Criativos se unem para ajudar refugiados
Refugees Are Us é resultado de um esforço coletivo do projeto Papel & Caneta, que envolve publicitários de diversos países
Refugees Are Us é resultado de um esforço coletivo do projeto Papel & Caneta, que envolve publicitários de diversos países
Refugiados matam, são radicais, semeiam medo. Essas e outras afirmações preconceituosas a respeito dos refugiados, amplificadas sobretudo no ano passado, durante a campanha de Donald Trump nos EUA, e na Europa, com o Brexit, são quebradas no filme acima, que apresenta a campanha Refugees Are Us.
Com o intuito de mudar a percepção estereotipada que muitos têm em relação aos imigrantes e reforçar a importância que cada um deles têm para a sociedade enquanto indivíduos e profissionais, o Papel & Caneta (leia a história do projeto mais adiante), projeto sem fins lucrativos formado por líderes criativos de diversos países, fez uma parceria com a Refugee Orchestra Project, uma orquestra composta por músicos refugiados que vivem atualmente nos EUA. “A vontade era mostrar esse refugiado do qual as pessoas não falam, os EUA precisam saber que eles estão lá para contribuir, para ajudar a movimentar a economia e transformar o mundo”, diz André Chaves, conector do Papel & Caneta.
A própria fundadora da orquestra, Lidiya Yankovskaya, chegou ao país como refugiada quando era criança. Condutora de ópera, organizou a orquestra como uma forma de evidenciar a o valor dos refugiados no cenário cultural.
Ao contar a história de alguns desses músicos, a campanha também traz à tona fatos importantes, como o de que os imigrantes – ou seus filhos – fundaram 40% das empresas listadas na Fortune 500. A tradicional canção “God Bless America”, por exemplo, foi escrita por refugiados.
Durante uma semana, profissionais como Fernando Marar, diretor de arte da F/Nazca e Bianca Guimarães, diretora de criação da BBDO Nova York saíram de suas respectivas agências e agendas para trabalharem juntos na iniciativa. “Os líderes da indústria se encontram para conversar em eventos, sobem ao palco com mensagens inspiradoras e ok. Por que também não podem se juntar para aprender uns com os outros e trabalhar ao lado de refugiados, e da comunidade trans negra?”, questiona André. Mais sobre o Refugees Are Us pode ser visto aqui.
Papel & Caneta
Depois de trabalhar na área de planejamento em algumas agências, André Chaves, então com 24 anos, resolveu dar um tempo e viajar para Nova York para ter novas percepções do mercado. Lá, percebeu que a crise profissional pela qual passava também acometia líderes da indústria publicitária. “Conversava com vários líderes e eles estavam tristes com a realidade, não estavam felizes por estarem só respondendo e-mails ali na liderança, ou apenas se encontrando em festivais, mas não criando algo para mudar”, conta.
A frustração que André e esses profissionais de agências compartilhavam encontravam-se em alguns pontos, seja no fator geracional – os millennials buscam propósito naquilo que fazem e, portanto, não permanecem durante muito tempo em um mesmo emprego que não traz desafios – e o estranhamento de estar inserido em uma cultura que ainda encontra resquícios no universo publicitário: perseguir prêmios.
Diante da percepção de que pairava um desconforto em comum entre muitos publicitários, André, ainda em Nova York, o ano era 2014, teve a ideia de criar uma rede de líderes que tivesse vontade de trabalhar em conjunto em torno de projetos de impacto social. Disparou dezenas de e-mails para profissionais com cargos importantes em agências grandes, alguns foram respondidos, mas vários outros foram ignorados. “Eu não conhecia ninguém e ninguém sabia quem eu era. Nunca ganhei Leão em Cannes, não fui Young Lion”, relembra. E, mesmo dentre as respostas, havia gente que admitiu não estar envolvida com projetos sociais. “Não fazia sentido trazer a pessoa somente porque era famosa. Tinha de ter esse senso de ‘o que estou mudando e o que posso fazer’”, explica. Do Brasil, André Kassu, sócio e diretor de criação da CP+B Brasil, Diego Machado, diretor de criação da AKQA, e Roberto Martini, CEO da Flagcx, estão entre os brasileiros que toparam participar do projeto. Ali nascia o Papel & Caneta.
Desde o início André quis preservar seu papel de conector e tomou o cuidado de não tornar-se um caso em que o idealizador se sobressai mais do que o projeto em si. Tanto é que no primeiro encontro presencial do grupo ele não esteve presente. “O projeto é pro-bono e, como eles estariam em Cannes, se encontraram lá”. Para que seja viável, os colaboradores limpam suas agendas quatro meses antes da realização de um projeto.
