“Desendeuse-se”

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Opinião

“Desendeuse-se”

O líder que não serve, não serve para nada


31 de maio de 2017 - 12h43

Marketing é sobre pessoas. Publicidade é sobre pessoas. Podemos romantizar o quanto quisermos. Mas, no fundo, essencialmente, se nossa proposta de valor é construir valor a partir do profundo entendimento sobre pessoas, o que nos diferencia é tão somente capital humano. Uma conversa que é menos sobre patrimônio líquido e, mais, sobre patrimônio criativo. Sobre ter o melhor das melhores pessoas. Sobre a ambição que se realiza a partir da inspiração humana. E lucratividade absolutamente decorrente da felicidade.

A criação de Adão, pintura de Michelangelo Buonarroti. Foto: Reprodução

E se isso fizer mesmo sentido, a despeito de todas as outras questões que temos para responder e que dizem respeito ao futuro de nossa profissão, tem uma que é estruturante e definitiva: “As lideranças do nosso mercado entendem verdadeiramente sobre pessoas?” Ao longo do tempo se alçou à posição de liderança nas organizações as pessoas que, quase por inércia histórica, estavam com a senha da linha de sucessão e/ou tinham uma alta dose de simpatia e/ou talento reconhecido. Ou muito criativas. Ou muito técnicas. Ou eficientemente genéricas — boas em várias atividades distintas.

Hoje, procuram-se e precisam-se de lideranças que tenham uma brutal dose de empatia para conseguir se colocar no lugar das pessoas e construir conexões emocionais e um ambiente de reciprocidade — equilibrado, verdadeiro e altruísta. Um set de palavras que, em conjunto, lembram o mantra de uma comunidade hippie, mas, que, tem tudo a ver com alta performance. Pessoas felizes trabalham melhor. Pessoas bem tratadas trabalham melhor. Pessoas respeitadas trabalham melhor. Pessoas inspiradas trabalham melhor.

Não precisa ir longe. É assim na vida, é assim no marketing, é assim na publicidade. E tenho refletido sobre isso em todas as minhas esferas. É incrível como a gente de fato colhe o que planta, seja na educação de nossos filhos, seja no dia a dia no trabalho. O Antonio, meu filho, fez um ano ontem. E toda vez que olho para ele consigo ver, desde já, traços de personalidade que são natos, somados a atitudes que são fruto do contexto lá de casa. Pense nele com dez anos. Como querer que ele seja uma criança feliz, se viveu todo esse tempo em um ambiente triste? Como querer que ele trate bem as pessoas, se foi tratado de um jeito indigno? Reciprocidade, meu caro.

Um passo complementar ao exemplo. É o exemplo aplicado ao indivíduo. É o exemplo indo além do racional e gerando conexão ou desconexão emocional. Base fundamental do sentimento que faz com que alguém escolha seguir ou deixar de seguir alguém. Ou responder uma ação positiva com outra ação positiva, e responder uma ação negativa com outra negativa. A diferença entre ter o melhor das melhores pessoas ou até ter as melhores pessoas, mas ficar com o pior delas. Quer no seu time pessoas que atendam bem? Cuide bem delas. Gente maltratada perde o referencial e tem mais dificuldade em tratar bem.

Quer no seu time pessoas criativas? Não as trate como máquinas. Criação é uma atividade humana, se não, as máquinas fariam. Quer no seu time pessoas transparentes? Comece sendo transparente com elas — transparência é cultura, não job. Quer um ambiente colaborativo? Não trate as pessoas como commoditie — iguais não colaboram, duplicam trabalho. Quer gente do bem? Faça o bem. O líder precisa ser altruísta e, por exemplo, colocar a carreira do seu time à frente da sua própria carreira. Quer gente legal? Poxa, seja legal. Quer entender sobre pessoas? Acredite, não está nos livros de administração, nos cursos enlatados nem vai cair do céu. Para conhecer pessoas é preciso destinar tempo, estar próximo, sentir as dores de perto e não da sacada do castelo.

“Desendeuse-se”: até Jesus andava com os seus discípulos.

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