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Visibilidade trans: ativista envia 14 cartas a 14 lideranças da indústria

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Comunicação

Visibilidade trans: ativista envia 14 cartas a 14 lideranças da indústria

Ariel Nobre, secretário-executivo do Observatório da Diversidade na Propaganda, quer sensibilizar CEOs de agências e CMOs para a causa


27 de janeiro de 2023 - 15h38

Ariel Nobre segura uma das cartas que escreveu para 14 lideranças de agências, anunciantes, plataformas e veículos (Crédito:Divulgação)

O Brasil é o país que, pelo 14º ano consecutivo, mais mata pessoas trans no mundo, de acordo com dados da ONG Transgender Europe (TGEU). Tão logo foi impactado por esse dado, o ativista e artista Ariel Nobre decidiu fazer algo para chamar a atenção das lideranças da indústria para a causa.

Além jogar um alerta sobre os assassinatos da comunidade, Ariel – um dos fundadores do Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), onde atualmente responde como secretário-executivo – deseja contribuir para a inclusão desse grupo de pessoas no mercado de trabalho, já que somente 13,9% de mulheres trans e 59% de homens trans possuem empregos formais.

Para sensibilizar CEOs de agências, CMOs e C-levels de plataformas e veículos, Ariel escolheu o caminho pelo qual melhor se expressa: a escrita. Por isso, redigiu de próprio punho cartas (leia na íntegra abaixo) para 14 lideranças nas quais se apresenta como homem trans, expõe dados e convida os executivos a agir pensando não somente na contratação de pessoas trans, mas sobretudo na ocupação dessas pessoas em cargos de liderança em um futuro próximo.

Os destinatários escolhidos por Ariel foram: Hugo Rodrigues, chairman do McCann Worldgroup; Eduardo Lorenzi, CEO da Publicis Brasil; Fernando Taralli, CEO da VMLY&R; Filipe Bartholomeu, CEO da AlmapBBDO; Edu Simon, CEO da Galeria; Thais Hagge, vice-presidente de marketing da Unilever; Daniel Wakswaser, CMO da Ambev; Tatiana Ponce, CMO da Natura; Eduardo Tracanella, diretor de marketing do Itaú; Aline Moda, diretora de agency business do Google; Samantha Almeida, diretora de conteúdo e criação Globo; Gabriela Comazzetto, head of global business solutions do Tik Tok; Laura Chiavone, head of agency da Meta; e Milton Beck, diretor geral do Linkedin para América Latina.

“Acredito que a publicidade é a indústria que mais incide sobre a cultura. Uma boa comunicação molda a cultura. Então quis fazer uma convocatória para as lideranças se envergonharem desta situação, para que o País não seja pela 15ª vez o que mais mata pessoas trans. Estou seguro de que a propaganda brasileira possa ser protagonista de uma transição cultural necessária”, afirma.

Esforço coletivo

Para conseguir chegar até cada uma dessas pessoas, Ariel contou com a parceria de diversos profissionais do mercado. Além das cartas, o projeto “14 cartas para 14 líderes”, conta com produção audiovisual da Dogs Can Fly, direção executiva de Thiago Balma, direção de cena de Pedro Furtado, produção de Renato Angelo, com apoio de Cia do TP, Filmes do Bem e Fabrika Locações, produção de áudio da Pingado e fotos de Sérgio Carvalho.

A estratégia de comunicação foi conduzida por Jef Martins, diretor de comunicação e impacto da Leo Burnett TM e Silvana Inácio, CEO da SI Comunicação. Jonas Furtado, diretor de conteúdo do Meio & Mensagem, contribuiu com a interlocução.

Leia a carta que foi entregue às lideranças:

Olá,

Sou Ariel, ativista e um dos líderes do Observatório da Diversidade na Propaganda.

Sou homem trans, isso quer dizer que quando nasci minha família e toda a sociedade me trataram como mulher, fui criado como mulher.

Mas em 2014, com 27 anos, me declarei trans. Pedi para que as pessoas me chamassem de Ariel, no masculino.

Antes disso, me procurava nas propagandas, nos filmes e nas revistas.

Tudo era silêncio ou algo que eu não queria ser: pobre, feio ou violentado.

Precisei de muita coragem para olhar dentro de mim e me declarar como realmente sou.

A verdade é que o Brasil não gosta de trans.

Te escrevo para informar que segundo a ONG TGEU o Brasil é o país com maior número de assassinatos trans pelo 14º ano consecutivo.

Me sinto injustiçado quando dizem que pessoas como eu “destroem” famílias.

O que eu mais quero é ser e ter família.

Por conta disso, empresas em pleno 2023 se dizem “despreparadas” para contratação de profissionais trans. Por mais que seja verdade, nossa comunidade não pode mais esperar.

Apenas 13,9% de mulheres trans e 59% de homens trans possuem empregos formais.

Me vejo lutando pela vida em uma cultura que insiste em me condenar à morte.

A perspectiva de vida da comunidade trans é de 35 anos no Brasil (IBGE).

Apesar de tudo, acredito que sou digno de vida, trabalho e amor.

Nós podemos (e devemos) mudar esse cenário de morte.

Inclusive, programas de contratação de trainees e estagiáries são importantes, porém insuficientes.

O Brasil precisa de líderes trans.

Não existem profissionais trans ocupando C-level na publicidade brasileira.

Nós sabemos da desigualdade vertiginosa de oportunidades entre cis e trans.

Mas só você conhece os reais desafios da sua empresa para fazer isso acontecer.

Pense sobre eles e saiba: você pode contar comigo e com o Observatório para superar cada um deles o quanto antes.

E mais, a nossa cooperação é crucial para que o Brasil não repita um recorde tão lamentável.

Se investimos hoje em desenvolvimento profissional e pessoal para nossa comunidade, teremos amanhã os líderes que precisamos.

Não é regalia, é sobre o direito de ser quem se é e ainda dar um jeito de sonhar.

É sobre o Brasil bater outros recordes e a publicidade brasileira ser protagonista de uma transição cultural que valorize nossas experiências.

Lembrando, a diversidade só é possível em contexto democrático.

Com esperança e coração aberto, ARIEL NOBRE.

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