Marcelo Reis: “A criatividade é vital neste momento”
CoCEO da Leo Burnett defende a importância de não deixar que o estresse e o desânimo trazidos pelos impactos do coronavírus joguem contra a imaginação do mercado
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Renato Rogenski
26 de março de 2020 - 6h00
Não bastasse o conturbado cenário social e econômico provocado pela pandemia do coronavírus Covid-19, manter as equipes conectadas e as entregas funcionando com o modelo remoto têm sido um desafio para a liderança das agências no Brasil e no mundo. Na Leo Burnett Tailor Made, os planos de adaptação ao novo contexto começaram a ser colocados em prática no dia 13 de março, quando os coCEOs da agência, Marcelo Reis e Marcio Toscani, oficializaram o modelo home office e compartilharam com os colaboradores da empresa as instruções em duas frentes: informações sobre a prevenção contra a doença e orientações e suporte para facilitar o novo sistema de trabalho.
Além de ajudar os profissionais a realocar os equipamentos em suas residências, a agência também encaminhou aos funcionários um manual com orientações de como trabalhar em casa. Na entrevista a seguir, Marcelo Reis, que além de coCEO também é CCO da Leo Burnett, fala sobre o andamento do trabalho, os impactos na pandemia nos negócios e a importância da criatividade para gerar soluções neste momento de crise.
M&M – Qual é o maior desafio do trabalho remoto?
Marcelo Reis – Estarmos remotos exige de nós mais disciplina e que todos tenhamos um cuidado especial com a administração do tempo: estar sempre online não significa ser produtivo, mas estamos nos adequando bem às nossas entregas e à manutenção dos processos. Qualquer mudança no trabalho exige um tempo de adaptação. O importante é ter um canal aberto para sanar todas as dúvidas. É vital deixar as pessoas seguras e garantir ao máximo a estabilidade emocional do time.
M&M – O trabalho final fica prejudicado com essa mudança de fluxo?
Marcelo Reis – Graças à tecnologia, estar longe não significa estar sem contato. Integramos um grande grupo de comunicação e já fizemos esse exercício algumas vezes para desenvolver campanhas, posicionamentos e direcionamentos de marcas com os escritórios da Leo Burnett e empresas do Publicis Groupe pelo mundo, o que envolve tanto os criativos quanto todas as demais áreas, ou seja, nosso time está pronto para trabalhar assim, com eficiência.
M&M – Como os clientes estão reagindo aos impactos do novo coronavírus?
Marcelo Reis – O cenário é de incerteza para todo mundo. Assim como nós, os clientes também estão se adaptando, organizando suas equipes, repensando escalas, números, metas e ações a serem desenvolvidas. Isso não significa parar, mas redirecionar, se adequar. Algumas vão se retrair e outras vão inclusive ampliar sua frequência de mensagens, uma vez que as pessoas em casa estarão mais conectadas aos meios de comunicação e precisam de informação. São várias questões envolvidas, desde técnicas, como as produções suspensas, táticas, como oportunidades educacionais e de auxílio às pessoas, e econômicas, como o abastecimento básico do consumidor.
M&M – O que deve servir como guia para o plano de comunicação dos clientes neste contexto tão complexos?
Marcelo Reis – Neste momento, é importante compreender a mudança de hábitos e consumo da população. A Leo Burnett, inclusive, acabou de encomendar um estudo ao instituto de pesquisa MindMiners que mostra, entre outras coisas, que: os brasileiros já ampliaram consideravelmente a frequência do seu consumo por informação; houve um aumento significativo de compras por serviços de e-commerce e delivery; já existe maior procura por produtos não perecíveis; ocorreram mudanças nos hábitos de higiene. Entender essas mudanças e as ações individuais que estão sendo tomadas pelas pessoas diante do coronavírus ajudam as marcas a atuarem de forma mais eficiente na difusão de conhecimento e mensagens. Acredito que muitas empresas estão pensando em sua reputação corporativa e em investir em campanhas que reforcem sua imagem institucional, seus propósitos e a responsabilidade social em relação a seus consumidores
M&M – Quais devem ser os impactos da pandemia em curto, médio e longo prazo?
Marcelo Reis – O surto do coronavírus já está impactando não somente o nosso mercado como a economia global. Economistas mundo afora estão debruçados em planilhas para projetar o crescimento do PIB neste ano. O grau de incerteza, sem precedentes, dificulta a mensuração dos efeitos a médio e longo prazo. Estamos trafegando na neblina, com pouca visibilidade. A melhor forma de defesa, inclusive econômica, é minimizar o contágio das pessoas. Com as medidas e restrições de circulação de pessoas, setores como os de entretenimento fora de casa, aviação, turismo e as atividades informais já estão sofrendo muito, o que acaba refletindo em todo o mercado.
M&M – Quais os aprendizados que a publicidade pode extrair deste momento?
Marcelo Reis – Estamos aprendendo que a saúde dos seres humanos é o que há de mais importante. A vida é mais importante do que tudo. Por isso, estamos confinados em detrimento do consumo, do crescimento, dos números, dos resultados, das metas. É péssimo, mas é o certo. E não existe outra opção ao que é certo. As CEOs, os presidentes, os líderes de todo o Brasil estão mostrando que colocam as pessoas em primeiro lugar: parando empresas, fábricas, oferecendo benefícios e estabilidade na medida do possível e do impossível. Estamos preocupados com nossos familiares, com os amigos, com os idosos, com os enfermos crônicos, com os profissionais de saúde, com os contaminados, com as pessoas que não têm acesso ao mínimo e estão mais expostas, e que no Brasil são milhões e milhões. Isso é a maior demonstração de amor. As marcas que vivem verdades humanas e compactuam com o amor vão atravessar melhor este período e ajudar mais pessoas.
M&M – Há algum aprendizado que pode ser benéfico para a criatividade?
Marcelo Reis – Uma das principais habilidades necessárias para enfrentar momentos de crise é a capacidade de encontrar soluções. E a criatividade é vital para manter o negócio funcionando. Em um momento como este, mesmo estando remotos, nos unimos mais. E a inovação acontece mais de forma coletiva do que individual. O importante é não deixar que o estresse e o desânimo trazidos pelo momento econômico joguem contra a imaginação. Temos que ter foco, pois vamos superar este momento com resiliência. Quando temos confiança na criatividade, no respeito ao próximo e no trabalho em equipe, as soluções mais acertadas são criadas.
Crédito da imagem de topo: DKosig/iStock
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