20 de junho de 2021 - 14h28
Há mais de um ano eu não pego um avião. Dentre tantas sensações que sinto falta, a expectativa de uma viagem está na primeira página da lista. Deu pra sentir saudade até da fila pra passar na esteira da segurança no aeroporto.
Está começando o Cannes Lions. Mas não foi dessa vez que peguei o passaporte na gaveta. Será mais um festival com edição virtual — até tem uma pequena parte presencial, em Nova York, mas para poucas pessoas. A experiência em grandes eventos foi uma das tantas atividades que precisaram ser reformatadas. Depois de uma sequência de conferências digitais nos últimos meses, especialmente no SXSW 2021, já estou mais preparado para calibrar as expectativas e aproveitar o melhor de Cannes. Além do anseio em ver as novidades e confirmações que serão premiadas com leões, e da curiosidade em assistir os principais debates sobre criatividade, levo na mala alguns aprendizados.
O que esperar? Um evento mais democrático. Não falo das premiações, mas da atmosfera como um todo. O fato de ser remoto permite romper algumas barreiras geográficas e financeiras, gerando mais inclusão e diversidade. Um evento mais flexível. Com a possibilidade de assistir aos conteúdos ao vivo ou por demanda, fica mais fácil aproveitar o melhor da programação. É preciso se organizar, claro, mas as ferramentas online e as facilidades de estar em casa podem dar uma força. Um evento mais conectável. É óbvio que uma experiência online é mais conectada, mas como temos mais tempo para digerir, linkar assuntos e referências, e até compartilhar aprendizados, pode ser também mais conectável.
No entanto, nem tudo são flores digitais. Também temos que estar preparados para uma experiência menos imersiva. É tão fácil se perder nas abas do navegador, quanto nos corredores do Palais. Conciliar o mergulho no universo do evento com a vida que continua fora dele, a uma notificação de distância, é um grande desafio. Outra perda está na camada social que envolve qualquer encontro desse porte, quando realizado no mundo físico.
Conhecer novas pessoas, reencontrar antigos colegas, fazer pontes. Compartilhar percepções e a ansiedade com a enxurrada de conteúdo recebido. Isso se perde, em grande medida. O que leva ao último item do meu checklist: a redução da aleatoriedade. Temos mais chance de pesquisar e escolher o que assistir, se entrarmos na sala errada,
podemos pular para outra sem grande esforço, perdendo muitas possibilidades de conexões aleatórias. E elas são muito importantes para a nossa vida e para a criatividade.
Entre vantagens e desvantagens, o novo contexto está cheio de possibilidades de aprendizado. Tudo está sendo processado, nada é definitivo. Muita coisa vai mudar, tantas outras vão voltar a ser como eram. E, com a mala pronta e as expectativas alinhadas, estou preparado para mais uma jornada a desfrutar diretamente do meu home office. Como diz o about do site do Cannes Lions Live: Creativity is hard, it requires belief, commitment, perseverance, culture, processes and leadership. It’s an everyday journey.
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