Quem está filmando as histórias das mulheres?

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Quem está filmando as histórias das mulheres?

Desequilíbrio de gênero e de oportunidades na indústria audiovisual faz com que as oportunidades para as mulheres no cinema ainda sejam escassas


27 de março de 2024 - 14h22

Até a década de 1920, o cinema era praticamente feito por mulheres. Eram elas a maior parte da força de trabalho responsável pela montagem de cenários, criação de roteiros, confecção de figurinos e de outras etapas no processo de elaboração de histórias. Junto a elas, nessa época, já trabalhavam alguns homens, em sua maioria de origem judia.

Com o passar dos anos, a atividade cinematográfica foi se popularizando e, consequentemente, tornando-se algo mais rentável. Foi nessa fase que os empresários e homens mais poderosos começaram a ver que a arte também seria uma boa opção de negócio. E, com a entrada do grupo de poder essa indústria, as mulheres, antes pioneiras, acabaram ficando à margem.

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Atriz, roteirista e diretora Luh Mazza e a cineasta Marina Person falam sobre o desequilíbrio de oportunidades para as mulheres na indústria do audiovisual (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

A história foi contada ao público pela cineasta Marina Person, que participou do Women to Watch Summit, realizado nessa terça-feira, 26, em São Paulo. Essa exclusão das mulheres na produção cinematográfica foi tão profunda que, atualmente, em quase 100 anos de Oscar, o principal prêmio da indústria, as mulheres concorreram à estatueta de Melhor Direção em nove ocasiões. Dessas, venceram em apenas três.

“Os homens dominaram o cinema não apenas por razões financeiras, mas porque eles perceberam a forma poderosa com que os filmes entram na cabeça, tornando-se grandes peças de propaganda de hábitos, cultura e modo de vida”, disse a cineasta.

O contexto fornecido por Marina reforçou a importância do assunto proposto pelo painel, que era, justamente, destacar a necessidade de ampliar a presença feminina por trás das câmeras, para que elas sejam, de fato, as protagonistas das histórias que contam.

Junto de Marina Person, no palco, estava Luh Mazza, atriz, diretora e roteirista, que há sete anos começou a fazer a transição da atuação nos palcos para o trabalho de criação de roteiros e direção em projetos audiovisuais. Ela foi, inclusive, a primeira mulher trans a roteirizar um projeto para a TV (no caso, a série Sessão de Terapia, do canal GNT).

Ao analisar o avanço da pauta da equidade de gênero e também de outros recortes de diversidade na indústria audiovisual, Luh, por um lado, enxerga uma maior ocupação de espaços por profissionais, sobretudo mulheres negras e periféricas, por trás das câmeras. Ainda assim, o País e o setor estão bem longe de terem resolvido essa questão.

“Além da transformação cultural e criativa, precisamos de uma transformação do capital. É isso que interessa. Estamos, de novo, acreditando em uma falsa equidade, como já acreditamos antes, entre outras falsas cordialidades, e achamos que as discussões de gênero e raça já passaram. Na verdade, elas foram substituídas. Trocamos o D&I [diversidade e inclusão] por ESG e me questiono muito se a questão do ESG está realmente contemplada no ESG e se estamos deixando de falar sobre as pessoas”, argumentou.

Moderadora do painel, a diretora de cena Marina Youssef corroborou o assunto da ainda disparidade de gênero no audiovisual ao pontuar que, das maiores bilheterias do cinema no ano passado, nenhum filme foi dirigido por uma mulher negra. “Enquanto não mudarmos as narrativas e mudarmos quem conta as histórias, não mudaremos a História”, resumiu Marina.

Por fim, Luh fez um chamado para a indústria da comunicação, destacando que, se para algumas pessoas a questão da inclusão e da equidade é apenas uma entre muitas pautas, para muitas pessoas, isso representa a vida. “O audiovisual tem poder de representar a realidade, de propor algo e de mandar uma mensagem sobre o futuro”, pontuou.

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