Opinião
Vai uma cota aí?
As cotas têm sido usadas como uma ferramenta popular para que os legisladores promovam a igualdade de gênero no ambiente de trabalho
As cotas têm sido usadas como uma ferramenta popular para que os legisladores promovam a igualdade de gênero no ambiente de trabalho
30 de abril de 2021 - 17h02
Colabora Mel Girão*
Muito se fala sobre a necessidade de termos mais mulheres em conselhos de administração de empresas. Hoje, queríamos dividir alguns pensamentos com vocês sobre como podemos equalizar a presença feminina nesta função.
Vem que no caminho eu te conto!
O conselho de administração é o órgão encarregado pelo direcionamento estratégico de uma empresa.
A diversidade faz a diferença
Há inúmeros estudos indicando que a diversidade de mentes no processo de análise e tomada de decisões proporciona uma evolução não apenas no processo cognitivo, como também na troca de informações, gerando soluções mais produtivas e criativas.
Mas… e as mulheres?
Bom, os dados indicam que elas ampliam as discussões, representam diferentes pontos de vista, são mais obstinadas na busca de respostas para perguntas difíceis e trazem uma abordagem mais colaborativa à liderança, melhorando a comunicação entre diretores, conselho e gestão, além de serem excelentes líderes durante crises.
Mais do que isso, os números mostram que a empresa que tem mais de uma mulher em seu conselho potencializa a capacidade de inovação, comete menos fraudes e retorna mais resultados financeiros do que seus pares sem tal presença feminina. Então, ter mulheres no conselho, ou na diretoria, aumenta o valor das ações, avaliações e dividendos de uma companhia. Acionistas e investidores precisam (e devem) exigir um maior número de mulheres no conselho, até por dever fiduciário!
Dados do Spencer Stuart Board Index Brasil apontam que, em 2020, tínhamos apenas 11,5% de mulheres em conselhos de administração das empresas brasileiras, considerando titulares e suplentes. Historicamente, este percentual pouco mudou nos últimos dez anos: em 2019 o percentual era de 10,5%. Por fim, levantamento da McKinsey mostra que 25% das grandes empresas no País não têm sequer uma mulher em seus conselhos de administração.
Apesar de ser uma questão que reflete a pouca participação feminina em várias áreas, os números são muito preocupantes se compararmos com a média global, que é de 23,3%, de acordo com o Global Board Diversity Tracker, da Egon Zehnder.
Então vamos contratar mais mulheres e pronto!
A verdade é que os conselhos tendem a estar mais dispostos a abrir portas para pessoas que sejam semelhantes aos seus atuais membros. Como a grande maioria dos conselheiros é do sexo masculino, existe uma vocação natural para que esta situação se perpetue, a menos que o processo de contratação e promoção de mulheres mude. Ou seja, o número reduzido de mulheres em conselhos parece derivar de práticas arcaicas de recrutamento – ou da completa ausência formal delas. A falta de heterogeneidade na indicação é proveniente da homogeneidade e limitação da rede social dos membros de conselhos atuais. É o que a pesquisadora norte-americana Elise Perrault chamou de old boys’ networks. Dessa forma, o processo seletivo para preenchimento das cotas de conselho fica enviesado, porque admite seus membros com base em um networking masculino – os amigos dos amigos –, e não de mérito.
Ecossistemas onde a mentoria e o networking são controlados por homens influencia – e limita – a amostra do talento feminino a que eles têm acesso. Por isso, as cotas têm sido usadas como uma ferramenta popular para que os legisladores promovam a igualdade de gênero no ambiente de trabalho. Resumo da ópera? As cotas teriam a função de contrabalançar o viés da seleção atual, tornando-a mais meritocrática.
Como funcionam as cotas pelo mundo?
Este movimento começou em 2003, quando a Noruega instituiu uma cota de 40% de mulheres nos conselhos das empresas. Depois dela vieram Espanha, Finlândia, Islândia, França, Israel, Kenia, Itália, Bélgica, Portugal, Alemanha e Áustria.
Em 2018, a Califórnia determinou que toda empresa de capital aberto, com sede neste estado americano, tenha pelo menos uma mulher no seu conselho até o final do ano de 2019. Esta é a primeira cota imposta pela legislação nos Estados Unidos.
Cada país descobriu o melhor formato para incentivar que as mulheres fossem incluídas, mas é claro, público e notório que mudanças legislativas precisam ter a capacidade de transformar a realidade e não apenas maquiá-la.
Tá rolando um projeto por aí!!
A proposta de lei, protocolada em março deste ano, de autoria da deputada Tabata Amaral, espera modificar a Lei das Sociedades Anônimas e propõe cotas em companhias de capital aberto. A legislação prevê que a participação de 30% de mulheres em conselhos seja alcançada de forma escalonada, em um prazo de até seis anos. Pelo projeto apresentado, caso a empresa não cumpra a cota, ficará proibida de eleger novo conselheiro ou eleger novamente os conselheiros atuais, até atingi-la.
O projeto também determina que as empresas incluam no seu relatório anual uma política de equidade de gênero, informando a quantidade e proporção de mulheres contratadas, por níveis hierárquicos, e a remuneração segregada por gênero em cargos ou funções similares.
Fato é que precisamos nos movimentar para que as próximas gerações tenham uma maior equidade e para mudar a história que é contada da mesma maneira há tantos anos.
Se não agora, então quando?
*Carolina Strobel é Operating Partner da Redpoint Eventures
*Mel Girão é CMO e co-fundadora da deeptech Klug Technology
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