Prazos, demandas e reuniões: o que pressiona a rotina das agências?

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Comunicação

Prazos, demandas e reuniões: o que pressiona a rotina das agências?

Com manifesto, entidades do setor tentam incentivar clientes a encararem debate sobre demandas excessivas e definições de modelos de trabalho que preserve a saúde mental


13 de agosto de 2021 - 6h00

(Crédito: Reprodução)

No mercado publicitário, a lógica de “missão dada é missão cumprida” sempre foi, de certa forma, exaltada pelas empresas e profissionais do setor como um trunfo. Atender às demandas dos clientes da melhor forma, nem que isso exigisse virar as noites para realizar trabalhos e sacrificar períodos de descanso foi considerada uma obrigação natural para quem quisesse construir uma carreira no ambiente das agências. A pandemia da Covid-19, que desde o ano passado mudou a lógica de trabalho ao colocar equipes inteiras para atuar de forma remota acabaram, no entanto, trazendo novos limites para o que pode – ou não – ser considerado saudável no ambiente corporativo.

Pela primeira vez, entidades de agências de publicidade manifestaram-se publicamente para se queixar dos fluxos de trabalho desequilibrados na rotina dos profissionais da comunicação. Em carta divulgada na semana passada, a Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro), a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) e a Associação Brasileira de Agentes Digitais (Abradi) explicitaram seu descontentamento em relação às demandas excessivas por parte dos clientes. A decisão de atuar em conjunto perante à causa aconteceu pela observação de que as reclamações sobre prazos curtos, pedidos com pouco tempo de execução e demandas fora do horário tradicional de trabalho não eram questões que vinham acontecendo em uma ou outra agência, mas sim um problema endêmico da categoria.

A pandemia acabou exigindo um esforço adicional de todos os segmentos e, na publicidade, não foi diferente. O problema foi que essa pressão sob as demandas perdura até hoje e os pedidos de trabalho não só aumentaram muito, como passaram a ser feitos da noite para o dia, em prazos exíguos e até inviáveis – e, em alguns casos, em altas horas na noite de sexta-feira para entrega na segunda pela manhã, como relata Daniel Queiroz, presidente da Fenapro.

Outros exemplos relatados por ele certamente são fáceis de serem identificados por quem está vivendo a rotina do trabalho remoto: número de reuniões intensificado, muitas vezes sem intervalo entre uma e outra, dificultando a troca de informações entre as equipes e impactando a disposição física e mental dos colaboradores. “Até existes questões que são mais internas ou individuais, mas é comum observar que os processos foram atropelados. As vantagens das reuniões online vieram associadas a um contato excessivo, muitas vezes exigindo a participação de mais pessoas em reuniões que se tornaram mais numerosas a ponto de reduzir o tempo produtivo, de fato”, coloca Queiroz. A isso, somam-se os prazos para a conclusão dos trabalhos cada vez mais curtos e o nível de ansiedade mais intenso. “Logicamente isso tudo se potencializa com o cenário de tensão que todos ainda estão vivendo em função das questões externas e comuns a todos, inclusive de ordem pessoal, que termina se somando a este contexto. Mas, naquilo que é possível atuar e ajustar, é necessário que se encontrem as soluções”, pontua.

Expor essas queixar em âmbito coletivo é, na visão das entidades, uma forma de convidar os clientes e todo o mercado a refletirem a respeito dessas questões. O presidente da Fenapro destaca, no entanto, que o problema destacado pelas entidades não está na alta demanda de trabalho. A grande questão, diz ele, é na forma como ela chega, como se processa e como os profissionais podem se posicionar para que o cotidiano fique mais equilibrado, sobretudo nesse contexto de trabalho online, onde os limites de horário, muitas vezes, deixaram de ser respeitados.

Por enquanto, Fenapro, Abradi e Abap não travaram um diálogo direto com os anunciantes ou com a entidade que os representa (a ABA) mas a ideia é que esse manifesto abra as portas para discussões particulares entre agências e seus parceiros. O manifesto, segundo o presidente da Fenapro, é o start para um debate maior envolvendo todos os interessados. Os próximos passos das entidades será inserir especialistas que possam ajudar no contexto das soluções, que são desde o foco imediato na ampliação dos cuidados da saúde mental, mas também passando por consultorias de gestão que auxiliem a azeitar essa relação mais equilibrada na definição e formalização contratuais, bem como na revisão de processos que tornem o fluxo e o ambiente de trabalho mais saudável para todos.

Daniel Queiroz vê esse movimento como uma oportunidade para discutir situações e problemas que vão além das situações trazidas pela pandemia. “O mercado publicitário, de forma geral, se acostumou com uma certa informalidade” contratual no atendimento das demandas. E esse estilo empresarial tornou-se muito perigoso à medida que os formatos de remuneração e o tipo de trabalho foram mudando”, alerta. Apesar de não acreditar em um único modelo de relação de trabalho entre agência e cliente, o presidente da Fenapro destaca a importância de que os acordos contratuais sejam claros e, principalmente, cumpridos. “Não estamos reclamando da quantidade de trabalho. A questão é a sustentabilidade econômica da relação Demanda/Entrega versus Contrato/Retorno. Se isto não for mais equilibrado, a pandemia vai passar e os problemas irão permanecer”, avisa.

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