Para ler ouvindo Changes, do Bowie

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Opinião

Para ler ouvindo Changes, do Bowie

Mudar é difícil, todos nos sentimos mais seguros com o que conhecemos, mas não dá para fazer coisas novas sem se desfazer do que supostamente não serve mais


22 de abril de 2019 - 14h18

 

(crédito: Pixabay)

A gente sofre para mudar. E sofre desde pequenininho. Minha filha era capaz de assistir Carros três vezes por dia. Mudar de filme foi difícil, e quando ela mudou, repetiu o mesmo Backyardigans por mais um ano. A história do Quincas, que eu contava antes dela dormir, era sagrada. E ai de mim se mudasse alguma coisa na história.

Crianças se sentem mais seguras com o que conhecem. E quem não se sente? Isso talvez explique por que é tão difícil mudar. Principalmente quando mudar significa que, ao mudar os hábitos, a gente também deve se desfazer de coisas que supostamente não servem mais para nada. Por exemplo, meus CDs. São muitos. Milhares. Como podem não servir mais para nada? Eu demorei tanto para juntar, paguei tão caro, ouvi mil vezes em momentos tão legais e agora tenho todos eles no Spotify (por menos que 1 CD por mês) e não tenho mais nenhum aparelho de CD em casa. E agora? O que eu faço com os meus CDs? O que vocês fizeram com os CDs de vocês? E com os miniCDs? E o que fizeram com os K7s? E com os dicionários de francês, inglês e espanhol? E com os livros?

Gente, até anteontem casais, ao se separar, brigavam exatamente por essas coisas! Até carro, que sempre significou liberdade, hoje significa exatamente o contrário para a garotada que quer beber à vontade e não pagar estacionamento.

Outro dia um amigo me ligou oferecendo os CDs dele. Eu super entendi. Ele queria mudar para o “menos é mais” e ainda ficar sem a culpa de mandar embora o White Album, dos Beatles, o Sticky Fingers, dos Rolling Stones, ou o Bleach, do Nirvana. Nick Hornby jamais o perdoaria, mas, àquela altura, os livros do Nick também já deveriam ter sido dispensados para outro lar.

É, se desfazer de coisas é duro, porque significa que você realmente mudou de hábito. Talvez isso explique uma parte do FoMO (fear of missing out), aquela sensação de que, mesmo fazendo mil coisas, tem mil coisas que ficaram faltando. É que não dá para fazer coisas novas sem deixar de fazer coisas antigas (o celular vai tentar te provar o contrário, mas o dia, afinal, ainda tem 24 horas).

O fato é que, provavelmente por infantilidade, ainda guardo em casa quatro celulares antigos, três computadores sem carregador, DVDs e até algumas cadernetas de telefone eletrônicas sem bateria. E querem que eu junte a eles minha TV, minha assistente, minhas chaves, meu controle remoto e até minha carteira.

Além disso, vou confessar mais uma coisa: já tive Orkut, já tive Hotmail, já tive ICQ. A uma certa altura, deixei de existir em todos eles, mas me angustio até hoje sem saber quantas fotos e mensagens perdi junto com as senhas. O que me conforta é pensar que, quando eu morrer, quem sabe posso ir pro céu, onde finalmente vou encontrar tudo de volta bem ali, na nuvem.

*Crédito da foto no topo: Pixabay

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