Tudo o que você queria saber sobre trans mas tinha medo de perguntar
O primeiro projeto do P&C que ganhou visibilidade se chama #AskTransFolks e foi realizado em Nova York no ano passado. Com o intuito de amplificar a consciência sobre a violência e preconceito sofridos pela comunidade transgênera negra nos EUA, o grupo concebeu, após um workshop de seis dias com o Mesa & Cadeira, um espaço online para que o público fizesse perguntas a transgêneros do mundo inteiro de forma a estimular um diálogo e um entendimento sobre a realidade dessas pessoas. As respostas foram publicadas em formato de vídeo nos próprios canais sociais dos participantes. Participaram desse projeto gente como o próprio Martini, da Flagcx, Jess Greenwood, VP de estratégia e parcerias da R/GA, além de ativistas como a repórter do Buzzfeed Meredith Talusan, que é trans, e Kim Watson, fundadora do CKlife, organização do Bronx que apoia jovens em transição.
Nos descobrimos mais pretos juntos
Também em 2016, a P&C concretizou sua missão de estreia no Brasil que acabou impactando diretamente a comunicação de algumas marcas, como Skol. O projeto ajudou a reformular o coletivo Mooc, formado por oito jovens negros e brasileiros, cada qual com sua área de expertise, para que pudesse apresentar-se às agências e parceiros em potencial. “Eles faziam consultoria para Dazed e Nike, mas ninguém dava a mínima para eles, principalmente as agências”, comenta André. Durante 48 horas, estrategistas e criativos reconstruíram o site do grupo e deram um workshop sobre propósito e de que maneira poderiam entrar em contato com o mercado. O resultado foi positivo: em fevereiro, três meses depois do “treinamento”, Mooc fez trabalhos para Africa, R/GA e F/Nazca, para a qual prestou consultoria na ação das latinhas de diferentes tons de Skol, batizadas de Skolors, em continuação à campanha de verão “Viva a Diferença”. “No Brasil, a gente conversa muito sobre diversidade. Mas nas agências o índice de negros é de 2%. O Mooc é uma chance de mudar a indústria. Agora eles estão começando a colher os frutos”, comenta André.
Os próximos projetos do Papel & Caneta devem acontecer no Rio de Janeiro e em Recife e, internacionalmente, em Amsterdã, Buenos Aires e Los Angeles.
Isabella Lessa
18 de maio de 2017 - 12h42
Refugiados matam, são radicais, semeiam medo. Essas e outras afirmações preconceituosas a respeito dos refugiados, amplificadas sobretudo no ano passado, durante a campanha de Donald Trump nos EUA, e na Europa, com o Brexit, são quebradas no filme acima, que apresenta a campanha Refugees Are Us.
Com o intuito de mudar a percepção estereotipada que muitos têm em relação aos imigrantes e reforçar a importância que cada um deles têm para a sociedade enquanto indivíduos e profissionais, o Papel & Caneta (leia a história do projeto mais adiante), projeto sem fins lucrativos formado por líderes criativos de diversos países, fez uma parceria com a Refugee Orchestra Project, uma orquestra composta por músicos refugiados que vivem atualmente nos EUA. “A vontade era mostrar esse refugiado do qual as pessoas não falam, os EUA precisam saber que eles estão lá para contribuir, para ajudar a movimentar a economia e transformar o mundo”, diz André Chaves, conector do Papel & Caneta.
A própria fundadora da orquestra, Lidiya Yankovskaya, chegou ao país como refugiada quando era criança. Condutora de ópera, organizou a orquestra como uma forma de evidenciar a o valor dos refugiados no cenário cultural.
Ao contar a história de alguns desses músicos, a campanha também traz à tona fatos importantes, como o de que os imigrantes – ou seus filhos – fundaram 40% das empresas listadas na Fortune 500. A tradicional canção “God Bless America”, por exemplo, foi escrita por refugiados.
Durante uma semana, profissionais como Fernando Marar, diretor de arte da F/Nazca e Bianca Guimarães, diretora de criação da BBDO Nova York saíram de suas respectivas agências e agendas para trabalharem juntos na iniciativa. “Os líderes da indústria se encontram para conversar em eventos, sobem ao palco com mensagens inspiradoras e ok. Por que também não podem se juntar para aprender uns com os outros e trabalhar ao lado de refugiados, e da comunidade trans negra?”, questiona André. Mais sobre o Refugees Are Us pode ser visto aqui.
