A próxima geração de CMOs vai vir dos games?
Novo perfil da liderança em marketing precisa ser fluente em cultura digital, na formação de comunidades e em outras qualidades que o ambiente dos jogos incentiva
A próxima geração de CMOs vai vir dos games?
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4 de julho de 2025 - 8h00
(Crédito: Shutterstock)
Existe uma grande transformação acontecendo na alta liderança das maiores empresas do mundo, e os chief marketing officers (CMOs), ou diretores de marketing, estão no centro deste acontecimento. Atualmente, nada menos do que 37% dos CEOs das empresas que fazem parte da Fortune 500, o ranking anual das maiores companhias dos Estados Unidos por receita, tiveram alguma experiência em marketing em sua trajetória até o posto mais alto de uma companhia.
Quem fez esse cálculo foi a empresa global de consultoria em recrutamento de executivos e liderança Spencer Stuart. O levantamento apontou ainda que 65% dos executivos de marketing deste grupo seleto de companhias foram promovidos internamente ou mudaram para posições similares ou mais elevadas nos últimos anos. E o tempo médio no cargo vem aumentando, de 2,4 anos, em 2022, para 4,3 anos.
O que significa que estes gestores não apenas contam com maior estabilidade, como também encontram oportunidades de crescimento internamente. Existe, portanto, uma nova geração de CMOs que não apenas é ouvida pelas mais altas lideranças, como passa a sentar à mesma mesa. E o surpreendente é o quanto os games estão diretamente relacionados com este novo momento da gestão em marketing.
Eu mesma venho do universo da publicidade, migrei para o marketing digital e, há alguns anos, mergulhei de cabeça no mercado gamer. O que encontrei ali não foi só uma nova indústria, mas um campo de treinamento real para as habilidades que as líderes modernas precisam ter: comunicação ágil, leitura de dados, resiliência, construção de comunidades e, principalmente, empatia.
Não é difícil entender por que as grandes corporações têm valorizado as diretoras de marketing: por vocação pessoal e demanda de mercado, estas líderes são capazes de implementar estratégias de comunicação com os mais variados públicos, desde os próprios colaboradores de uma organização até a sociedade como um todo, além, é claro, dos clientes, que nos últimos anos se tornaram cada dia mais exigentes e empoderados pela capacidade de influenciar outras pessoas de seus círculos de relações.
Na medida em que a comunicação se tornou mais dinâmica, mais ágil e apoiada por estratégias diferentes, mas complementares, para os públicos mais variados, a especialista em marketing passou a ganhar uma relevância muito grande, especialmente quando ela consegue atuar de forma estratégica, com visão de futuro e um olhar atento para novas tendências do setor onde a empresa atua.
Orientada por dados, com visão de marca, conhecimento em tecnologia e capacidade de se manter atualizada e se adaptar a todas as mudanças que se apresentam constantemente, essa líder é capaz de trafegar entre o físico e o digital, de forma a contribuir para o desempenho de uma série de outras áreas da organização, como vendas, finanças, tecnologia e recursos humanos.
Quem joga (e aqui falo como jogadora e profissional) aprende cedo que nenhuma vitória é solo. Seja em um multiplayer competitivo ou numa raid cooperativa, você precisa se adaptar, ouvir, agir rápido sob pressão e, quando errar, voltar ao jogo mais preparada. É sobre estratégia, mas também sobre pessoas. Exatamente o que esperamos das lideranças de marketing.
Sabe-se que uma líder corporativa precisa de comunicação assertiva, mas também adaptativa, assim como pensamento crítico, inteligência emocional, capacidade de aprendizado constante e de reagir rapidamente em situações de pressão, para gerir equipes multidisciplinares e colaborativas, mantendo o foco na coerência das mensagens transmitidas pelos mais variados canais.
Essas qualidades se prestam perfeitamente às CMOs, ainda mais em um momento em que elas passam a acessar funções mais estratégicas e até mesmo postos de alta liderança nas corporações. E também se aplicam às gamers. Afinal, para alcançar sucesso em um jogo, especialmente se ele é disputado online e com – ou contra – outras pessoas reais, o sucesso é definido por uma série de características.
É preciso dominar os comandos, por exemplo, mas também criar e identificar personas e agir em grupo, com agilidade diante de cenários inesperados e resiliência quando o desempenho é insatisfatório. Ao longo das muitas horas em que se joga, é possível criar e reforçar laços, valorizar as tão desejadas soft skills e incentivar outras jogadoras a testarem seus limites, ou mesmo se reposicionarem no cenário disposto na tela, de forma que cada uma encontre seu melhor desempenho.
E tem mais: o ambiente gamer é diverso, criativo e, se usado da maneira certa, inclusivo. Aliás, esse foi um dos pontos que me encantou e me trouxe até aqui. Como mulher e mãe atuando na indústria gamer, sei o quanto é desafiador ocupar espaços, mas também o quanto isso gera mudanças reais. Dentro dos games e fora deles.
Essa é a líder do futuro. E ela tem muito a ganhar em seu processo de formação pessoal e profissional se estiver envolvida com o universo gamer.
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