O debate do (próximo) século
As grandes plataformas de tecnologia da Internet são uma ameaça ou oportunidade para a indústria criativa?
As grandes plataformas de tecnologia da Internet são uma ameaça ou oportunidade para a indústria criativa?
22 de junho de 2018 - 13h13
“As grandes plataformas de tecnologia da Internet são uma ameaça ou oportunidade para a indústria criativa?” Foi com essa pergunta que começou a palestra “The Power of Big Tech Platforms” aqui em Cannes. Primeiro a plateia teve a chance de votar: deu “oportunidade” (74% contra 16% de “ameaça” e 10% de indecisos). Então começou o debate.
De um lado, a VP de Marketing do gigante Facebook. Do outro, a editora chefe do The Economist e um jornalista independente. Também estava presente o CMO da Unilever, empresa que cortou todos os investimentos em redes sociais por causa da falta de transparência dessas plataformas.
Ainda se recuperando do escândalo Facebook–Cambridge Analytica, a VP do Face começou o debate defendendo a plataforma, contando todas as medidas que foram tomadas para evitar novos vazamentos de dados. Ela explicou a importância do Facebook para quem não tem acesso a entretenimento. Por exemplo, paga-se para ter Netflix, TV a cabo e ir ao cinema. Já o Facebook é totalmente de graça para seus usuários.
A declaração foi rebatida instantaneamente pelo jornalista independente. Para ele, é o Facebook que deveria pagar para ter pessoas navegando nele. Por dois motivos: 1) Todos os dados são coletados e usados para melhorar a performance de publicidade (quando não para mudar os rumos de uma eleição). 2) A maior parte do conteúdo é produzida pelos próprios usuários. Vídeos, frases engraçadas, fotos em viagens incríveis. Ou seja, eles deveriam receber pela audiência que atraem, nem que essa seja só dos amigos e familiares.
Em um ponto todos concordaram. É a confiança que vai sustentar todo esse ecossistema tecnológico. Se ninguém confiar nas plataformas, no discurso das marcas, toda a relevância será perdida. Então surgem perguntas éticas como: é melhor o consumidor pagar por um serviço e ter privacidade ou ter esse mesmo serviço de graça cedendo seus dados pessoais? Quem é que tira vantagem de quem? Como o monopólio das grandes vai afetar a nossa sociedade? Como essas plataformas regulam e controlam a informação que chega até nós? São perguntas que só poderão ser respondidas em um futuro próximo.
Ah, falando em perguntas, lembra daquela do começo? Repetiram-na no final do debate. Para a surpresa de todos, a mesma plateia se dividiu e o placar se inverteu. Dessa vez, “oportunidade” teve 43% dos votos, enquanto “ameaça” subiu para 54% e os indecisos caíram para 3%. A maior prova de que informação e pontos de vista diferentes impactam diretamente na nossa opinião.
Será que nesse futuro – cada vez mais concentrado na mão de poucas empresas de tecnologia – teremos mais ou menos oportunidades de debater nossas ideias? Aqui em Cannes ficou claro: as plataformas podem ser grandes, mas o debate é ainda maior.
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