Papel & Caneta
Depois de trabalhar na área de planejamento em algumas agências, André Chaves, então com 24 anos, resolveu dar um tempo e viajar para Nova York para ter novas percepções do mercado. Lá, percebeu que a crise profissional pela qual passava também acometia líderes da indústria publicitária. “Conversava com vários líderes e eles estavam tristes com a realidade, não estavam felizes por estarem só respondendo e-mails ali na liderança, ou apenas se encontrando em festivais, mas não criando algo para mudar”, conta.
A frustração que André e esses profissionais de agências compartilhavam encontravam-se em alguns pontos, seja no fator geracional – os millennials buscam propósito naquilo que fazem e, portanto, não permanecem durante muito tempo em um mesmo emprego que não traz desafios – e o estranhamento de estar inserido em uma cultura que ainda encontra resquícios no universo publicitário: perseguir prêmios.
Diante da percepção de que pairava um desconforto em comum entre muitos publicitários, André, ainda em Nova York, o ano era 2014, teve a ideia de criar uma rede de líderes que tivesse vontade de trabalhar em conjunto em torno de projetos de impacto social. Disparou dezenas de e-mails para profissionais com cargos importantes em agências grandes, alguns foram respondidos, mas vários outros foram ignorados. “Eu não conhecia ninguém e ninguém sabia quem eu era. Nunca ganhei Leão em Cannes, não fui Young Lion”, relembra. E, mesmo dentre as respostas, havia gente que admitiu não estar envolvida com projetos sociais. “Não fazia sentido trazer a pessoa somente porque era famosa. Tinha de ter esse senso de ‘o que estou mudando e o que posso fazer’”, explica. Do Brasil, André Kassu, sócio e diretor de criação da CP+B Brasil, Diego Machado, diretor de criação da AKQA, e Roberto Martini, CEO da Flagcx, estão entre os brasileiros que toparam participar do projeto. Ali nascia o Papel & Caneta.
Desde o início André quis preservar seu papel de conector e tomou o cuidado de não tornar-se um caso em que o idealizador se sobressai mais do que o projeto em si. Tanto é que no primeiro encontro presencial do grupo ele não esteve presente. “O projeto é pro-bono e, como eles estariam em Cannes, se encontraram lá”. Para que seja viável, os colaboradores limpam suas agendas quatro meses antes da realização de um projeto.
Tudo o que você queria saber sobre trans mas tinha medo de perguntar
O primeiro projeto do P&C que ganhou visibilidade se chama #AskTransFolks e foi realizado em Nova York no ano passado. Com o intuito de amplificar a consciência sobre a violência e preconceito sofridos pela comunidade transgênera negra nos EUA, o grupo concebeu, após um workshop de seis dias com o Mesa & Cadeira, um espaço online para que o público fizesse perguntas a transgêneros do mundo inteiro de forma a estimular um diálogo e um entendimento sobre a realidade dessas pessoas. As respostas foram publicadas em formato de vídeo nos próprios canais sociais dos participantes. Participaram desse projeto gente como o próprio Martini, da Flagcx, Jess Greenwood, VP de estratégia e parcerias da R/GA, além de ativistas como a repórter do Buzzfeed Meredith Talusan, que é trans, e Kim Watson, fundadora do CKlife, organização do Bronx que apoia jovens em transição.
Nos descobrimos mais pretos juntos
Também em 2016, a P&C concretizou sua missão de estreia no Brasil que acabou impactando diretamente a comunicação de algumas marcas, como Skol. O projeto ajudou a reformular o coletivo Mooc, formado por oito jovens negros e brasileiros, cada qual com sua área de expertise, para que pudesse apresentar-se às agências e parceiros em potencial. “Eles faziam consultoria para Dazed e Nike, mas ninguém dava a mínima para eles, principalmente as agências”, comenta André. Durante 48 horas, estrategistas e criativos reconstruíram o site do grupo e deram um workshop sobre propósito e de que maneira poderiam entrar em contato com o mercado. O resultado foi positivo: em fevereiro, três meses depois do “treinamento”, Mooc fez trabalhos para Africa, R/GA e F/Nazca, para a qual prestou consultoria na ação das latinhas de diferentes tons de Skol, batizadas de Skolors, em continuação à campanha de verão “Viva a Diferença”. “No Brasil, a gente conversa muito sobre diversidade. Mas nas agências o índice de negros é de 2%. O Mooc é uma chance de mudar a indústria. Agora eles estão começando a colher os frutos”, comenta André.
Os próximos projetos do Papel & Caneta devem acontecer no Rio de Janeiro e em Recife e, internacionalmente, em Amsterdã, Buenos Aires e Los Angeles.
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