suas aventuras. Grande aprendizado para eles, mas sabemos que crianças são volúveis e alguns meses se passaram sem nenhuma novidade na frente de negócios nos nossos fins de semana. E eis que, recentemente, voltaram a se animar.

Em casa, nos finais de semana, seguimos uma regra que força as crianças a interagirem entre si e ao ar livre, então, a partir das 10h até o pôr do sol, a sala e os eletrônicos ficam interditados. Naturalmente, o processo criativo agradece e rola solto nos bate-papos de sábado de manhã, especialmente, enquanto os adultos saem para fazer algum esporte.

Este processo de ideação dá vez a um pitch, uma apresentação rápida do projeto empresarial, para nós, que somos, neste caso, uma mistura de capitalistas detentores dos meios de produção e de órgãos reguladores.

No case recente, precisaram de autorização para usar alguns itens e espaços da casa. Para isso, avaliaram com profundidade os objetos e espaços disponíveis e também o que poderia ser interessante para um business, ou seja, o que outras pessoas poderiam se interessar a ter acesso. Surgiram então dois ventures, ou oportunidades de negócios a serem testadas: o primeiro seria uma rifa de baixo custo (R$ 1), cujo prêmio seriam dois litros de bebidas (naturalmente bem geladinhas), e o segundo seria uma iniciativa de economia compartilhada: alugar a quadra de tênis, fornecendo também raquetes e bolinhas, viabilizando uma oportunidade de marketplace, um local para lojinhas de outras crianças que quisessem vender algo durante o evento (inspirado em um partnership anterior da barraca de limonada com os brigadeiros da vizinha).

Após debatidas as regras de segurança envolvidas (uso de máscara, álcool gel e regras para deslocamento na vizinhança), o Conselho (no caso os adultos presentes) aprovou o início das operações, o que envolveu o investimento dos sócios capitalistas, cedendo os produtos da rifa e o espaço da casa.

Antes de iniciar as operações comerciais desta vez, as crianças, com base no aprendizado de experiências frustrantes anteriores, prepararam um acordo de acionistas, onde determinou-se quem controlava cada venture e também que o resultado seria apurado em conjunto, já que não se sabia qual das empresas iria prosperar. Vejam aí que a galera, naturalmente, já tem um conceito de que diversificar investimentos reduz o risco geral. Também já se criaram as regras sobre a destinação dos resultados – valores a serem reinvestidos em cada uma das ventures e também distribuídos como dividendos. Naturalmente, se esqueceram de retornar o capital dos investidores, mas achamos que poderíamos deixar essa discussão para depois.

Saíram, então, em um non deal roadshow, apresentando as suas ideias de negócios pelo condomínio para entender se haveria apetite. Com papel e lápis na mão, iam anotando os interesses, mas logo surgiram duas questões importantes – a rifa fazia sucesso, mas o aluguel da quadra não atraía consumidores (afinal, o condomínio já tem várias quadras de uso comum). O segundo problema dizia respeito a meios de pagamento – alguns dos interessados não tinham dinheiro em espécie! Neste momento, o projeto comercial sofreu uma pausa, face a  uma decisão de busca e apreensão do órgão regulador, e as crianças foram conduzidas coercitivamente de volta para casa, porque, afinal de contas, já estava na hora do almoço.

Bem alimentados, lá foram eles debater as soluções. Primeiro, decidiram matar rapidamente a ideia da quadra e apostar as fichas no projeto que teve mais respostas positivas. Em seguida, tiveram a ideia de pedir nossas chaves de Pix para viabilizar a monetização imediata. Definitivamente, estar antenado sobre o uso das tecnologias inovadoras sempre abre caminhos.

Resolveram, também, pivotar uma das  estratégias de negócios e diversificar ainda mais, já que as ideias de aluguel da quadra e marketplace não vingaram. Saíram recolhendo pinhas secas pela vizinhança, pois sabiam que, no passado, pagamos R$ 5 por pinha (usamos para acender a churrasqueira). Esqueceram, porém, de nos avisar e de revisitar a situação de oferta e demanda do mercado, que é dinâmico: estamos, correntemente, bem supridos de pinhas, o que derruba o valor da pinha “marginal”. Assim, frustraram-se, vendo que a sacola de pinhas recolhidas não iria torná-los financeiramente independentes em relação às suas necessidades de comprar jogos para os celulares. Aprenderam, ainda, a diferença entre preços de atacado e de varejo.

Ao final, terminaram com geração de caixa e alguns aprendizados em uma sessão de brainstorming, onde cada um expressa o que gostou e o que não foi tão agradável, além de  muita diversão, que, na verdade, é o que faz a diferença em qualquer fase da vida, não é?

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