Uma pausa para falar de luto no trabalho

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Uma pausa para falar de luto no trabalho

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4 de maio de 2021 - 8h00

Inaiara Florêncio*(Crédito: Divulgação)

Eu sei que falar de morte, no geral, é algo que as pessoas costumam evitar. Mas com a pandemia, o que estamos vivendo é um luto coletivo. Perdi as contas de quantas mensagens de morte vi passar nos grupos, o Facebook virou um obituário e enquanto líder essa questão tem sido escancarada dia a dia.

Diante os números alarmantes que temos acompanhado, imagino que esse sentimento não passe apenas por aqui. Esse tem sido um momento de mais perguntas do que respostas e por acreditar numa gestão híbrida que tenha foco em negócios, mas no desenvolvimento humano e individual, quis trazer essa pauta para mesa, ou no caso, para coluna.

Faço isso, pois viver frequentemente essa situação tem me despertado reflexões mais profundas. As questões que tenho me deparado caminham para um horizonte de como podemos tratar esses fatos, mas não tenho a pretensão de que possam ser plenamente respondidas.

Lidar com uma situação assim é difícil e esse sentimento tem um contraste ainda maior nas agências e empresas, que no geral são espaços focados na criatividade, produção, crescimento, produtividade e entregas. E não na vulnerabilidade, perdas e desconhecido, tão presentes no luto. E esse aqui é o sinal amarelo para a saúde mental.

Há diversas empresas focadas na saúde mental dos seus colaboradores e investindo em programas de bem-estar e recursos humanos. Mas o primeiro passo, segundo especialistas, é abordar a pauta (e não fingir que ela não existe) e dar abertura para que o processo seja vivido pelas pessoas, incluindo as lideranças, para saber acolher o luto do outro.

Isso passa por usar as palavras certas na hora de consolar, mas também saber escutar e ser flexível quanto ao momento de voltar ao trabalho, sem cobrança para o colaborador enlutado.

Tem gente que prefere voltar a trabalhar, para ter contato com a vida normal antes da morte. Outras pessoas podem preferir se recolher. Essa é uma decisão que precisa respeitar a individualidade.

Mais do que nunca, enquanto líderes e humanes, é o momento de extrapolar a função técnica e ter um olhar genuíno, sem pensar apenas em resultados.

A pandemia aguçou a percepção do quão as relações são preciosas e necessitam ser cuidadas. Precisamos criar esses espaços de diálogos para expressar as vulnerabilidades. E garantir que o profissional não tenha medo de que a fragilidade do momento seja interpretada como fraqueza e incapacidade de continuar produzindo.

São “novos tempos”. Abrir esses espaços de diálogo pode nos ensinar a caminhar nestes tortuosos momentos. Afinal, lideranças transformadoras geram equipes em crescimento contínuo. E já que agora não podemos abraçar e estar juntes fisicamente, mais do que nunca é importante saber acolher. É um desafio complexo, mas pode ser transformador.

*Inaiara Florêncio é Partner & creative director da Adventures

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