Cannes
Fazer o bem virou negócio. E agora?
Organização do Festival admite rever as regras – e propósito – do Grand Prix for Good, que não concede troféu a cases criados para marcas
Organização do Festival admite rever as regras – e propósito – do Grand Prix for Good, que não concede troféu a cases criados para marcas
Bárbara Sacchitiello
17 de junho de 2019 - 15h36
Sempre junto com o Lions Health, a organização do Cannes Lions revela o vencedor do Grand Prix for Good da área, categoria especial criada para celebrar o melhor trabalho feito por alguma instituição ou entidade de cunho social, cuja proposta tenha sido trazer alguma melhora para a qualidade de vida e sociedade.
Neste ano, o júri avaliou que nenhuma das peças inscritas em Health estava qualificada para disputar o Grand Prix For Good. A decisão veio acompanhada de uma reflexão sobre o atual patamar da indústria criativa: ações de impacto positivo não são mais exclusividade das ONGs e associações e entraram no dia a dia das empresas e marcas.
“Fazer o bem não é mais privilégio das instituições de caridade. Os consumidores estão cada vez mais interessados em marcas que tenham ações de sustentabilidade e outros trabalhos para a sociedade. Fica como sugestão à organização que, para o próximo ano, reveja a regra a respeito da participação das marcas na escolha do Grand Prix For Good”, defendeu Rajesh Mischandani, responsável pela escolha do GP for Good e chief communications officer da ONU.
Pego de surpresa com a sugestão do jurado, Simon Cook, diretor do Cannes Lions, disse ao Meio & Mensagem que a possibilidade será avaliada. “Acabei de ouvir essa sugestão agora e todas as ideias que aparecem durante o júri sempre precisam ser avaliadas pela indústria. Ouviremos a opinião de profissionais da indústria da comunicação a respeito do futuro do Grand Prix for Good”, disse Cook.
O profissional admitiu que a disposição das marcas em fazer o “bem” aumentou bastante e que o Festival tem acompanhado isso. “Temos visto muitas marcas e não apenas instituições de caridade com cases de impacto social. É muito interessante acompanhar isso”, disse o diretor do Festival.
A agenda positiva das marcas esteve presente nesse primeiro dia de premiação. O próprio Grand Prix da categoria Health & Welness foi entregue para a rede de lojas de móveis e decoração Ikea pelo case “Thisables”, que propôs a criação de objetos que ajudem a rotina doméstica de pessoas com necessidades especiais: como um tablado de madeira que deixa o sofá mais alto, um suporte na porta que auxilia quem não consegue mover a maçaneta, etc. “”Há alguns anos, era difícil imaginar uma empresa como a Ikea conquistando o Grand Prix em Health & Welness”, destacou o presidente do júri, Shaheed Peera, diretor executivo de criação da Publicis Live Brands, ressaltando como as marcas vem ingressando no cenário das ações positivas e promovendo serviços diferentes aos consumidores. Veja o trabalho da Ikea:
Outro exemplo de marca que, fazendo o bem, conseguiu cativar o júri de Cannes é o Google. A empresa apresentou o projeto “Creatability”, uma plataforma aberta a desenvolvedores que propusessem soluções que, por meio de inteligência artificial, construíssem novas ferramentas que facilitassem o acesso a devices e à web por pessoas que possuem diferentes necessidades especiais. “O fato de ser algo escalável, que possa chegar às pessoas foi determinante para a escolha desse Grand Prix”, destacou Richard Ting, chief experience officer global da R/GA, presidente do júri de Design. Confira o case do Google:
O profissional destacou – e celebrou – a quantidade de cases que viu em sua categoria cuja finalidade seja algum tipo de impacto positivo para a sociedade. “Vimos muitas peças sobre equidade de gênero, questões de saúde e bem-estar e tenho muito orgulho de ver as marcas e empresas investindo nesses trabalhos”, disse.
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